Banzo
“O negro chegava, e ao
experimentar o áspero cativeiro, entristecia e definhava, entregava-se ao desespero,
fugia como um doido, banzava por aí afora, preferindo-se matar-se a cair
novamente nas mãos do senhor”. (Lycurgo). O negro escravo, arrancado das plagas
africanas, padecia de mortal tristeza, padecia de banzo, causa frequente de suicídios.
O banzo é um ressentimento
entranhado por qualquer princípio, causado por tudo aquilo que pode
melancolizar a saudade dos seus, e da sua pátria; o amor devido a alguém; à
ingratidão, a aleivosia, a cogitação profunda sobre a perda da liberdade; a
meditação continuada da aspereza da tirania com que os tratam. Esta paixão da alma
a que se entregam, que só é extinta com a morte. Um forte parecer sobre o
caráter dos africanos (fiéis, resolutos, constantes). O banzo era o
resultado do ressentimento pelo rigor com que os tratavam os seus senhores,
rigor acrescido de crueldade e tirania. (Memória de Oliveira Mendes)
O banzo dos escravos era a nostalgia
da medicina europeia. Nostalgia foi o nome científico (do grego nostos, retorno
à terra natal, e algos, dor ou sofrimento). Interessa aqui destacar que, como
observa Rosen, em fins do século XVIII, a nostalgia era aceita como entidade
clínica, reconhecida por médicos como uma enfermidade ocorrente em diversos
grupos sociais, não apenas entre soldados, e descrita em vários países da
Europa.
O quadro ocorreria com frequência
entre soldados (em especial entre os jovens convocados à força) deslocados para
regiões distantes de seu torrão natal, em geral em condições muito adversas, em
guerras ou ocupações militares. Estes seriam acometidos por um profundo
desespero, em razão das saudades de casa ou diante da ideia de jamais voltar a
ver o solo pátrio. Este sentimento progrediria até se tornar uma doença, muitas
vezes fatal, com manifestações físicas e mentais: enorme tristeza, insônia,
fraqueza, falta de apetite, alterações gastrintestinais, ansiedade, palpitações
cardíacas, febre, apatia, estupor, além das incessantes e suspirosas lembranças
do lar distante. O único remédio eficaz, reconheciam os médicos militares, era o
retorno à terra natal, já que os nostálgicos não serviam mais para as armas (Rosen).
Antônio Samarone.
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