domingo, 15 de dezembro de 2024
ITABAIANA, 350 ANOS. VICENTE DE BELO.
Itabaiana, 350 anos - Vicente de Belo.
(por Antonio Samarone)
A farinha de mandioca de Itabaiana, ainda é a melhor do Nordeste. Virou marca de qualidade. Hoje, essa tradição estendeu-se pelo Agreste sergipano. Do Tipiti dos Tupinambás a farinha pó do Rio das Pedras, foram séculos de avanços tecnológicos.
Nas tradicionais casas de farinha, tudo era artesanal: a prensa, o rodete, o forno de barro, o rodo, a raspa, o cocho e a peneira. Em Itabaiana, quem trouxe o motor para substituir o rodete, foi Vicente de Belo.
Vicente de Belo montou uma loja, na parte térrea da casa paterna, na esquina da Rua do Cisco, com a Rua das Flores, e trouxe os motores de casa de farinha de São Paulo. Uma revolução tecnológica.
Vicente Machado Menezes (Vicente de Belo) nasceu no Pé do Veado, em 30 de novembro de 1927. Filho de Felisbelo Machado Menezes (Belo) e Cecilia Ferreira de Almeida (Cila), numa família de vários irmãos: João; Zeca; Zé Pequeno; Lourdes (Mãe do Veio Belo); Mariá; Maria Pequena (esposa de Zé de Fulosina).
Vicente se criou nas terras do pai, como todos os meninos da roça. Tomou muita mordida de formiga preta, ou seja, trabalhou na enxada. Frequentou a escola de Dona Nalzir.
Vicente de Belo, filho de um grande pecuarista, se destacou no comércio. Foi o que se chama em Itabaiana um grande balcão, sabia vender e comprar, tinha talento para os negócios. A Casa São Vicente, continua exitosa, vendendo material elétrico/eletrônico, e derivados.
Vicente de Belo casou-se com Dona Maria Josefina Meneses (Dona Juzi), em 26 de setembro de 1963, na Igreja de Santo Antonio e Almas. Tiveram 3 filhos, dois deram continuidade ao empreendimento do pai: João Vicente e Luciene (professora).
Dona Juzi é filha de João do Volta (Pecuarista) e Dona Lucila Goes, descendente dos "Bezerras", de Frei Paulo. Ou seja, as raízes econômicas de Vicente e Dona Juzi eram a pecuária. Herdeiros dos curraleiros, que colonizaram Itabaiana, desde o século XVII.
Dona Juzi era da tradicional família dos "Voltas", pecuaristas famosos da Região. Uma família grande em Itabaiana: Antonio Fernandes (sogro do médico Marcondes); Zé Bangala; Nico; Salete; Eunice, mãe de Ivo; Luci; Bosco; Euclides; Abílio; Vadinho e Rivas (Vereador). Faltou alguém?
Vicente de Belo foi um comerciante bem-sucedido, um homem probo, conservador, temente a Deus, pacato, voltado para a família, que ajudou no desenvolvimento de Itabaiana.
Aí veio a política!
Entre o fim do Estado Novo (1945) e o Golpe Militar de 1964, o Brasil viveu um interregno democrático, onde as disputas políticas afloraram. Em Itabaiana, vivia uma transição: de uma economia de agrícola para comercial. A chegada da BR – 235 e dos caminhões, impulsionaram o comércio.
Entre 1945 e 1964, as disputas políticas em Itabaiana (PSD – Manoel Teles X UDN – Euclides Paes Mendonça), envolviam o controle do comércio atacadista. As paixões e a violência foram aos extremos). A disputa terminou em assassinatos.
Os militares acabaram os Partidos, criou a ARENA, e obrigou que adversários odientos, sentassem a mesma mesa, carregassem a mesma bandeira.
Em Itabaiana houve um acordo para chapa única: na primeira eleição (1967) a ex UDN indicaria o Prefeito e o ex PSD indicaria o Vice.
E assim foi feito. Em 1967, Vicente de Belo, um conciliador, foi indicado pela UDN e Derivaldo Correia, sobrinho de Jason Correia, pelo PSD. A vitória foi tranquila. O MDB lançou José Enio Araújo.
Vicente de Belo, tornou-se um torna-se o Prefeito (1967 a 1971) da transição, das lutas políticas em Itabaiana. Já tinha sido Vereador, por um mandato.
Nas eleições seguintes (1972), para se cumprir o acordo pacificador, inverteu-se, o ex PSD indicou Mozart Fonseca e a ex UDN, indicou Pituca de Seu Heleno, para vice.
Aqui houve uma dissidência. O novo líder político, Chico de Miguel, eleito deputado estadual em 1966, na época preso, não concordou com a chapa. Faltando 15 dias para as eleições, Chico decidiu apoiar o candidato do MDB, o alfaiate Filadelfo Araújo, que disputava sem nenhuma chance. Resultado, Chico de Miguel, preso, elegeu Filadelfo. Nasceu aí um novo chefe político, Chico de Miguel, que dominou a política de Itabaiana, por décadas.
Em 1976, as disputas políticas estavam restabelecidas em Itabaiana. Chico de Miguel elegeu o filho, Antonio Teles de Mendonça - Prefeito e José Américo Bispo - Vice, com estrondosa votação. A ARENA II, antigo PSD em Itabaiana, lançou Fernando Mendonça, filho de Etelvino.
Vicente de Belo foi uma exceção aos enfrentamentos e paixões políticas: foi Prefeito de Itabaiana, numa chapa de conciliação. Um pacificador! Fato isolado, na aquecida história politica de itabaiana.
Vicente de Belo foi eleito em 12 de março de 1967 e tomou posse em 30 de março, às vésperas do terceiro aniversário do Golpe Militar. Fez uma administração pacífica, sem ódios, voltada para realizações.
Em sua gestão, dezenas de ruas foram pavimentadas a paralelepípedo; urbanizou a Praça Fausto Cardoso (foto); construiu a Praça de Santa Cruz, com o seu monumento a Apolo 11; iniciou a construção da rede de esgoto; pavimentou o Largo Santo Antonio e o José do Prado Franco; reformou e construiu estradas vicinais para os povoados.
Em seu mandato, foi construído Estadio Presidente Médici, atual Etelvino Mendonça, pelo governador Lourival Batista.
Vicente de Belo encerrou o seu mandato de Prefeito em 31 de dezembro de 1971, retornando a sua vida privada, de próspero comerciante.
Um fato relevante: desconheço os inimigos de Vicente de Belo. Entrou e saiu da política dignamente.
Vicente de Belo faleceu em 26 de junho de 1994, aos 67 anos, após longa enfermidade.
O Prefeito Vicente de Belo, deixou um legado de paz e realizações para Itabaiana. Deixou também a Casa São Vicente e dois filhos (João Vicente e Luciene), que dão continuidade ao legado do pai.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
(A foto é do acervo de Almeida Bispo.)
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