Hospícios de Sergipe. (por Antônio
Samarone)
Quarenta anos da Clínica de
Repouso São Marcelo (1979 – 2019)
José Hamilton Maciel, alagoano do
Pão de Açúcar, se mudou para Aracaju em 1972. Veio a convite do Dr. Jorge Cabral,
psiquiatra, Secretário Estadual de Saúde, para dirigir o Hospital Adauto
Botelho, um nosocômio público especializado em doidos. José Hamilton foi
convidado por indicação do doutor Josué Duarte, influente e destacado sanitarista
alagoano.
O Adauto Botelho vivia apinhado de
(indi)gentes, sujo, desorganizado, quase nada tinha a oferecer aos seus pacientes.
O eletrochoque era a panaceia. A psiquiatria não dispunha do arsenal de
psicotrópicos de hoje. José Hamilton veio para pôr ordem na casa.
No final da década de 1970,
Sergipe possuía três hospitais de alienados: o Adauto Botelho (1954); a Clínica
Santa Maria (1962), do psiquiatra Hercílio Cruz; e o Hospital Garcia Moreno (1976),
no município de Socorro.
A psiquiatria tinha poucos
adeptos em Sergipe na década de 1970: além de Jorge Cabral e Hercílio Cruz,
citados acima, atuavam por aqui, João Peres Garcia Moreno, Renato Mazze Lucas,
Eduardo Vital Santos Mello, Antônio Santana e os alagoanos Rosauro Luna e
Roberto Carvalho. Menos de uma dezena. Esqueci algum nome?
Logo, logo, José Hamilton se enturmou
em Sergipe, fez amizades, tornou-se sergipano. Assumiu a cátedra de medicina
legal da Faculdade de Medicina da UFS. José Hamilton veio a Sergipe sonhando em
organizar uma clínica para doentes mentais. Surgiu uma oportunidade: a previdência
social foi reformada em 1974. Criou-se o INAMPS, órgão especializado em assistência
médica.
O INAMPS nasceu com duas
orientações: aumentar a oferta de serviços médicos e comprá-los à terceiros. A
construção de serviços próprios não era prioridade. Mas comprar serviços a quem,
se a rede privada de assistência médica era quase inexistente? Em Sergipe não
passava de meia dúzia. O Governo Federal criou o Fundo de Apoio Social (FAS),
para emprestar dinheiro a juros baixíssimos a quem quisesse construir clínicas
e hospitais. O Dr. José Hamilton entrou nessa oportunidade.
José Hamilton reuniu a família. A
esposa Maria da Gloria; Natanael, cunhado; Maria Helena, prima; Hamiltinho e Zaira,
filhos (todos psiquiatras); Fátima; Noemia, assistente social; Maria Vieira,
nutricionista; Cibele Ramalho, psicóloga; Maria de Fátima, enfermeira. Ou seja,
montou uma empresa familiar. Um sonho de juventude criava asas: construir um
serviço de assistência à saúde mental, humanizado e de boa qualidade.
Em 14 de julho de 1979, foi
inaugurada festivamente a Clínica de Repouso São Marcelo. A data de 14 de julho
não foi coincidência, reflete a alma política de José Hamilton Maciel.
A São Marcelo completa 40 anos.
Os outros hospitais psiquiátricos de Sergipe acabaram. O Adauto Botelho e o Garcia Moreno,
foram transformados em quartel e cadeia pública. O Santa Maria fechou suas
portas. A prioridade da política de saúde mental era a desospitalização e a criação
dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs).
Hoje, depois que os ventos da antipsiquiatria
de Franco Basaglia abrandaram, os tratamentos psiquiátricos ganharam tons mais civilizados
e o cuidado hospitalar deixou de ser sinônimo de holocausto, a Clínica de
Repouso São Marcelo sobrou como o único refúgio para os pacientes que necessitam
de cuidados hospitalares, em psiquiatria. Vive sempre lotada.
A luta pelo fim dos manicômios, não
significa que a atenção hospitalar aos pacientes psiquiátricos seja
desnecessária. Essa confusão precisa ser desfeita. A ênfase continua na assistência
não hospitalar, por equipes multiprofissionais e integrados à comunidade. Mas
se o transtorno requer uma assistência hospitalar intensiva, ela deve ser oferecida
a todos.
Parabéns a família da Clínica São
Marcelo, pelos 40 anos. Aos que lá trabalham, a direção, aos pacientes, e aos
que acreditam numa medicina humanizada.
Antônio Samarone.
Olá, boa noite! Me chamo Anna Paula e atualmente estou fazendo mestrado na Casa de Oswaldo Cruz (RJ)-FIOCRUZ, no Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde, com o trabalho intitulado "NO TABULEIRO DE XADREZ:AS PEÇAS PARA A CONSTRUÇÃO DO HOSPITAL DE CLÍNICA PSIQUIÁTRICA DE SERGIPE (1937-1951)". Estou tendo certa dificuldade para encontrar algumas informações para escrever essa história, li seus trabalhos e conversei com Éden, que me auxiliou quando fui ao APES e sugeriu também que eu entrasse em contato com o senhor, em razão de ter encontrado muito pouco sobre meu objeto de pesquisa no Arquivo. Meu e-mail é santossapap@gmail.com, gostaria muito de conversar contigo sobre minha pesquisa! Aguardo ansiosamente! Att. Anna
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