O Dr. Simplício.
De família remediada, Simplício
sempre foi um bom aluno. Bem-comportado, destoando da molecada, em Itabaiana.
Não sendo da estreita elite local, compensava estudando. Sempre pronto e
perfumado, Simplício era diferente: tímido, falava pouco, ouvia os Beatles,
usava calça lee original, colecionava selos e ouvia a Voz da América. Nunca se
meteu em política. Isso causava inveja e despeito, gerando dificuldades de
convivência para o inteligente Simplício, na vida rude da Aldeia.
Simplício virou o Dr. Simplício, um
médico bem-sucedido. Ganhou dinheiro, conheceu o mundo, aprendeu os segredos
dos vinhos, refinou os hábitos e as vestes. Dentro do possível, virou um
fidalgo. Contudo, o Dr. Simplício permanecia discreto, circulando apenas em seu
mundo privado. Sempre sensível e educado, atencioso, incapaz da mínima ofensa
ao semelhante. Continuava distante da política.
Com essa irracional onda de ódios
e intolerâncias, o Dr. Simplício entrou em ação, assumiu uma militância
política inesperada. Bateu panelas, vestiu a camisa da seleção e danou-se a
escrever para as redes sociais. Até livro já escreveu. Umberto Eco, num exagero,
disse que “As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que,
anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano
à coletividade.” Não é o caso do Dr. Simplício, ele não é um imbecil, pelo
contrário.
O Dr. Simplício vestiu a camisa
do fascismo. De uma hora para outra, passou a manifestar ódio aos pobres, as
cotas, aos nordestinos, a diversidade, aos negros, a inclusão social, a
fraternidade, a tolerância, no fundo, passou a odiar o Brasil. O Dr. Simplício
sonha em ir embora, ser americano, europeu, até português serve. Ser do
primeiro mundo. Os amigos de infância, nunca suspeitaram que no coração daquela
alma bondosa, habitasse um monstro. Os textos são rebuscados, com uma erudição
de mercado, um certo humor, mas a mensagem central é de ódio, intolerância e
violência. O Dr. Simplício revelou-se um preconceituoso. No dia sete de abril, o
Dr. Simplício comemorou com um vinho Petrus tinto, de 1945, brindou com os
amigos e deu vivas a uma nova intervenção militar, para salvar o Brasil.
Antônio Samarone.
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