Aracaju, em 1960... (por Antonio Samarone)
“Aracaju não é cidade
Nem também povoação
Tem casinhas de palhas
Forradinhas de melão”
(citada por José Calazans)
A população de Aracaju em 1960 era de 112.516 mil habitantes. A cidade possuía
22.541 edificações, sendo 21.171 residências, 960 comércios, 78 indústrias, 123
repartições públicas, 142 escolas e 67 destinadas a outros fins.
Chama a atenção a precariedade dessas edificações: 7.662 (31,7%) eram
casas de taipas e 1.135 eram barracos (casas toscas, cobertas com palhas de
coqueiros ou latas velhas). Existiam 540 vilas de quartos, perfazendo um total
de 3.435 quartos (habitações coletivas de um cômodo). Os quartos de vilas eram
higienicamente piores que os barracos devido ao confinamento. 18,3% das residências
possuíam piso de chão batido.
A rede geral de esgoto cobria apenas 2.255 (10%) residências. Como agravante,
entre as residências não cobertas pelo esgoto, 9.870 não possuíam fossa. Na prática,
10 toneladas de fezes eram jogadas nas ruas e quintais. 50% população não recebia
água encanada e 33,8% não tem luz elétrica em casa, viviam à luz do candeeiro.
Em 7.817 residências não existem coleta de lixo. O balneário de Atalaia
só recebe coleta de lixo no período de veraneio. Na cidade foram identificados
316 chiqueiros de porcos e 54 estábulos para bovinos. Vários matadouros para suínos,
ovinos e caprinos.
Espantado com a pobreza de Aracaju em 1960, lembrei-me de um poema de
Gregório de Matos:
Sergipe del Rey
Três dúzias de casebres
remendados,
Seis becos, de mentrastos
entupidos,
Quinze soldados, rotos e
despidos,
Doze porcos na praça bem-criados.
Dois conventos, seis frades,
três letrados,
Um juiz, com bigodes, sem
ouvidos,
Três presos de piolhos
carcomidos,
Por comer dois meirinhos
esfaimados.
As damas com sapatos de baeta,
Palmilha de tamanca como frade,
Saia de chita, cinta de
raqueta.
O feijão, que só faz
ventosidade
Farinha de pipoca, pão que
greta,
De Sergipe dEl-Rei esta é a
cidade.
A fonte dos dados é um criterioso estudo do DENERu (Departamento
Nacional de Endemias Rurais), apresentados pelo Dr. Alexandre Menezes.
Antonio Samarone
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