Meus Piolhos. (por Antônio Samarone)
“Futucando bem/ Todo mundo tem
piolho/ Ou tem cheiro de creolina/ Todo mundo tem um irmão meio zarolho/ Só a
bailarina que não tem...” -Chico Buarque
Antigamente em Itabaiana, os meninos
eram infestados de piolhos. Quase todos. O piolho, era uma praga universal nas
escolas. A gente se acostumava com as coceiras. Nem percebíamos. Até gostávamos.
Tudo coçava: piolho (Pediculus
capitis), pulga (Pediculus humanus), caseira (oxiúros), chato (Phthirus púbis),
bicho de pé (Tunga penetrans), sarna (Sarcoptes scabiei) sovaqueira e chulé.
Quando se pisava numa cama de sapo, até a alma coçava.
O ciclo do piolho inicia-se com a
postura. Os ovos necessitam de 4 a 14 dias para eclodirem em larvas (as
lêndeas), que atingem o estágio adulto em 2 semanas. A maturidade sexual ocorre
em 4 horas, com cópula imediata. Sobrevivem de 3 a 4 semanas. Cada piolho põe
cerca de 90 ovos. Minha mãe sabia tudo isso.
Os piolhos sempre acompanharam os
homens. Já foram encontrados em múmias egípcias de 3.000 anos a.C., em pentes
da época de Cristo encontrados nos desertos de Israel e em múmias do Peru
pré-colombiano.
Formas de combate:
Catação manual – o piolhento
colocava a cabeça no colo da catadora, para um cafuné sanitário pouco higiênico.
Se catava um a um, piolho a piolho. Depois se matava o piolho na unha. As lêndeas
eram jogadas num pano, que ficava sobre as pernas da catadora. Um boa catadora tinha
cuidado para extrair o inseto sem puxar o fio de cabelo.
A minha mãe não era uma catadora
paciente, os fios de cabelo não escapavam. Para mim era uma sessão de tortura,
que eu reagia balançado a cabeça. Mamãe me acalmava com cascudos. Acho que ela fazia
de propósito. Já perdoei a muito tempo.
Passar banha de porco e depois o
pente fino, permitia uma retirada mecânica. Às vezes era suficiente, às vezes
não. Nos meninos, podia-se apelar para a raspagem da cabeça. Dava muito na vista,
todo mundo sabia que a cabeça foi raspada por causa dos piolhos. Depois rasparam
a minha cabeça pela aprovação no vestibular. Achei estranho!
]
A aplicação de Neocid era um
recurso radical contra os piolhos. Aplicava-se o veneno na cabeça do infeliz,
cobria-lhe a cabeça com um pano de algodão branco, e horas depois, ao retirar,
o pano estava forrado de piolhos. Dava até para contar. A operação precisava
ser repetida, o veneno não matava nem os ovos, nem as lêndeas.
Ainda me lembro do som emitido
quando se apertava a lata de Neocid, um pof-pof específico, para o veneno sair
por um buraquinho na dobra da tampa. Aplicava-se com a lata fechada.
O Neocid antigo era da Bayer, um
inseticida em pó à base dos organofosforados, comercializado numa lata (foto)
contendo 50 gramas do produto. A mesma composição química do “chumbinho”. Um
detalhe macabro: havia uma informação na lata indicando que o veneno era
inofensivo para os humanos e animais domésticos.
Hoje se sabe que esse veneno é
cancerígeno e teratogênico.
Os piolhos estão voltando!
Recebi
um WhatsApp de um amigo, pedindo ajuda para debelar uma infestação de piolhos numa
escola na comunidade onde ele mora. A escola está empesteada. Além da lepra, sífilis
e tuberculose, os piolhos também voltaram.
Antônio Samarone.
Adorei seu texto, como sempre! Era assim, mesmo!
ResponderExcluirSegundo meu pai depois que as mulheres começaram a esquentar os cabelos para alisar os piolhos se acabaram.
ResponderExcluirKkkkk. Piolhos nosso de cada dia. Já tive sim!
ResponderExcluirAdorei .2😁😁😁😁
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