A derrota de Jackson Barreto.
Jackson Barreto foi o rei do voto
em Aracaju. A maior liderança do campo popular em Sergipe, nos últimos 40 anos.
Em 1985, foi o prefeito mais votado do Brasil. A sua intimidade com o povo era
assombrosa: cumprimentava os eleitores pelo nome e sabia detalhes das famílias
de cada um. Quando visitava uma residências, dizia-se que levantava até as
tampas das panelas. Jackson era daqueles líderes, que se apoiasse alguém, elegia
até um poste. E elegeu!
Com duas vagas ao Senado, como
ele foi derrotado? Jackson Barreto repetiu o final carreira política de Leandro
Maciel, outro grande da política Sergipana, derrotado por Gilvan Rocha, em
1974.
Não foi o efeito da “onda Bolsonaro”,
em Sergipe Haddad ganhou disparado no primeiro turno. E o que foi? Numa
primeira reflexão, identifico alguns pontos que atrapalharam a caminhada
política de JB ao Senado. Vamos a eles:
1. A
briga desnecessária com os professores. Jackson foi orientado a bater de frente
com os professores, derrota-los, destruí-los, numa visão equivocada de que o
SINTESE era o grande inimigo. Jackson comprou uma briga e herdou um ódio que
não eram dele, seguindo conselhos equivocados. A guerra contra o SINTESE
expandiu-se para a categoria.
2. Belivaldo
fez a sua campanha como se fosse um candidato de oposição, nada prestava no
governo anterior. Ele veio para resolver. Logo no primeiro dia, Belivaldo
detonou a inauguração fantasma da Unidade de Nefrologia. Partiu furioso em cima
de Zé Almeida (Primo de JB), e se comportou como se nada da gestão Jackson
merecesse defesa. Alardeou que, com ele, o pagamento do funcionalismo seria
regularizado. Claro, a rejeição à Jackson aumentou.
3. Por
razoes políticas, Jackson assumiu calado o desorganizado segundo Governo de
Marcelo Déda; que por razões conhecidas, não andou bem. No final de Déda, o
governo foi entregue a um triunvirato petista, que só aprofundou a crise. Não
sendo um bom gestor, Jackson Barreto não soube formar uma equipe ligada a ele. Não
tinha nem planejamento, nem paciência para governar, e terminou com a fama do
pior governo da história de Sergipe.
4. O
Prefeito Edvaldo Nogueira, aliado histórico de Jackson Barreto, trouxe André
Moura para Aracaju. Antes da campanha, levou-o de bairro em bairro, de rua em
rua, de casa em casa, anunciando obras e uma nova aliança. Na maioria das vezes,
André também assinava a ordem de serviço, em conjunto com o Prefeito.
5. O
apoio a Jackson, virou um meio apoio. Edvaldo indicou a André onde estavam os
líderes de bairros em Aracaju, os que tinham prestígio. O que não é pouco. Para
que não houvesse dúvidas, André Moura foi recebido na Prefeitura uma semana
antes da eleição, e a notícia vazou de propósito. Foi o suficiente, André derrotou
Jackson em Aracaju.
6. A
intensa, aberta e bem-sucedida campanha do PT para o voto isolado em Rogério
Carvalho deu certo. Só ele foi o candidato de Lula. Não falo do pessoal do
SINTESE, esse tinha lá as suas razões; falo do conjunto do PT, que salvo
exceções, não votou em Jackson Barreto, mesmo com o direito a dois votos para o
senado.
7. Lula
e Haddad elogiavam Jackson, o PT estadual desmentia. Jackson precisava desse
voto petista, aliás, merecia esse voto, pois o Partido tinha a metade do
Governo. A força de Lula em Sergipe, elegeu Rogério Senador.
8. Somando-se
a desconstrução da imagem de Jackson Barreto realizada pelos “aliados” a uma
gestão desastrada, a base da derrocada estava pronta. O próprio Jackson, num
momento impensado, gravou declarações dizendo que ao final do mandato de
governador deixaria a política, e pedia para que ninguém mais votasse nele.
Claro, existem outras causas, e
muita gente vai contestar as razões acima apontadas. Mas é como eu vejo, numa
primeira abordagem. Com as derrotas de Jackson Barreto e Valadares, encera-se
um período de dominação política em Sergipe, iniciada com as eleições diretas
para governador, em 1982.
Antonio Samarone.
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