sábado, 16 de junho de 2018

OS MILAGRES DE LAMPIÃO



Os milagres de Lampião

Apareceu no povoado Parapitinga um menino de nove anos, que já nasceu sabendo aboiar, escrever poesia de cordel, é repentista, conhece e canta todo o repertório de Luiz Gonzaga e se diz reencarnação do Capitão Virgulino. O Sertão setentrional está em rebuliço. Uns já estão dizendo que estava previsto, como Lampião não foi aceito no Inferno, nem está no Céu, que ele voltaria. O Frei Afrânio, seguidor do Padre Cícero, ainda está desconfiado, achando tudo muito estranho. A verdade é que a boataria está tomando corpo.

Eu não tenho porque duvidar. O poeta José Pacheco encerrou o seu cordel sobre a chegada de Lampião no Inferno de forma esclarecedora: Leitores, vou terminar/tratando de Lampião/muito embora que não possa/vou dar a explicação/no inferno não ficou/no céu também não entrou/por certo está no sertão.

Não tomem como surpresa se daqui a pouco aparecer gente relatando milagres, as coisas começam assim. Daí para aparecer seguidores, fanáticos e devotos é um pulo. Aliás, já existe um cangaceiro do bando de Lampião que virou santo, em Mossoró, RN. Trata-se de José Leite de Santana, vulgo São Jararaca. O túmulo dele fica no Cemitério São Sebastião, e é o mais visitado nos dias de finados. Procurem no Google, para confirmar.

Por aqui, Saracura conta que Robério Santos já localizou o túmulo da cangaceira Lídia, citado nos escritos de Luiz Antônio Barreto, e que já foi foco de romaria. Do jeito que as coisas andam, não tomem como surpresa se esse menino (encarnação de Lampião) começar a operar milagres nesse desertão de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Segundo estudos de Max Silva de Oliveira, “um dos aspectos marcantes da personalidade contraditória de Lampião era a sua religiosidade, apesar de sua vida de cangaceiro e das influências brutalizantes do cangaço, Lampião nunca abandonou a sua fé e devoção em Deus, nos santos da igreja católica,  e também no Padre Cícero Romão do Juazeiro do Norte que para ele, era um homem santo.”

Li numa tese acadêmica de Eraldo Tavares, que “Lampião mantinha relações com anjos e santos, rezava todos os dias e acreditava em forças ocultas e em sonhos. Nunca buscou fugir às regras em que foi educado desde criança pela sua mãe e pela sua avó que foram as responsáveis pela sua formação religiosa. Era devoto de alguns santos, em especial de Nossa Senhora da Conceição.”

Do jeito que as coisas andam, não tomem como surpresa se algum militante do movimento Cariri Cangaço, apresentar uma petição ao Vaticano solicitando a beatificação de Virgulino.

Antonio Samarone.

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