Aracaju, um inferno para os
pedestres.
Para enfrentar a ameaça da
obesidade, resolvi andar. Ir a pé, flanar. Pensei: ao invés de longas e
tediosas caminhadas matinais, vou começar ir andando para os lugares mais
perto. A adversidade me esperava: as estreitas calçadas do Aracaju estão ocupadas.
O passeio público está cheio de obstáculos físicos, desnivelado, com piso irregular
e liso. E o mais agressivo, tomado de veículos.
Lembrei-me de uma crônica de Carlos
Drummond de Andrade, publicada no Jornal do Brasil em 1982: “Vamos trabalhar
pela afirmação (ou reafirmação) da existência do pedestre, a mais antiga
qualificação humana do mundo. Da existência e dos direitos que lhe são próprios,
tão simples, tão naturais, e que se condensam num só: o direito de andar, de ir
e vir, previsto em todas as constituições... o mais humilde e o mais desprezado
de todos os direitos do homem. Com licença: queremos passar.”
Em Aracaju as calçadas têm donos.
Cada proprietário de imóvel pensa e age como se as calçadas lhes pertencessem. Ouvi
de um velho amigo: “você queria o que? A cidade é o paraíso da especulação imobiliária,
os empresários da construção civil mandam e desmandam. A cidade tem donos”.
Retruquei, não é bem assim, deixe
de exageros.
Virar pedestre em Aracaju não é
fácil, mas não desisto. Nosso índice de caminhabilidade, que permite avaliar as
ruas, sob ótica do pedestre, é um dos piores. Usando uma palavra da moda, vou
ser resiliente! Nada vai me impedir de ir a pé. Peço o apoio da Associação
Sergipana de Peregrinos, dos ambientalistas, dos cidadãos, das pessoas de boa
fé e do povo em geral.
E do poder público, esperar o
que? Sinceramente, nada, ou quase nada...
As cidades já se disseram modernas,
sustentáveis, seguras, saudáveis, etc. Na propaganda oficial, Aracaju promete
virar inteligente, “muy inteligente” ...
Antonio Samarone.
Nenhum comentário:
Postar um comentário