Sergipe Profundo – A festa de Catulino da jabá.
O São João na casa de Catulino da Jabá e Dona Josefa, no Sitio Porto,
tem uma tradição de duzentos anos. A festa começou com os avós de Catulino, falecido
em 2006, aos 97 anos. Hoje quem comanda é a família, sob a batuta do professor
João Patola. É uma festa com convidados, mas quem chegar come, e ainda leva
meia dúzia de pés-de-moleque. A festa é aberta. Aqui não existem penetras,
todos são bem-vindos.
O Sítio Porto sempre foi um povoado importante em Itabaiana, onde, além
de Catulino, moravam Maria Carreiro; Seu Brasiliano e João Marinheiro. Hoje, o
Porto está nas beiradas da cidade.
A festa de São João de Catulino começou cedo. No dia de Santo Antônio,
a mandioca, plantada um ano antes, foi arrancada e colocada para pubar, em
grandes potes, por sete dias. Esse ritual de fermentação da mandioca é uma
herança dos Tupinambá, o mesmo do fabrico do Cauim. O cheiro vai longe.
Hoje (21/06), foi o dia de tirar a mandioca puba dos vasos, separar a
casca, o talo, outras impurezas. A massa branca, úmida e cheirosa, foi levada
para as urupemas, onde pacientemente será amassada, num ritual alegre de estórias
e cantigas. Aqui consolida-se a tradição. Literalmente, todos “metem a mão na
massa”, num trabalho duro e cansativo. Todos são voluntários. As estórias são
deliciosas.
Separada da crueira, a massa puba será colocada em sacos e pendurada,
para escorrer o excesso de líquido. Amanhã, dia 22, estará pronta. No dia 23,
pela madrugada, as guloseimas serão preparas. Começa com o mingau de puba, apreciado
e bem servido. Os bolos, manuês, beijus, pés-de-moleque (tradição árabe), são
assados a moda antiga, em fornos de barros, aquecidos a lenha. A palha de
bananeira para enrolar os pés-de-moleque vem da Moita Bonita. No dia 23, de
manhãzinha, estará tudo pronto. É são João.
A festa de Catulino ainda terá jabá com farinha, uma antiga tradição
dos ceboleiros, desde os tempos em que a jabá chegava em fardos de 230 kg. O
boi vinha inteiro. Aquela jabá que ficava em mantas sobre os balcões das bodegas,
e era consumida crua, como tira-gosto de cachaça.
No dia de São João, os convidados e os demais conhecidos aparecem. É
uma festa da família de seu Catulino e dona Josefa. Foram dez dia de longa
preparação. Tudo feito do mesmo jeito há duzentos anos. Miguel de Catulino é
quem guarda o segredo das receitas e comanda os temperos. Ninguém mexe nada
antes dele chegar. Quem quiser conferi o São João na Roça, eu tenho alguns
convites.
Antonio Samarone.
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