Fernão Carrilho.
(por Antonio Samarone)
O Dr. Thomas, oftalmologista da escola de Hilton Rocha, é um amigo que deixei em Belo Horizonte (1980/81). Colega da residência médica, na UFMG.
Mantemos contatos frequentes, pelas redes sociais.
Ontem, ele enviou-me um vídeo de “Punta del Este”, onde está hospedado. A surpresa: o vídeo é sobre um cidadão do Carrilho, vendendo castanha assada e fazendo a propaganda em versos, no Uruguai.
A castanha do Carrilho ganhou o mundo. Hoje são 4 povoados: Carrilho, Tabocas, Dendezeiro e Lagoa do Forno. Itabaiana não produz a castanha “in natura”, precisa buscá-las no Ceará e Piauí. O comerciante vai comprá-las onde se produz e repassa para os pequenos empreendedores.
No Carrilho, a castanha in “in natura” é vendida aos empreendedores locais, por de 5 reis, o quilo. Um saco de 50 kg de castanha, bem trabalhadas, resultam em 10 kg de castanhas assadas. A trabalhadora que assa e quebra, recebe cem reais por cada saco de castanha assada.
Uma curiosidade, para amenizar o calor, esse trabalho de assamento é feito geralmente pela madrugada.
Como, sem grandes plantações de cajueiros, Itabaiana se tornou o maior produtor de castanhas assadas do Brasil? Um esclarecimento: castanha assada! A castanha do Ceará é cozida em altos-fornos e autoclaves. É outro produto.
A castanha assada do Carrilho é uma herança do antigo quilombo. A castanha é colocada em bandejas perfuradas, sobre o fogo, diretamente. Em minha infância, colocávamos em bandas latas furadas.
O segredo é o ponto. O assamento deve ser suspenso no momento certo. A castanha nem pode queimar, nem ficar crua. Deve ficar em ponto de permitir quebrá-las inteiras. Depois se faz o pelamento. Tira-se a casquinha. Esse processo é todo manual, feita por peritas seculares.
O Carrilho leva o nome de uma Entradista português, Fernão Carrilho, encarregado de destruir os quilombos de Sergipe, no século XVII. Carrilho foi comandante em Palmares e Presidente da Província do Maranhão.
Mas o sucesso do negócio da castanha assada do Carrilho, além da experiência de se assar a castanha, é preciso que se encontre mercado para vendá-las. A produção se realiza no consumo.
A viabilidade da produção da castanha, deve-se aos vendedores. Gente que sai de Itabaiana em meados de novembro, com uma Van carregada de castanha assada, e só retorna depois do carnaval.
Periquito, o vendedor que o meu amigo conheceu em Punta del Este, e fez o vídeo, faz parte dessa longa cadeia produtiva da castanha assada do Carrilho.
Não existe desemprego no Carrilho. Nem pedintes.
O povoado possui água tratada, esgoto, luz elétrica, pavimentação asfáltica, casas de alvenaria bem cuidadas, praça urbanizada, com área de lazer para as crianças, escola e creche. Não se registra problemas de segurança pública, nem galinha se rouba.
Dorme-se de portas abertas!
Antonio Samarone. – médico sanitarista.
domingo, 21 de abril de 2024
FERNÃO CARRILHO
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário