quarta-feira, 30 de outubro de 2019

GENTE SERGIPANA - PEDRO DE ANITA





Gente Sergipana – Pedro de Anita (por Antônio Samarone)

Pedro nasceu na Matapoã, em Itabaiana. Filho de Chiquinho Gordo e Dona Ana. Aos 8 anos, Pedro sabia ler, escrever e contar, sem nunca ter ido à escola.

O menino era um espanto, um gênio. Logo, a comunidade decretou: é doido! Pedro falava de coisas inusitadas para a idade. O pai preocupado deu-lhe um conselho: “Pedro, fique calado, se você não falar ninguém sabe que você é doido.”

Claro, Pedro não aceitou o conselho.

Pedro seguiu inicialmente o ofício do pai, foi ser fogueteiro, em pouco tempo era o melhor da região. Depois foi trabalhar na ourivesaria, arte tradicional em Itabaiana. Se tornou um dos melhores.

Arrumou uma companhia, casou-se com Anita, mãe solteira, comerciante de miudezas na feira. Foi um escândalo para os padrões morais daquele tempo.

Pedro fez amizade com o Dr. Florival, um farmacêutico formado na Bahia, e que possuía a maior biblioteca do agreste sergipano. Seu Florival era fechado, mal dava um bom dia a um cristão. Mas com Pedro, seu Florival batia papo.

Dizia-se na cidade que Pedro de Anita tinha endoidado de vez. Deixou os ofícios e agora só andava com um livro de filosofia debaixo do braço, da biblioteca do Dr. Florival. Foi morar nos grotões da Ribeira. Soube que leu até Kant, que nem os doutores entendem direito.

Pedro de Anita era descendente dos ferreiros das Flechas, do ramo dos fogueteiros. Neto de Bernardinho, por parte de mãe. Certa feita, conversando com Homero ferreiro, explicando porque resolveu estudar filosofia, Pedro foi profundo:

“O mundo está desencantado! O encantamento do mundo só pode ser refeito pela religião, pela arte ou pela filosofia. O meu caminho foi a filosofia.” Eu nada entendi nada, mas gravei a sentença.

Pedro de Anita, morreu de esquistossomose, afastado de todos, em seu retiro na Ribeira. Pedro viveu numa sociedade incapaz de reconhecer a sua grandeza intelectual. Foi tido como doido!

Antônio Samarone.

Um comentário:

  1. Boa noite!
    Infelizmente,estamos atravessando uma longa fase, em que, grande parte da nossa sociedade, não tem interesse em que, o povão, cresça culturalmente, porque dificultaria a manipulação do seu "poder" de convencimento.

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