terça-feira, 16 de abril de 2024

O VELHO CORIFEU.


 O velho Corifeu.
(por Antonio Samarone)

Nos primórdios, o PT se achava um partido comandado pelas bases. Cada reunião era uma assembleia, onde se discutia os destinos da humanidade. Finalmente, a classe trabalhadora tinha encontrado um farol.

O “basismo” ideológico era uma resposta aos Partidos Comunistas, que acreditavam numa vanguarda do proletariado. Os comunistas não souberam derrotar a ditadura, pensava a mocidade revolucionária.

No PT, as discussões eram tábulas rasa, tudo começava do zero. A opinião do mais humilde e noviço militante valia tanto, como a dos velhos e cascudos líderes.

Aliás, ser acusado de intelectual, não era um defeito pequeno.

Nos encontros, as posições políticas eram antecedidas de “teses”, escritas previamente para subsidiar os debates. Uma herança marxista, da política como ciência, guiada por princípios. Qualquer polêmica, os mais puros diziam aos brados: “princípios não se negociam”. Como quase tudo era princípio, as negociações ficavam prejudicadas.

Após exaustivas discussões, aos sábados pela manhã, após centenas de inscritos, quando a confusão estava em seu auge. O último inscrito para falar, o professor Luiz Alberto, emitia o veredicto final. Que valeria até a próximo sábado, onde tudo seria reaberto.

Luiz Alberto costurava as teses mais esdrúxulas. Dava a razão a quase todos os oradores, para, no final, iluminar a todos com a verdade. Luiz era um cavalheiro. A sua fala deixava um ar de satisfação, de missão cumprida. Afinal, a tese de que trabalhador só vota em trabalhador, era quase uma certeza. Uma unanimidade.

Claro, quase tudo isso era “Mise en Scène”, que a maioria acreditava.

Hoje, o PT segue outro caminho. As discussões são outras. Fico pensando, talvez, o professor Luiz Alberto, não tivesse espaço para as suas longas e brilhantes análises de conjuntura. Quando o professor citava Marx, era um encantamento geral, a certeza da verdade.

Um antigo correligionário, me confessou que não se lembrava de mais nada, nenhum tópico, nenhum tema, nenhuma divergência mais relevantes. Nada, nada ficou das eternas reuniões matinais dos sábados. Eu fiquei calado, mas também não me lembro de muita coisa.

O mundo, o Brasil, a política e as esquerdas mudaram muito.

Saudades, dos tempos do Professor.

Antonio Samarone. (médico sanitarista)

Um comentário:

  1. Sim...
    Mas qual a proposta vencedora?
    A do companheiro Véi' Belo, de irmos panfletar junto ao "camponeses" do Lagamar, de bicicleta; ou a do do companheiro Sinval de Purga de Cós (junto com Gilson de Chico Bateria e mais uns quatro), de panfletar indo de carro até o povoado?

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