(CAP. I)
Sergipe Antigo (Ciri-gy-pe – rio
dos siris). (por Antônio Samarone)
Entre as carências sergipanas,
falta-nos uma história. Um explicação razoável das nossas origens. Do “porquê”
essa pequena faixa do território brasileiro ganhou vida própria, passou a
existir de forma independente. Aqui se formou uma gente que nem é baiano nem
pernambucano. Quem somos?
O pouco da história de Sergipe
que se conta é fragmentada e tendenciosa. É a história vista pelos portugueses,
pelos donatários, pelos sesmeiros, pelos documentos deixados pelos Jesuítas. Uma
história escrita nas sacristias, romantizada, sempre acabando bem para os de
cima.
A sociedade brasileira começou
dividida, eivada de ódios, divergências de raiz, das origens da nossa formação
nacional. Nunca tivemos uma guerra de secessão. Contudo, colonizadores e
nativos, nobres e plebeus, senhores e escravos, ricos e pobres, elite e povo,
nunca resolveram as suas desavenças e contradições. “Só a antropofagia nos une.
Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.” Relembrando o velho manifesto de
Oswald de Andrade.
“Antes dos portugueses
descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade.” Antes da ocupação
portuguesa, existiam outras civilizações ocupando o território que hoje
denominamos de Sergipe. Quem eram?
A ocupação portuguesa de Sergipe, em 1590, foi
sangrenta, demorada, após um século de resistência. Vou contar o que sei, o que
li e ouvi, sem pretensões. A partir de hoje publicarei essa história em
capítulos. Se houver interessados, no próximo ano, bicentenário do desligamento
de Sergipe da Bahia, publicarei em livro.
Essa história precisa ser
recontada. O meu ponto de partida é o início do século XV, o ano de 1400,
provável chegada dos Tupinambá em Sergipe. A presença do homem em Pindorama
(Brasil) é anterior a 12 mil anos. Luzia tem 11 mil anos. Em Sergipe não se
sabe ao certo.
Os Tupinambá, Tubüb-Abá, Tuppin-inba
chegaram à Sergipe pelo São Francisco, por volta de 1400, após uma longuíssima
viagem. Vieram das ilhas do Pacífico, da Polinésia. Estabeleceram-se
inicialmente na Bolívia andina, às margens do Lago Titicaca. Existe uma
evidência relevante dessa presença dos Tupis Guaranis nessa região.
A expansão do Império Inca
expulsou os Tupis das margens do Lago Titicaca. Com a ameaça dos Inca, por
volta do ano 1.300, os Tupis desceram o Rio Beni, afluente do Mamoré, rumo a
bacia amazônica. O Rio Mamoré junta-se ao Abunã e ao Guaporé formando o Rio
Madeira. Os Tupis abominavam a escravidão.
Os Tupis descem mais de mil
quilômetros o Rio Madeira, em suas canoas, numa viagem penosa, para chegar ao
Amazonas. Os Tupis desembarcaram numa grande ilha chamada Tupinambarana,
passando a ser o lugar de dispersão desses índios andinos para o interior do
Brasil. Com a dispersão, os Tupis foram ganhando novos nomes, a depender de
cada Cacique ou circunstâncias.
Um dos grupos Tupis, os Tupinambá
desceram o Rio Tocantins, entraram sertão adentro e chegaram à foz do Rio São
Francisco. A entrada no litoral ocorreu por volta do ano 1.400, pela foz do São
Francisco, sendo as primeiras aldeias criadas no território sergipano.
Na Chegada à Sergipe, os
Tupinambás encontraram os Tupinaês, índios tupinizados, que já havia expulsados
os tapuias para o Sertão. Os Tupinambá na guerra de ocupação derrotaram os
Tupinaês, que são expulsos. Com a vitória, os Tupinambás avançaram desde a foz
do São Francisco, pelo litoral, até a Bahia de Todos os Santos,
estabelecendo-se cem anos antes da chegada dos portugueses.
Segundo Moacyr Soares Pereira:
“Os Tupinambás amazônicos formavam um só povo, com a mesma língua, costumes,
gentilidade e cultura.” Os Tupis tomaram nomes a depender do local de ocupação:
Tupinambás, em Sergipe e Norte da Bahia; Caetés em Alagoas e Pernambuco;
Potiguar no Rio Grande do Norte.
Pelas circunstâncias geográficas,
as primeiras aldeias Tupinambás no litoral brasileiro foram implantadas na
região do Pantanal de Pacatuba, em Sergipe, à altura da Ponta dos Mangues.
Resta aos historiadores os recursos da arqueologia para desvendarem essa
pré-história sergipana.
Entre a primeira guerra vitoriosa
dos Tupinambás na chegada em 1.400, contra os Tupinaês; e a sua derrota para os
portugueses em 1591, os Tupinambás mandaram em Sergipe por 190 anos, deixando
uma valiosa contribuição cultural, presente até os dias atuais.
Continua Moacyr Soares Pereira:
“Os Tupinambá da vanguarda
invasora em ampla frente, após a derrota dos Tupinaês, os lançaram e aos
Tapuias para o Sertão. Os vencedores chegaram à beira mar; e senhoreando as áreas vizinhas, foram
ocupando sucessivamente a terra conquistada, desde a foz do São Francisco até o
Sul da Bahia de Todos os Santos, inclusive a bacia do Rio Paraguaçu.” Os
tupinambás ocuparam da Foz do São Francisco ao Norte, e Camamu ao Sul.”
O rio São
Francisco era rio Opará para os índios e no mapa de Barleus chamava-se rio
Parapitinga.
“Um índio
descerá de uma estrela colorida, brilhante
De uma
estrela que virá numa velocidade estonteante
E pousará no
coração do hemisfério sul
Na América,
num claro instante
Depois de
exterminada a última nação indígena
E o espírito
dos pássaros das fontes de água límpida
Mais
avançado que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias.”
Caetano
Veloso.
Foram esses Tupinambá do litoral
sergipanos os primeiros a chegar no litoral (início do século XIV) e os últimos
a sair, só sendo derrotados pelos portugueses em 1590.
Existem evidências que os
Tupinambá que vieram à Sergipe eram os malaios/polinésios?
Moacyr Soares Pereira cita as
mais importantes: “A rede; as danças rituais de máscaras, as pontes suspensas;
propulsor de flechas; a sarabatana; o arc à balle a massa feita de pedra anular
ou em forma de estrela; os machados de cabo em cotovelo; as cabeças troféus; a
flauta de Pan; o tambor de madeira, para sinais; o tambor cilíndrico de
membrana de pele; o arco musical; o estojo de pênis; os vestidos de certas
cascas de árvore abatida (o tapa polinésio); certos jogos de azar; as
mutilações dentárias e as incrustações dos incisivos; a amputação das falanges,
como sinal de luto; a trepanação craniana; as habitações sobre arvores; a
cultura em terraço com irrigação; o Ikaiten (processo de tintura das fibras); a
fabricação de bebidas fermentadas pela mastigação dos frutos ou grãos; as
cordas de nós, como meio de numeração (kipu); e os mitos funerais.”
No próximo capítulo, trataremos
desses Tupinambás que viviam em Sergipe, antes da chegada dos portugueses.
Antônio Samarone.
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