A febre do novo. (Por Antonio Samarone)
Li os programas e assisti ao
debate entre os candidatos ao governo de Sergipe. Estou convencido: todos
querem mudar tudo e passar Sergipe a limpo. As perguntas e as respostas são as
mesmas, independente da coloração ideológica. Formou-se um grande consenso. As
ideologias foram temporariamente sepultadas. Como dizia o Velho: “Tudo o que
era sólido se desmanchou no ar”.
Jornalistas e plateia puderam
perguntar aos candidatos. Quem esperava novidades quebrou a cara, o mesmo senso
comum, as mesmas obviedades. A sensação é que os que nos botaram nessa
enrascada não estão mais por aqui. Uma pessoa que há pouco era Secretário de
Segurança se apresenta detonando a segurança pública, e vai fundo, diz que sabe
como resolver.
Tem de tudo. De gente que está na
política há 30 anos e que já ocupou todos os cargos, a quem nunca teve a menor
experiência. O que eles têm em comum? A crença que são o novo, e que a história
vai recomeçar com eles. Os diagnósticos sobre a realidade são peremptórios:
estamos diante do caos, nada funciona... Alguns insistem que estão na disputa política,
mas que não são políticos. Outros assume que são políticos, mas tão novos e diferenciados,
quem nem parecem políticos.
Tem candidato que acredita
possuir saídas técnicas para todos os problemas. Não se intimida. Está
convencido que vai resolver. O desemprego, as drogas, o sarampo, a evasão
escolar, estão com os dias contados. Chegou a dizer que vai criar 10 mil
empregos com a reciclagem do lixo, e parecia acreditar.
O mercado das ideias está
desabastecido. Qualquer que seja o problema, saúde, segurança, desemprego, as
saídas são parecidas. A profunda diversidade entre os candidatos é unificada nos
projetos e nas ideias. Todos enxergam a mesma saída. Nada que um defenda que o
outro não possa defender. Claro, com exceção de algumas excentricidades.
Todos são novos, ninguém defende o
que existe. Nem o candidato que o seu grupo está no governo há 12 anos defende
o governo. O programa de Belivaldo faz duras críticas ao governo Belivaldo. É
como se dissesse: me suportem até 31 de janeiro, que a partir de 2019 começa um
novo mundo, cheio de mudanças e de soluções. E o mais grave, Belivaldo acredita
que ele próprio será outro em janeiro. O réveillon será um rito de passagem.
Mas as eleições estão chegando e
precisamos votar. Cada um faça a sua escolha. Eu já decidi: não voto em candidatos
envolvidos em ladroagem, nem em quem já teve oportunidades de mudar e não
mudou, nem em salvadores da pátria, nem em quem acredita que só ele é puro, nem
em quem pensa que tem a solução para tudo. Tenho receio dos “não políticos”, me
cheira a oportunismo ou ingenuidade.
Estou convencido, pode demorar,
mas vamos sair do atoleiro.
Antonio Samarone.
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