Os milagres de Lampião
Apareceu no povoado
Parapitinga um menino de nove anos, que já nasceu sabendo aboiar, escrever
poesia de cordel, é repentista, conhece e canta todo o repertório de Luiz
Gonzaga e se diz reencarnação do Capitão Virgulino. O Sertão setentrional está
em rebuliço. Uns já estão dizendo que estava previsto, como Lampião não foi
aceito no Inferno, nem está no Céu, que ele voltaria. O Frei Afrânio, seguidor
do Padre Cícero, ainda está desconfiado, achando tudo muito estranho. A verdade
é que a boataria está tomando corpo.
Eu não tenho porque duvidar.
O poeta José Pacheco encerrou o seu cordel sobre a chegada de Lampião no Inferno
de forma esclarecedora: Leitores, vou terminar/tratando de Lampião/muito embora
que não possa/vou dar a explicação/no inferno não ficou/no céu também não
entrou/por certo está no sertão.
Não tomem como surpresa se
daqui a pouco aparecer gente relatando milagres, as coisas começam assim. Daí
para aparecer seguidores, fanáticos e devotos é um pulo. Aliás, já existe um
cangaceiro do bando de Lampião que virou santo, em Mossoró, RN. Trata-se de
José Leite de Santana, vulgo São Jararaca. O túmulo dele fica no Cemitério São
Sebastião, e é o mais visitado nos dias de finados. Procurem no Google, para
confirmar.
Por aqui, Saracura conta
que Robério Santos já localizou o túmulo da cangaceira Lídia, citado nos
escritos de Luiz Antônio Barreto, e que já foi foco de romaria. Do jeito que as
coisas andam, não tomem como surpresa se esse menino (encarnação de Lampião)
começar a operar milagres nesse desertão de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Segundo estudos de Max
Silva de Oliveira, “um dos aspectos marcantes da personalidade contraditória de
Lampião era a sua religiosidade, apesar de sua vida de cangaceiro e das
influências brutalizantes do cangaço, Lampião nunca abandonou a sua fé e
devoção em Deus, nos santos da igreja católica, e também no Padre Cícero Romão do Juazeiro do
Norte que para ele, era um homem santo.”
Li numa tese acadêmica de
Eraldo Tavares, que “Lampião mantinha relações com anjos e santos, rezava todos
os dias e acreditava em forças ocultas e em sonhos. Nunca buscou fugir às
regras em que foi educado desde criança pela sua mãe e pela sua avó que foram
as responsáveis pela sua formação religiosa. Era devoto de alguns santos, em
especial de Nossa Senhora da Conceição.”
Do jeito que as coisas andam,
não tomem como surpresa se algum militante do movimento Cariri Cangaço,
apresentar uma petição ao Vaticano solicitando a beatificação de Virgulino.
Antonio Samarone.
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