terça-feira, 2 de abril de 2024

GENTE SERGIPANA - PLÁCIDO CANUTO


Gente Sergipana – Plácido Canuto.
(por Antonio Samarone)

Freud no Sertão.

Freud rompeu com a medicina oficial. A psiquiatria, no início do século XX, seguiu o médico alemão Emil Kraepelin, com a sua psiquiatria orgânica.

“Só as pulsões são verdadeiras. O Ego e o Superego são solúveis em álcool.” Garcia Moreno.

Plácido Canuto, 92 anos, formou-se na Bahia, na centenária Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus. Plácido nasceu em Cipó de Leite, uma Aldeia de Carira. Os pais eram de Itabaiana. Após a especialização, montou o seu consultório itinerante no Sertão Baiana, atendendo às segundas-feiras na cidade de Carira.

Plácido, chegou a psiquiatria pelas mãos do sábio sergipano Garcia Moreno. Uma psiquiatria quase freudiana. Ele exerceu, a psicanálise no sertão Bahia/Sergipe, em meados do século XX.

Antes de abrir o consultório, o Dr. Plácido fez especialização em psicanálise, por seis meses, em Freiberg, na Morávia. Passou 2 anos circulando pela Europa, transpirando a cultura do Velho Mundo. Plácido é filho único de um grande latifundiário.

Ao retornar, logo percebeu que o inconsciente é histórico. O Freud descrevia em suas análises, os sonhos dos seus pacientes, brancos, europeus do fin-de-siècle. Plácido observou que o inconsciente dos sertanejos, não batia com os descritos nos livros.

As suspeitas do Dr. Plácido se confirmaram, após a sua leitura do clássico, do seu colega médico, Guimarães Rosa. O romance de Riobaldo com Diadorim é uma aula da teoria freudiana, em sua versão sertaneja.

Hoje, aos 92 anos, o Dr. Plácido é um médico esquecido. A idade concede aos idosos, antecipadamente, as prerrogativas dos mortos.

A medicina de mercado não cultua os improdutivos. À Academia Sergipana de Medicina, mudou até os estatutos, para jubilar os idosos legalmente. Não bastasse o esquecimento natural. A imortalidade, na Academia, passou a ser uma prerrogativa dos vivos. Para os idosos, virou uma pós-imortalidade.

Uma imortalidade pós-moderna!

O Dr. Plácido é um homem fino, culto e possuí um grande cabedal. Continua bem de memória. Quando novo, trabalhava por vocação e caráter. Não tem herdeiros. A esposa já faleceu e não teve filhos. Mora num castelo, no miolo do Raso da Catarina.

O Dr. Plácido Canuto Lê os textos de Freud em alemão.

Na entrada de sua Fazendo, o Dr. Plácido entronizou uma estátua, tamanho normal, de Sigmund Freud. Avistada as léguas de distância.

O Grande Sertão - Veredas, virou o livro de cabeceira do Dr. Plácido Canuto, o Freud do Sertão. A sua edição é autografada pelo colega, o Doutor Rosa, como ele ainda chama, com intimidade.

Antonio Samarone – médico sanitarista.
 

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