Gente Sergipana – José Almir Santana.
(por Antônio Samarone).
Almir Santana nasceu no Aracaju, em
30 de Janeiro de 1953. A família é de Itabaiana: o pai, José Alves de Santana;
e a mãe, Maria Gisélia Santana, são de lá, gente do povoado Gandu. A avó, Dona
Madalena, morava na Praça João Pessoa, perto da Bomba de Gasolina de João
Marcelo.
Almir Santana nasceu e se criou
no bairro Santo Antônio. Cursou o básico no Ginásio Simeão Sobral e o
científico no Colégio Atheneu. Na verdade Almir Santana na infância gostava
mesmo era de jogar bola. Não perdia uma pelada no chiqueirinho, campo situado
ao lado do Estádio Sabino Ribeiro. Almir Santana queria mesmo era ser jogador
do Confiança.
Os seus sonhos de adolescência eram
ter um bicicleta e comparar uma geladeira para dar a mãe de presente. Aspirações
quase impossíveis para os filhos da classe trabalhadora naquela época.
No Atheneu, Almir Santana se
destacou em matemática. O professo Leão Magno abriu o GCM, um pré-vestibular que
ficaria famosos, e convidou Almir Santana para ensinar. Almir ganhou fama como
professor, juntou-se com um grupo de professores já consagrados e fundaram o
Pré-vestibular VISÃO, que marcou época em Aracaju.
Almir passou no vestibular de
medicina em 1972, e só conseguiu formar em 1981. A sala de aula tinha ocupado a
alma e o tempo de Almir Santana, um dos grandes professores de pré-vestibular
em Aracaju, e isso atrapalhou a regularidade do curso médico.
A Saúde Pública como vocação.
Almir Santana depois de formado
em medicina, foi trabalhar na rede pública de saúde (1985). O seu primeiro
destino foi o Centro de Saúde José Machado de Souza, no Santos Dumont, subúrbio
de Aracaju. Almir, inquieto, como fazer Programa de Saúde da Família PSF antes
de sua existência. Seu primeiro envolvimento foi com a vacinação de
poliomielite.
Almir percebeu a baixa cobertura
da vacina no Bairro. Botou um isopor com vacinas debaixo do braço, e saiu
vacinando de rua em rua, de porta em porta. Aquilo nunca tinha sido feito.
Almir começou atender a população com dedicação e zelo. Ninguém voltava, ele
atendia a todos.
Nessas visitas, Almir Santana
descobriu que no Santos Dumont existiam vários cabarés, alguns pequenos, outros
famosos, como o cabaré de Ciganinha. Almir percebeu que a sífilis era um grande
problema de saúde pública, e passou a agendar um atendimento as prostitutas. O
seu consultório encheu. Não demorou, o provincianismos e as más línguas botaram
logo um nome: Almir Santana passou a ser “o médico das putas”.
.
No início da década de 1980 chegava
ao Brasil a AIDS, a “Peste Gay” que assombrava o mundo. Coberta de preconceitos,
desinformações e moralismos. A doença foi apresentada como sendo exclusiva dos homossexuais.
Um estigma, uma ameaça, um castigo! A doença além de tudo não tinha tratamento,
era uma condenação à morte.
O primeiro caso de AIDS em
Sergipe apareceu em Santa Luzia do Itanhy (1987). Um paciente com tuberculose,
vindo de São Paulo. Foi um desespero para a saúde pública sergipana, ninguém
queria atender ao paciente. O preconceito e o medo dominavam as mentes e os
corações. O Prefeito exigiu que o paciente foi retirado da cidade.
Diante as dificuldades, o
Secretário da Saúde fez um comentário absurdo e preconceituoso: “existe um
médico no Santos Dumont que atende as putas, quem sabe se ele não topa atender
aos viados”. Foi nesse contexto que Almir Santana assumiu a coordenação do
atendimento a AIDS no Estado de Sergipe.
Logo, logo, surgiu outro caso de
AIDS em Sergipe: um cabeleireiro em Itabaiana. Quando diagnosticado, o cabeleireiro
revelou que fazia muito sexo, com múltiplos parceiros e deu os nomes. Pronto, a
epidemia chegou em Sergipe, pensou Almir Santana. Como no início se fazia a
busca ativa das pessoas em riscos, possivelmente infectadas, o terror correu em
Itabaiana. Almir Santana está com uma lista de nomes, e todos serão internados
para fazer os exames.
Começou a circular listas
apócrifas em Itabaiana, com a marca da saúde pública. Todos queriam saber se os
seus nomes constavam ou não na lista de Almir Santana. Quem namorou ou não com
o cabeleireiro, era a pergunta fatal. De sacanagem, quem encabeçava todas as
listas era de um donzelo juramentado. Quando Almir Santana chegava em Itabaiana
era uma correria, um atropelo, muita gente se escondendo.
Um ex-amigo recebeu uma
convocação da HEMOSE, numa sexta à tarde, para comparecer com urgência ao órgão,
tratar de assunto do seu interesse. E não dizia qual era o assunto, nem o interesse. Como se
tratava de um devasso assumido e que não usava camisinha, achava que ficavam
folgadas, entrou no desespero. O acolhi em minha residência num final de
semana, para confortá-lo espiritualmente. Não era nada de AIDS, mas o susto foi
grande.
Nenhum hospital queria internar
os pacientes com AIDS, os profissionais de Saúde tinham medo. Não se conhecia muito
da doença. Na época, surgiu um pânico em Aracaju: circulou a notícia que a
muriçoca poderia transmitir a AIDS. Com a quantidade de muriçoca que nós temos,
seria o fim de Aracaju.
Sergipe foi o segundo estado brasileiro
a implantar um programa de prevenção e controle da AIDS no Brasil. Almir
Santana foi o seu primeiro e único coordenador. Almir caiu nas estradas para
fazer prevenção com os caminhoneiros, foi às feiras, às praças públicas, se aproximou
da comunidade LGBT, fez parceria com Wellington do “Dialogay”, com o GAPA, fiscalizou
os bancos de sangue, trabalhou com Candelária, Maria Augusta, desfilou no Pré-caju,
Almir Santana nunca mais descansou. Virou uma devoção.
No início a Igreja Católica não
via com bons olhos o trabalho de Almir Santana. A segurança era o sexo doméstico,
para que camisinha? Em Sergipe, Arnóbio Patrício de Melo, um grande padre,
quebrou o tabu: convidou Almir Santana para dar uma palestra de prevenção da
AIDS no Seminário. Foi um espanto! Arnóbio tinha razão, conhecia, em pouco tempo apareceu
um ministro de Deus com AIDS.
A mídia no começo atrapalhava,
apostava no sensacionalismo. Três notícias da época exemplificam: “Loira da
Atalaia Nova contamina 300”, “Aidético retorna a São Paulo escoltado pela
polícia” e “Aidético morre por ter comido uma feijoada”. A desinformação era
grande.
Almir Santana é casado com
Solange Fonseca e tem dois filhos: Marcelo e Andrea. Almir Continua em sua luta
incessante na saúde pública. Virou celebridade, o seu trabalho é reconhecido
pelos seus colegas, pela universidade e, sobretudo, pela comunidade.
A Saúde Pública hoje no Brasil
sobrevive às custas de abnegados.
Antônio Samarone.
Parabéns Dr. Almir Santana
ResponderExcluirParabéns Dr. Samarone
Grandes figuras Sergipanas que fazem a diferença.