sábado, 9 de junho de 2018

SANTO ANTONIO FUJÃO


A caminhada em torno de Santo Antonio fujão


Vladimir Souza Carvalho
Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras
vladimirsc@trf5.jus.br


Itabaiana volta os olhos para o passado. Primeiro, foi o busto de Tobias Barreto erguido na Praça Fausto Cardoso, de Tobias que, na veste de professor de latim, por três anos viveu em Itabaiana, então vila, passagem que Sebrão, sobrinho, eternizou em Tobias Barreto, o desconhecido. Depois, e, recentemente, a quixabeira plantada na Praça Fausto Cardoso, para sedimentar que, naquele sítio, há tantos séculos atrás, a segunda igreja foi erguida em território itabaianista ao lado de uma quixabeira. 

Agora, num passo maior, na próxima quarta-feira, dia 13 de junho, o itabaianense, pela primeira vez, vai fazer a caminhada da Igreja Velha para a Matriz, na mencionada Praça Fausto Cardoso, num percurso de cinco quilômetros, no dia reservado à Santo Antonio. A Igreja Velha, cujas ruínas desafiam os anos, é uma referência à primeira igreja erguida em nossas terras. Na caminhada, a menção ao Santo Antonio fujão, que, na lenda, era colocado ao lado da quixabeira, o padre perguntava se ele queria que a sua igreja fosse erguida naquele local, respondendo o santo positivamente com a cabeça, o cordão ardilosamente puxado pelo sacristão.

A caminhada, pois, se volta para homenagear o Santo Antonio fujão, a marcar a sua ida da Igreja Velha para o templo religioso na futura sede da urbe, que, por força do tempo teria seu início, numa implícita evocação a fatos ocorridos no século dezessete, de tanta e tão grande importância na vida de Itabaiana, que, nesse século, se torna vila, ou seja, começa a dar seus passos de comunidade organizada e a tomar posição em nível de Sergipe, ainda mera província.        

Tudo isso se situa no projeto de se debruçar sobre o passado, na tentativa de marcar fatos importantes, ligando o pretérito ao futuro e o futuro ao pretérito, na valorização do passado, dentro da cultura da história local, de assinalar nas ruas os fatos importantes, sedimentado-os em placa, para que o itabaianense de hoje e de amanhã saiba que tivemos e temos passado, e a ele nós voltamos na busca de inspiração para esse porvir que todo dia nasce com a luz do sol, evidenciando essa prática que começou a ser colocado em texto, no século dezenove, com Francisco Antonio de Carvalho Lima Júnior, prosseguiu com Sebrão, sobrinho, encontrou em mim a pena que trasladou os dois e suas importantes obras para os dias atuais, acrescentando-se algo mais além do incentivo e do exemplo, continuando com José de Almeida Bispo, Robério Barreto Santos, José Augusto Baldock, José Rivadálvio Lima, no que tange a produção de trabalhos de história, entre tantos que também não conheço, e, ademais, agora, precisamente agora, com iniciativas vitoriosas de Anselmo Rocha, conterrâneo de Frei Paulo, acolitado por Antonio Samarone de Santana e Antonio Francisco de Jesus (Saracura), entre outros.

A caminhada de Santo Antonio fujão é outra forma de, no dia 13 próximo vindouro, me deixar o dia inteiro, no Tribunal Regional Federal da 5ª Região, no Recife, mergulhado na boa inveja de não poder dela participar, certo, com o apoio de Santo Antonio, que, aposentado, em breve, dela participarei, chapéu na cabeça para não deixar o sol bater no ralo capim de minha cabeça quase careca, tênis apropriado, água para satisfazer a sede, celular na mão para alguns registros, e a alegria de sair da Igreja Velha nessa caminhada até a sede da Matriz, na condição ímpar de um  peregrino a mais.

Vai faltar, apenas, na chegada, Capitu, ou seja, Capitulino,  com o charuto aceso e o foguete na mão, para, no momento certo, alguém largar o aviso: - Fogo, Capitu! E, aí, então, o foguete subia em direção ao céu, para lá em cima estourar, a flecha caindo célere, obrigando todos a procurar abrigo, e, entre eles, eu, menino ontem, que guardei o fato na gaveta que, por uma dessas coincidências da vida, foi batizada de saudade.     

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