segunda-feira, 4 de junho de 2018

O OURO DE ITABAIANA


O ouro de Itabaiana.

Belchior Dias Moréia estava certo: existe prata na Serra de Itabaiana. O neto de Caramuru que descobriu a prata, mas pediu alto para informar o mapa da mina. A corte espanhola chegou a mandar para Itabaiana em 1619, uma grande comitiva chefiada por Dom Luís de Souza, Governador-Geral do Brasil, acompanhado dos capitães-mores do Espírito Santo, Gaspar Allures de Siqueira e de Sergipe, João Mendes.

A expedição contratou um mineiro castelhano experiente, Fernão Gil, trazido do Peru. Como não houve acordo, Belchior Dias Moréia não indicou onde estava a prata. A comitiva voltou de mãos abanando. Prenderam Belchior, que morreu com mais de 80 anos, sem revelar o segredo das minas de prata da serra de Itabaiana.

Antigamente, o rio Orinoco era o ponto preciso e real onde estaria o Eldorado, na cabeça das gentes. A partir de Gabriel Soares de Sousa a perspectiva se transferirá para as cabeceiras do rio São Francisco. Mesmo Domingos Fernandes Calabar (1600-1635), que os portugueses tiveram como traidor, foi guia de uma expedição holandesa a Itabaiana em procura do ouro e da prata.

Em 1673, a Coroa (era regente o Príncipe D. Pedro, futuro rei D. Pedro II de Portugal) nomeou D. Rodrigo Castelo Branco como administrador-geral das Minas de Itabaiana e editou o Regimento Geral das Minas do Brasil. Era consequência das incessantes buscas de ouro e prata em várias partes do território.

Em seu famoso livro “Cultura e Opulência no Brasil”, escrito em 1711, Antonil confirmou a existência da prata em Itabaiana: “E na serra de Itabaiana, há tradição que achou prata o avô do capitão Belchior da Fonseca Dória.” Outras expedições foram feitas, e ninguém até agora encontrou a prata.

Só agora, século XXI, em minhas andanças com a Associação Sergipana de Peregrinos, encontrei uma senhora, descendente próximas dos Tapuias, que me disse saber mais ou menos onde era a entrada da mina de prata. Dona Jurema ainda me disse que acha, ela não tem certeza, que o carneiro de ouro que o povo tanto fala, está numa grota aterrada pelo tempo. Não custava nada, pedi para ela me mostrar. De fato, existe. O caminho é pedregoso e a entrada da mina fica num lugar meio encantado e de difícil acesso.

Procurei saber se prata ainda serve para alguma coisa, e parece que não. Nem para fazer anel de cigano. Os talheres e baixelas dos ricos não são mais de prata, a Tramontina ganhou a concorrência. Rodei o shopping e não encontrei nada de prata para comprar, saiu de moda. Bijuteria vale mais do que prata. Tenho um amigo que tem uns sacos cheios de prataria num depósito, herdado da família, e não acha a quem vender. Antigamente passava gente comprando alumínio velho, cobre e metal.  Até garrafa usada e frasco de brilhantina tem comprador. Mas não conheço ninguém que compre prata. Ainda tem um complicador, a mina de prata fica num Parque Nacional, mesmo que valesse muito seria tudo do governo.

Pensei bem e resolvi me aquietar. Não vou esmiuçar o segredo de Belchior Dias Moréia. Continuem pensando que as minas de prata da serra de Itabaiana são lendas. O carneiro de ouro da Serra de Itabaiana continuará enterrado, à espera de dias melhores.


"... achey hum hindio cariry (conta-o Barbosa Leal), hum hindio velho, de cem annos, por nome Taburú; e descobri com muyta endustria haver elle acompanhado a Melchior Dias naquelle seo descobrimento, o que esse hindio tinha muito calado e negado (me dice elle) por assim lho ordenar Melchior. E disse o hindio velho que cozeo no fogo, em hum testo ou tacho, uns seixos; e depois lavou muyto, e tirou uma pedrinha branca; e Melchior Caramurú fizera muita festa com espingardas; e lhes mandara não mostracem nunca a brancos aquelle logar..."

Antonio Samarone.

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