A Solidão dos Sacerdotes (por Antônio
Samarone)
Encontrei com um velho amigo,
sacerdote da igreja católica. Após os cumprimentos, ele não perdeu tempo: que
bom que o senhor é médico, estou precisando de uma receita de Rivotril, com
urgência.
Senti a dependência!
Respondi que não exercia a
clínica psiquiátrica e que nem receituário eu possuía. Perguntei: por que o
senhor não procura o seu médico? “Que médico, ele respondeu. É difícil uma
consulta psiquiátrica pelo SUS.” Entranhei, achava que a igreja tinha um plano
de saúde para os padres pobres.
Percebi que o sacerdote, já
idoso, padecia de um transtorno neurológico, um leve tremor nas mãos e cabeça.
Me disse que morava só, numa casinha nos fundos da Paróquia e que também sofria
de diabetes.
O padre acrescentou que vivia franciscanamente,
comendo de marmita popular, duas vezes ao dia. Uma vida de penitência. A
paroquia dele é pobre e o que arrecada é muito pouco.
A padre padece de uma depressão
profunda, visível, só dorme com tarja preta. Ainda não apelou para o suicídio,
pelo temor de Deus. O sofrimento mental não poupa nem o baixo, nem o alto clero.
A demência é democrática.
O meu amigo se mostrou temeroso
pelo futuro. Não tem família por aqui, nem ninguém para cuidar dele. Daqui a
pouco começará a perder a autonomia e, Deus me perdoe, as demências não livram
nem as ovelhas, nem os pastores.
Não é da minha conta, mas vou
dizer: a igreja deveria prestar mais atenção para o sofrimento mental dos seus
sacerdotes. Casos de depressão e ansiedade são frequentes. Deveria pensar
também em criar uma instituição para receber os padres idosos, no final da
vida. Eles não possuem filhos, e a imensa maioria não acumulou cabedal, para
pagar aos médicos e cuidadores.
Antônio Samarone.
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