As mulheres em
Itabaiana. (por Antônio Samarone)
Até a segunda
metade do século XX, Itabaiana foi uma sociedade centralizada na mulher, uma
sociedade matricêntrica. As mulheres camponesas lutavam pelo o mesmo status
econômico e social dos homens. Em muitos casos, eram as líderes familiares.
Itabaiana era
uma sociedade matrilinear, obedecia a um sistema de parentesco, de filiação,
através do qual somente a ascendência (família) da mãe era tida em consideração
para a transmissão do nome, dos benefícios ou do status de se fazer parte de um
clã.
Numa tradição
local, as pessoas eram nominadas com os nomes dos ascendentes. Por exemplo: João
de Mané de Dona, Zé de João de Ana, Júlio de João de Sá Joaninha, e tantos
outros. Nesses nomes compostos, que as vezes remontavam a várias gerações, a referência
final sempre era feminina.
Mesmo com leis
machistas: o Código Civil de 1916 considerava a mulher como um ser inferior, “relativamente
incapaz”, necessitando de orientação e aprovação masculina. Um exemplo: o Art.
178 previa, que em dez dias, contados do casamento, o marido poderia anular o
matrimonio contraído com a mulher já deflorada. O Art. 233, definia o marido como
o chefe da sociedade conjugal.
Sei os limites
dessa tese. Ao mesmo tempo que as mulheres exerciam papeis importantes na
sociedade camponesa, a brutalidade e os privilégios dos homens imperavam. As
mulheres lutavam e resistiam, bem antes da invenção do feminismo.
Entretanto, a
divisão dominante da família onde o pai era o mantenedor, protetor, guerreiro
que caçava e guardava a prole, e a mãe gerava, acolhia, aquecia e alimentava a
ninhada, não era a famílias dominante em Itabaiana, até primeira metade do
século XX.
Itabaiana era
uma sociedade matricêntrica. As mulheres não estavam em desvantagens só por
serem mulheres, o poder era disputado entre os gêneros, e as mães muitas vezes estavam
no centro da cultura.
Segundo Malinowski,
nas sociedades que usavam o sistema matrilinear de parentesco, as mulheres possuíam
um papel importante na vida da comunidade, liderando-a em muitas áreas.
Historicamente, o patriarcado
é mais jovem. A sociedade humana foi primeiro matriarcal – ou pelo menos
“centrada nas mulheres” e adorava deusas – da era Paleolítica, 1.5 a 2 milhões
de anos atrás, até por volta de 3000 a.C.
Friedrich
Engels, em sua obra "Origem da família, da propriedade privada e do
estado", de 1884, afirma que o controle da propriedade privada foi quem permitiu
a substituição do matriarcado pelo patriarcado nas sociedades primitivas.
Trocamos o
matrimônio pelo patrimônio.
Itabaiana
aguarda os pesquisadores...
Antônio Samarone.
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