quarta-feira, 11 de dezembro de 2024
SETENTA ANOS - EM BUSCA DOS ORÁCULOS.
Setenta anos – em busca dos oráculos.
(Por Antonio Samarone)
Nunca pensei em chegar aos setenta, mas cheguei! O nome é bonito: septuagenário.
Gastei parte da vida com coisas fúteis. Empunhei bandeiras utópicas. Combati o bom combate e perdi! Quase tudo. O mundo desandou por caminhos que eu acreditava superados.
Fui ateu na juventude. Acreditava que o homem era a medida das coisas. Fui discípulo do iluminismo do século XIX. Busquei o paraíso perdido. Uma ilusão.
Errei! Negar o sagrado foi uma manifestação de arrogância.
Deparei-me com três mistérios: o Cosmo, a Vida e a Consciência.
Todas as cosmogonias são metafóricas. A Terra sozinha, já é um mistério. Explicar a origem da vida quimicamente ou pelo criacionismo dos catecismos esbarram na mesma fantasia. A vida e a morte continuam misteriosas.
Por último, como explicar a origem da consciência? Talvez o mais difícil. Já acreditei que a ciência chegaria lá, seria uma questão de tempo. Se a consciência subsiste ao corpo, não sei, e desconheço quem sabe. A consciência sente, pensa, percebe e intui. É muito, para ser apenas um fenômeno da matéria organizada.
Hoje, citando Einstein, acredito no Deus de Spinoza. Deus é a harmonia do cosmo! Só que esse deus absoluto não nos socorre, nos momentos de aflição.
A alma humana, nos momentos de sofrimento, precisa de amparo. Quando precisamos de socorro, misericórdia ou proteção, buscamos as divindades interiores. Que pode ser Jesus, Javé ou Alá, Buda ou Maomé, Oxum ou Tupã, Dionisio ou Orfeu.
Sinto a complexidade da psique humana. Percebo a força do inconsciente e dos instintos, e a ação poderosa dos arquétipos. A consciência possui história, herdou resíduos arcaicos. Muita coisa está fora da compreensão humana.
Na Grécia, os doentes pediam a Asclépio, o deus da medicina, um sonho para indicar-lhes a cura.
Por mais que busquemos um comportamento racional, continuamos à mercê de forças fora do nosso controle. A ciência é impiedosa, ela não afasta a nossa inquietude.
Na reta de chegada, o objetivo central é manter o sopro da vida. Comemorar cada dia, enfrentar as contingências sem lamentações.
Quem quiser briga, aproveite até domingo. Depois, será só contemplação. A vida é um curto sonho!
Por que nos privarmos de crenças que ajudam nas crises e dão um certo sentido à vida?
Antonio Samarone – Septuagenário.
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