A Autoestima dos Sergipanos (por
Antônio Samarone)
A Capitania doada a Francisco
Pereira Coutinho, depois da expulsão dos Tupinambás em 1590, virou a Capitania
de Sergipe d’El Rey, ligada diretamente à Coroa Espanhola, como qualquer outra,
segundo Ivo do Prado.
Quando da ocupação de Sergipe,
Portugal e Espanha formavam a União Ibérica, no reinado de Felipe II. O
primeiro Capitão Mor de Sergipe foi Tomé da Rocha, nomeado em 1591. A Capitania
de Sergipe d’El Rei é antiga.
A Capitania de Sergipe foi
governada por Capitães Mores, indicados pela Coroa até 1637, quando São
Cristóvão foi invadida pelos holandeses e Sergipe ficou sem governo. Somente em
1648, já com a restauração e Portugal ficando independente da Espanha, foi
nomeado outro Capitão Mor para Sergipe, Balthazar de Queiroz de Serqueira.
Em 1696, por decisão da Coroa
portuguesa, a Capitania de Sergipe alçou a condição de Comarca. Continuou tendo
Capitão Mor, Provedor de Fazenda, Guarnição de Infantaria e Ouvidor. O
Soberano, para dividir as duas Comarcas (Bahia e Sergipe), estabeleceu as
fronteiras de Sergipe até a Praia de Itapuã.
Contudo, na prática, a Bahia foi
invadindo, tomando território, restringindo competências da Comarca de Sergipe,
e em pouco tempo tornando Sergipe uma sub Capitania subordinada à Bahia. Foi
disso que nos libertamos em 1820.
No Brasil, as Capitanias foram
transformadas em Províncias em 1821, pelas Cortes Gerais e Extraordinárias da
Nação Portuguesa, no âmbito do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
Como gratidão, por Sergipe ter
enviado combatentes para lutar ao lado das tropas reais e derrotar a Revolução
Pernambucana de 1817, El Rei D. João VI, em 08 de julho de 1820, restabeleceu a
autonomia da Capitania de Sergipe d’El Rei, eliminando os vínculos com a Bahia.
Para concretizar o ato, El Rei
nomeou Carlos Burlamarque o primeiro Governador da Província de Sergipe, em outubro
de 1820. A Bahia reagiu e não deixou Burlamarque assumir. Somente em janeiro de
1824, com a nomeação do sergipano Manoel Fernandes da Silveira é que a
Província de Sergipe começou a pensar em autonomia política.
Mesmo assim não foi lá essa autonomia
toda. O Senado Federal funciona desde 1826. Os dois primeiros representantes da
Província de Sergipe no Senado, José Teixeira da Mata Bacelar (1826 a 1838) e José
da Costa Carvalho, o Marquês de Monte Alegre (1838 a 1860), não eram
sergipanos.
O primeiro sergipano a
representar a Província de Sergipe no Senado foi Antônio Dinis de Siqueira e
Melo, eleito somente em 1859. Depois tivemos o Barão de Maruim, eleito em 1861,
e o Barão de Estância, eleito em 1885. E só! A elite sergipana cuidava dos seus
interesses, Sergipe era um detalhe.
É esse fato histórico: o decreto
de D. João VI de 1820, que completará 200 anos. Não houve luta de Sergipe para
conquistar essa separação da Bahia, pelo contrário, parte de sua elite não
queria. O Decreto real foi uma recompensa, um prêmio da Coroa, por Sergipe ter
lutado ao lado das tropas reais para derrotar os irmãos pernambucanos, na Revolução
de 1817.
Acho que o professor Manoel
Joaquim de Oliveira Campos exagerou no hino de Sergipe, que quase ninguém sabe
cantar:
“Alegrai-vos, sergipanos
Eis que surge a mais bela aurora
Do áureo jucundo dia
Que a Sergipe honra e decora”
Menos, bem menos, professor
Manoel Joaquim... A autoestima dos sergipanos por Sergipe é recente, historicamente
muito recente, como dizia Luiz Antônio Barreto. Essa ideia da Sergipanidade
pode ajudar.
O único sergipano inscrito no
livro dos heróis da Pátria é o Cacique Tupinambá Serigy. Creio que esqueceram até
de Francisco Camerino...
Antônio Samarone.
Parabéns Samarone por resgatar parte da história sergipana. Este texto deveria ser enviado para todas as escolas públicas e privadas do estado, e servir de base para aulas e pesquisa para os estudantes. Não pare por aí; os sergipanos em sua maioria desconhecem a história de seus grandes líderes e personagens que construíram esse estado. Expedito Rocha
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