Oftalmologia em Sergipe
Até as primeiras décadas do século XIX a
oftalmologia era apanágio dos cirurgiões aprovados, que realizavam operações de
catarata, fístula lacrimal e enucleação do globo ocular. Os autores antigos responsabilizavam a
sífilis, as febres intermitentes e o reumatismo pelo desencadeamento de muitas
lesões oculares. Algumas afecções importantes da oftalmologia: conjuntivite,
terçol, sapiranga, oftalmia purulenta ou tracoma.
A cátedra de oftalmologia somente foi
instalada nas faculdades brasileiras em 1873. Entretanto, muito antes, médicos
conhecedores da especialidade já a praticavam na Corte. O mais afamado deles,
em meados do século XIX, foi Charles Joseph Frederic Carron du Villard (1800 –
1860), italiano, natural da Savóia, e naturalizado francês. Morreu no Rio de
Janeiro, para onde viera em 1857. Dirigiu o consultório de olhos da Santa Casa
de Misericórdia, onde teve como assistente o médico francês Louis-François
Bonjean (1808 – 1892). Foram membros da Academia Imperial de Medicina.
Carron du Villard foi um verdadeiro
chefe de escola na Santa Casa. Seu discípulo mais importante foi o médico
paraense Manuel da Gama Lobo. Sucedeu Carron na direção do serviço na Santa
Casa. Foi o primeiro a usar o oftalmoscópio, inventado pelo alemão Helmholtz em
1851, no Brasil. Gama Lobo publicou vários trabalhos sobre a oftalmologia.
Outros oftalmologistas renomados que
exerceram a profissão no Rio de Janeiro foi Hilário Soares de Gouveia, o
primeiro a ocupar a cátedra de doenças dos olhos e Fernando Pires Ferreira,
piauiense, formado em Paris, que vai ocupar o serviço da Santa Casa. Pires Ferreira teve como principais
discípulos o oftalmologista Rego Lopes e o sergipano José Antonio Abreu Fialho.
Outros importantes, o cearense José Cardoso de Moura Brasil e outro sergipano
José Lourenço de Magalhães.
A igreja católica considerou Santa Luzia
a padroeira dos portadores das afecções oculares. Abusava-se de colírios e
remédios caseiros: suco de cansanção (Jatropha urens). Sumo frescos de brotos
de imbaúba (Crecópia). Esterco de jacaré e água boricada. Em 1854 fundou-se no
Rio de Janeiro o Imperial Instituto dos Meninos Cegos.
Na história do ensino médico no Brasil a
cadeira de “oftalmologia” clínica foi uma primeira disciplina especializada a
ser instalada. Na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro a cadeira foi criada
em 1873, e teve como seu primeiro professor o eminente cientista Hilário Soares
de Gouveia. O Doutor Hilário, por divergências políticas com o recém instalado
regime republicano, ensinou somente até o ano de 1895. Para ocupar essa vaga,
submete-se e é aprovado em concurso público no ano de 1898, o médico sergipano
José Antonio de Abreu Fialho, que se estabelece como lente catedrático de
oftalmologia a partir de 1906, indo desempenhar um papel marcante na
consolidação da especialidade no Brasil.
O Dr. Jose Antonio de Abreu Fialho
natural de Aracaju, filho de Tito de Abreu Fialho, Delegado Fiscal da União, e
D. Maria José de Abreu Fialho, nascido a 20 de janeiro de 1874. Bacharel em
Ciências e Letras pelo Imperial Colégio Pedro II, matricula-se na Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro, recebendo o grau de doutor em 16 de janeiro de
1897, defendendo a tese “A oculística perante a patologia: perturbações
oculares nas moléstias cerebrais”. Fez
especialização em Viena na clínica Fuchs.
O seu filho, Sílvio Abreu Fialho,
escreveu uma biografia do Pai, chamada “Páginas Viradas”. Durante a sucessão de
Gracco Cardoso no Governo de Sergipe, o Presidente Arthur Bernardes procura um
sergipano ilustre, e não envolvido com as disputas políticas locais. A
personalidade consultada foi o Dr. Fialho, que de pronto não aceitou, alegando
não conhecer Sergipe, e não querer deixar as atividades clínicas. Com a
rejeição de Fialho, o escolhido foi o diplomata Ciro Franklin de Azevedo.
A SBO - SOCIEDADE BRASILEIRA DE
OFTALMOLOGIA - foi fundada em 6 de setembro de l922, por JOSÉ ANTONIO ABREU
FIALHO, catedrático de Oftalmologia da Faculdade de Medicina e Farmácia do Rio
de Janeiro e Diretor da Faculdade por mais de 10 anos.
A extraordinária contribuição de FIALHO,
ao desenvolvimento da oftalmologia brasileira, tem seguidores desde então, na
liderança da especialidade e qualquer tentativa de citar nomes, correrá o risco
de ficar incompleta, gerando injustiça. O Dr. Abreu Fialho faleceu a 17 de
março de 1940.
Antonio Samarone.
Nenhum comentário:
Postar um comentário