sexta-feira, 6 de abril de 2018

GINÁSIO CHICO DO CANTAGALO



Ginásio poli desportivo Chico do Cantagalo.

Voltei hoje ao Bairro São Cristóvão, que na infância eu chamava de Cruzeiro. Bairro de gente pobre, negros e mulatos, paneleiros e sapateiros, celeiro do futebol em Itabaiana. Ali ficavam o Etelvino Mendonça, os campos do Cantagalo e o de Mané Barraca. O governo construiu no local um ginásio poli desportivo, imenso, confortável, digno do espirito esportivo do Itabaianense, e o batizou com o nome de Chico do Cantagalo. Justa homenagem.

Em Itabaiana o futebol de salão vem de longe, no final da década de 1950, já se disputava campeonatos na Praça da Feira. Depois, no campo do padre, ao lado da Igreja e, finalmente, no GLEI, criado pelo Dr. Mazze Lucas, e administrado por Chico do Cantagalo. Já tivemos até campeonatos de basquete. E hoje? Não sei informar...

No Cruzeiro existiam vários times de futebol, os melhores da cidade. O São Cristóvão e o Ideal foram várias vezes campeões; o Margem da Serra, o juvenil de Mané Barraca. São do Cruzeiro os craques Lima, Zé Luiz, Faete, Coringa, Dedé, Nado (o preto e o branco), Zé de Chico, Elísio, Augusto, Tonho de Preta, Zé de Vitinha, Divo, e mais um monte que eu esqueci.

Mudando a prosa.

Na visita ao Cruzeiro, fui procurar a casa de Seu Mané Barraca. Um negro alto, desportista, líder da comunidade, rezador de fama e quebrador de pedras. Foi ele, com um pequeno canivete aquecido, que debelou a minha primeira ulceração de Tunga penetrans, o “bicho-de-pé, pulga-de-areia, bicho-de-porco, tunga (para os índios). Uma parasitose encontrada pelos Jesuítas em sua chegada ao Brasil, descrita por Hans Staden, Gabriel Soares de Souza, Thevet e Lery. Uma parasitose histórica, decorrente da mais absoluta falta de higiene. O Frei Vicente do Salvador, em sua História do Brasil (1630), assim descreveu: “são uns bichinhos de feição de pulgas, que se metem nos dedos e solas dos pés de quem anda descalço. Quem sabe tirá-los inteiros sem lesão o faz com a ponta de uma faca, mas quem não sabe, rebenta-os e ficando a pele dentro, cria matéria.”

Só retirava a tunga quem sabia, tinha prática, não podia deixar os ovos, nem fragmentar o nódulo. Mané Barraca era um perito, preciso e rápido, e a gente tinha vergonha de reclamar se doesse. O tratamento clínico era demorado, com pomada de vaselina com DDT ou mel de fumo. A indicação era cirúrgica. Quem já teve bicho-de-pé não me deixa mentir, era uma coceira dos infernos. Seu Mané Barraca me curou.
Antônio Samarone.

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