Zeca Cego (reminiscências). (por
Antônio Samarone)
Segundo o manuscrito, Zeca Cego
conheceu Prestes pessoalmente, em Crateús, no Ceará.
Em janeiro de 1926, de passagem
por Crateús, Seu Zeca assistiu à entrada da Coluna Prestes na cidade, sob o comando do
Capitão João Alberto. Trocou algumas palavras com o Cavaleiro da Esperança. Se ofereceu para ser recrutado, mas os revoltosos o acharam muito novo. Ele só sabia atirar
de garrucha.
A paixão de Zeca Cego pela Coluna Prestes foi profunda e vitalícia. De forma quase instintiva, Seu Zeca foi o primeiro comunista que se tem notícia em Itabaiana.
Zeca Cego possuía uma grade de
cerais na feira de Itabaiana. Ele vendia feijão no litro. No peso, só a carne. Não
se pesava nem cereais, nem farinha. A farinha era vendida na medida (quarta,
terça, litro).
Zeca Cego descia a rua do Futuro,
com um livro debaixo do braço, brandindo uma dialética comunista mal assimilada,
numa linguagem incompreensível para uma comunidade de camponeses
semialfabetizados. Zeca Cego também recitava poesia.
Seu Zeca era um comuna que nunca perdeu uma procissão de Santo Antonio. Era assim em Itabaiana: comunistas e católicos apostólicos romanos. Ninguém perdia uma Santa Missão.
Existia uma unanimidade em Itabaiana:
Zeca Cego era meio doido. Eu nunca acreditei!
Continua o manuscrito de Zeca Cego em outro
trecho:
“No caminho da Pedreira morava
Seu João Barraca, que passava o tempo lendo, sentado numa cadeira de balanço, com
um pé no assento. Seu João lia muito. Entre as suas leituras preferidas estava
uma velha edição do 18 de Brumário”.
Seu João Barraca era irmão de Seu
Euclides (foto), o guarda noturno, e do notório rezador Manoel Barraca, o pajé
do Tabuleiro dos Caboclos. Seu João era o pai de Cosme e Damião, craques do
Itabaiana.”
Soube que o Cosme ainda é vivo!
Antônio Samarone.
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