A SAÚDE como mercadoria.
A assistência à saúde tornou-se
uma atividade econômica das mais lucrativas. No Brasil, representam 10% do PIB.
Ao incorporar-se ao mercado, a saúde virou mercadoria, e assumiu as suas
propriedades: padronização, impessoalidade, valor de troca, produção em massa,
produtividade e a lógica do lucro. Como transformar um serviço que era centrado
no cuidado, no acolhimento, na individualização do tratamento, no alívio ao
sofrimento em mercadoria?
O primeiro setor da saúde a
submeter-se a lógica do capital foi o de medicamentos. A indústria farmacêutica
assumiu a produção dos remédios, no pós Segunda Guerra, e o consumo disparou.
Basta vê a prosperidade das farmácias, uma em cada esquina, e não param
crescer. A rede de comercialização dos medicamentos só perde para a de distribuição
de bebidas.
Com o envelhecimento da população
as necessidades de atenção a saúde aumentam. Este setor da economia cresce,
mesmo em períodos de recessão da economia. O retorno dos investimentos é
garantido. O paciente virou consumidor. O que fez a medicina, uma profissão
milenar, para adaptar-se a lógica de mercado?
A grande mudança foi a
transformação do cuidado médico em procedimentos. A fragmentação do cuidado, semelhante
a uma linha de montagem da indústria, foi o caminho de adaptação da medicina ao
mercado. O cuidado é muito subjetivo, pessoal, imprevisível, implica numa
relação de confiança; inadequado a lógica de lucro e da padronização das mercadorias.
Foi preciso transformar o cuidado em pequenas intervenções (procedimentos) e o
estabelecimento dos protocolos. Os procedimentos são realizados por diferentes
médicos. O paciente deixou de ter um médico cuidador. O trabalho é coletivo,
uma linha de desmontagem sem coordenação. Cada médico conserta uma peça do
padecente.
A Associação Médica Brasileira
(AMB) criou uma Classificação Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM),
transformando o cuidado médico em 4.700 procedimentos. Tudo especificado,
codificado e com o preço de cada subitem. Existem outras tabelas de
procedimentos, da ANS, do SUS, dos Planos de Saúde, etc. O discurso de um
sistema nacional de saúde, universal, público e gratuito; e de uma assistência integral
e equânime foi derrotado. Perdi mais uma!
Antônio Samarone.
Nenhum comentário:
Postar um comentário