Cinza, Água e Fraternidade (por Antônio
Samarone)
Como havia prometido ao Seu
Celestino, fui à missa na Catedral Metropolitana de Aracaju, para a imposição das
cinza (Tu és pó, e ao pó retornarás).
Duas boas surpresas: o Sermão do
padre Peixoto e o tema da Campanha da Fraternidade.
O padre Peixoto, num sermão leve
e erudito, desmontou a teologia do sofrimento. Somos tridentinos (Eu e
Celestino), e o padre Peixoto segue a orientação do Concilio Vaticano II.
Me senti na Misericórdia da Bahia,
no ano de 1638, ouvindo o Padre Antônio Vieira, pregando o Sermão da segunda quarta-feira
da Quaresma. Ninguém precisa se sebastianista para admirar o Sermão do Padre
Vieira. O padre Peixoto foi profundo, sem ser professoral. Com uma sábia
humildade, chamou a atenção para que a simbologia das cinzas, se completa com a
simbologia das águas, da quinta-feira santa.
Nunca tinha enxergado isso. Não
basta o reconhecimento de que somos pó, é preciso a conversão, é preciso amar o
outro (a parte mais difícil), e lembrou a profundidade da simbologia da água. Ele
referiu-se ao lava pé da quinta-feira santa. Uma pessoa ajoelha-se, e lava os
pés de doze outras, que simbolicamente representam a comunidade. Não basta
sentir-se um nada (cinzas); é preciso servir o próximo. A ideia central é que a
quaresma não é um período de sofrimentos e penitências, mas uma alegre caminhada
para a Pascoa. Nesse ponto, eu fico com Trento.
A segunda boa surpresa, foi o
tema da Campanha da Fraternidade: “Serás libertado pelo direito e pela justiça”
– Fraternidade e Políticas Pública. Nada mais oportuno e urgente. Passamos por
um ataque frontal do neoliberalismo. A obsessão do estado mínimo. A redução dos
direitos sociais é a prioridade desse Governo. Cortes e mais cortes, enxugamentos
e restrições. A narrativa é que o mercado resolve as desigualdades sociais. O
capital financeiro está com as garras afiadas. Deus nos proteja!
Esse caminho aprofundará as
desigualdades, com as suas consequências. Parabéns a igreja católica, num gesto
de profundo conhecimento da realidade brasileira, aponta para o seu ponto nevrálgico:
não a perda de direitos sociais, não ao aprofundamento das desigualdades.
“Serás libertado pelo direito e
pela justiça”.
Antônio Samarone.
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