Ginásio poli desportivo Chico do
Cantagalo.
Voltei hoje ao Bairro São Cristóvão,
que na infância eu chamava de Cruzeiro. Bairro de gente pobre, negros e
mulatos, paneleiros e sapateiros, celeiro do futebol em Itabaiana. Ali ficavam
o Etelvino Mendonça, os campos do Cantagalo e o de Mané Barraca. O governo
construiu no local um ginásio poli desportivo, imenso, confortável, digno do
espirito esportivo do Itabaianense, e o batizou com o nome de Chico do
Cantagalo. Justa homenagem.
Em Itabaiana o futebol de salão
vem de longe, no final da década de 1950, já se disputava campeonatos na Praça
da Feira. Depois, no campo do padre, ao lado da Igreja e, finalmente, no GLEI,
criado pelo Dr. Mazze Lucas, e administrado por Chico do Cantagalo. Já tivemos
até campeonatos de basquete. E hoje? Não sei informar...
No Cruzeiro existiam vários times
de futebol, os melhores da cidade. O São Cristóvão e o Ideal foram várias vezes
campeões; o Margem da Serra, o juvenil de Mané Barraca. São do Cruzeiro os
craques Lima, Zé Luiz, Faete, Coringa, Dedé, Nado (o preto e o branco), Zé de
Chico, Elísio, Augusto, Tonho de Preta, Zé de Vitinha, Divo, e mais um monte
que eu esqueci.
Mudando a prosa.
Na visita ao Cruzeiro, fui
procurar a casa de Seu Mané Barraca. Um negro alto, desportista, líder da
comunidade, rezador de fama e quebrador de pedras. Foi ele, com um pequeno
canivete aquecido, que debelou a minha primeira ulceração de Tunga penetrans, o
“bicho-de-pé, pulga-de-areia, bicho-de-porco, tunga (para os índios). Uma parasitose
encontrada pelos Jesuítas em sua chegada ao Brasil, descrita por Hans Staden,
Gabriel Soares de Souza, Thevet e Lery. Uma parasitose histórica, decorrente da
mais absoluta falta de higiene. O Frei Vicente do Salvador, em sua História do
Brasil (1630), assim descreveu: “são uns bichinhos de feição de pulgas, que se
metem nos dedos e solas dos pés de quem anda descalço. Quem sabe tirá-los
inteiros sem lesão o faz com a ponta de uma faca, mas quem não sabe, rebenta-os
e ficando a pele dentro, cria matéria.”
Só retirava a tunga quem sabia, tinha
prática, não podia deixar os ovos, nem fragmentar o nódulo. Mané Barraca era um
perito, preciso e rápido, e a gente tinha vergonha de reclamar se doesse. O
tratamento clínico era demorado, com pomada de vaselina com DDT ou mel de fumo.
A indicação era cirúrgica. Quem já teve bicho-de-pé não me deixa mentir, era
uma coceira dos infernos. Seu Mané Barraca me curou.
Antônio Samarone.
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