O ouro de Itabaiana.
Belchior Dias Moréia estava certo: existe prata na Serra de Itabaiana.
O neto de Caramuru que descobriu a prata, mas pediu alto para informar o mapa
da mina. A corte espanhola chegou a mandar para Itabaiana em 1619, uma grande comitiva
chefiada por Dom Luís de Souza, Governador-Geral do Brasil, acompanhado dos
capitães-mores do Espírito Santo, Gaspar Allures de Siqueira e de Sergipe, João
Mendes.
A expedição contratou um mineiro castelhano experiente, Fernão Gil,
trazido do Peru. Como não houve acordo, Belchior Dias Moréia não indicou onde
estava a prata. A comitiva voltou de mãos abanando. Prenderam Belchior, que
morreu com mais de 80 anos, sem revelar o segredo das minas de prata da serra
de Itabaiana.
Antigamente, o rio Orinoco era o ponto preciso e real onde estaria o
Eldorado, na cabeça das gentes. A partir de Gabriel Soares de Sousa a
perspectiva se transferirá para as cabeceiras do rio São Francisco. Mesmo
Domingos Fernandes Calabar (1600-1635), que os portugueses tiveram como
traidor, foi guia de uma expedição holandesa a Itabaiana em procura do ouro e
da prata.
Em 1673, a Coroa (era regente o Príncipe D. Pedro, futuro rei D. Pedro
II de Portugal) nomeou D. Rodrigo Castelo Branco como administrador-geral das
Minas de Itabaiana e editou o Regimento Geral das Minas do Brasil. Era consequência
das incessantes buscas de ouro e prata em várias partes do território.
Em seu famoso livro “Cultura e Opulência no Brasil”, escrito em 1711,
Antonil confirmou a existência da prata em Itabaiana: “E na serra de Itabaiana,
há tradição que achou prata o avô do capitão Belchior da Fonseca Dória.” Outras
expedições foram feitas, e ninguém até agora encontrou a prata.
Só agora, século XXI, em minhas andanças com a Associação Sergipana de
Peregrinos, encontrei uma senhora, descendente próximas dos Tapuias, que me disse
saber mais ou menos onde era a entrada da mina de prata. Dona Jurema ainda me
disse que acha, ela não tem certeza, que o carneiro de ouro que o povo tanto fala,
está numa grota aterrada pelo tempo. Não custava nada, pedi para ela me
mostrar. De fato, existe. O caminho é pedregoso e a entrada da mina fica num
lugar meio encantado e de difícil acesso.
Procurei saber se prata ainda serve para alguma coisa, e parece que
não. Nem para fazer anel de cigano. Os talheres e baixelas dos ricos não são
mais de prata, a Tramontina ganhou a concorrência. Rodei o shopping e não
encontrei nada de prata para comprar, saiu de moda. Bijuteria vale mais do que
prata. Tenho um amigo que tem uns sacos cheios de prataria num depósito,
herdado da família, e não acha a quem vender. Antigamente passava gente
comprando alumínio velho, cobre e metal.
Até garrafa usada e frasco de brilhantina tem comprador. Mas não conheço
ninguém que compre prata. Ainda tem um complicador, a mina de prata fica num
Parque Nacional, mesmo que valesse muito seria tudo do governo.
Pensei bem e resolvi me aquietar. Não vou esmiuçar o segredo de
Belchior Dias Moréia. Continuem pensando que as minas de prata da serra de
Itabaiana são lendas. O carneiro de ouro da Serra de Itabaiana continuará
enterrado, à espera de dias melhores.
"... achey hum hindio cariry (conta-o Barbosa Leal),
hum hindio velho, de cem annos, por nome Taburú; e descobri com muyta endustria
haver elle acompanhado a Melchior Dias naquelle seo descobrimento, o que esse
hindio tinha muito calado e negado (me dice elle) por assim lho ordenar
Melchior. E disse o hindio velho que cozeo no fogo, em hum testo ou tacho, uns
seixos; e depois lavou muyto, e tirou uma pedrinha branca; e Melchior Caramurú
fizera muita festa com espingardas; e lhes mandara não mostracem nunca a
brancos aquelle logar..."
Antonio Samarone.
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