sábado, 26 de outubro de 2019

A AUTOESTIMA DOS SERGIPANOS


A Autoestima dos Sergipanos (por Antônio Samarone)


A Capitania doada a Francisco Pereira Coutinho, depois da expulsão dos Tupinambás em 1590, virou a Capitania de Sergipe d’El Rey, ligada diretamente à Coroa Espanhola, como qualquer outra, segundo Ivo do Prado.

Quando da ocupação de Sergipe, Portugal e Espanha formavam a União Ibérica, no reinado de Felipe II. O primeiro Capitão Mor de Sergipe foi Tomé da Rocha, nomeado em 1591. A Capitania de Sergipe d’El Rei é antiga.

A Capitania de Sergipe foi governada por Capitães Mores, indicados pela Coroa até 1637, quando São Cristóvão foi invadida pelos holandeses e Sergipe ficou sem governo. Somente em 1648, já com a restauração e Portugal ficando independente da Espanha, foi nomeado outro Capitão Mor para Sergipe, Balthazar de Queiroz de Serqueira.

Em 1696, por decisão da Coroa portuguesa, a Capitania de Sergipe alçou a condição de Comarca. Continuou tendo Capitão Mor, Provedor de Fazenda, Guarnição de Infantaria e Ouvidor. O Soberano, para dividir as duas Comarcas (Bahia e Sergipe), estabeleceu as fronteiras de Sergipe até a Praia de Itapuã.

Contudo, na prática, a Bahia foi invadindo, tomando território, restringindo competências da Comarca de Sergipe, e em pouco tempo tornando Sergipe uma sub Capitania subordinada à Bahia. Foi disso que nos libertamos em 1820.

No Brasil, as Capitanias foram transformadas em Províncias em 1821, pelas Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa, no âmbito do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.

Como gratidão, por Sergipe ter enviado combatentes para lutar ao lado das tropas reais e derrotar a Revolução Pernambucana de 1817, El Rei D. João VI, em 08 de julho de 1820, restabeleceu a autonomia da Capitania de Sergipe d’El Rei, eliminando os vínculos com a Bahia.

Para concretizar o ato, El Rei nomeou Carlos Burlamarque o primeiro Governador da Província de Sergipe, em outubro de 1820. A Bahia reagiu e não deixou Burlamarque assumir. Somente em janeiro de 1824, com a nomeação do sergipano Manoel Fernandes da Silveira é que a Província de Sergipe começou a pensar em autonomia política.

Mesmo assim não foi lá essa autonomia toda. O Senado Federal funciona desde 1826. Os dois primeiros representantes da Província de Sergipe no Senado, José Teixeira da Mata Bacelar (1826 a 1838) e José da Costa Carvalho, o Marquês de Monte Alegre (1838 a 1860), não eram sergipanos.

O primeiro sergipano a representar a Província de Sergipe no Senado foi Antônio Dinis de Siqueira e Melo, eleito somente em 1859. Depois tivemos o Barão de Maruim, eleito em 1861, e o Barão de Estância, eleito em 1885. E só! A elite sergipana cuidava dos seus interesses, Sergipe era um detalhe.

É esse fato histórico: o decreto de D. João VI de 1820, que completará 200 anos. Não houve luta de Sergipe para conquistar essa separação da Bahia, pelo contrário, parte de sua elite não queria. O Decreto real foi uma recompensa, um prêmio da Coroa, por Sergipe ter lutado ao lado das tropas reais para derrotar os irmãos pernambucanos, na Revolução de 1817.

Acho que o professor Manoel Joaquim de Oliveira Campos exagerou no hino de Sergipe, que quase ninguém sabe cantar:

“Alegrai-vos, sergipanos
Eis que surge a mais bela aurora
Do áureo jucundo dia
Que a Sergipe honra e decora”

Menos, bem menos, professor Manoel Joaquim... A autoestima dos sergipanos por Sergipe é recente, historicamente muito recente, como dizia Luiz Antônio Barreto. Essa ideia da Sergipanidade pode ajudar.

O único sergipano inscrito no livro dos heróis da Pátria é o Cacique Tupinambá Serigy. Creio que esqueceram até de Francisco Camerino...

Antônio Samarone.

Um comentário:

  1. Parabéns Samarone por resgatar parte da história sergipana. Este texto deveria ser enviado para todas as escolas públicas e privadas do estado, e servir de base para aulas e pesquisa para os estudantes. Não pare por aí; os sergipanos em sua maioria desconhecem a história de seus grandes líderes e personagens que construíram esse estado. Expedito Rocha

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