As Grandes Muralhas... (Por Antônio
Samarone)
Em meados do século XX, Itabaiana era uma cidade de camponeses,
artesãos e negociantes. Com a chegada da BR - 235 e do Colégio Murilo Braga, emergiram
os caminhoneiros e os intelectuais. A cidade se desenvolveu, veio a riqueza.
Nesse primeiro período, havia uma
acentuada igualdade: nem éramos muito ricos, nem muito pobres. A terra era bem
dividida, o dinheiro também. A cidade era urbanisticamente misturada. O Beco Novo,
onde moravam os pobres, terminava na Praça da Igreja, onde moravam os ricos.
Ricos, remediados e pobres, na
hora das brincadeiras de prender e soltar, “pé em barra”, das peladas de
futebol, dos banhos nos tanques, de roubar manga, íamos todos juntos, ou quase
juntos. As festas eram as mesmas. Santo Antônio era dos pobres, mas também
protegia os ricos. Todos torcíamos pelo Itabaiana.
Itabaiana cresceu, os ricos
aumentaram e os pobres também. O talentoso Melcíades (o nosso Gaudí), criou uma
arquitetura típica, um novo estilo urbano. Os ricos construíram o bairro Morumbi.
Já não éramos mais a misturada comuna primitiva.
Recentemente, um criativo empresário
segregou ricos de pobres, criou grandes condomínios. Dividiu a cidade com grandes
muralhas. Muito muro, cerca elétrica e guardas. “Cada macaco em seu galho”, dizem
os entusiastas dessa Itabaiana. Hoje uma parte da cidade está cercada!
Urbanisticamente, somos duas
Itabaianas. Uma dentro dos muros e outra fora. A Itabaiana de dentro, pode circular livremente
pela de fora. Mas a Itabaiana de fora, para circular nos condomínios cercados, precisa se identificar
na portaria, dizer o que vai fazer, quem vai visitar e receber o sinal verde.
Não estou fazendo juízo de valor,
apenas descrevendo uma realidade.
Dirão os mais apressados: “Mas
esse apartheid não foi inventado em Itabaiana”.
Eu sei!
Ocorre em Itabaiana que, o idealizador
das “grandes muralhas” quer ser Prefeito, será candidato e deve apresentar “propostas”
para a Itabaiana do futuro. É o que se espera.
Todos dentro dos muros? Cercar tudo,
como nas cidades medievais?
Eu não sei. Prefiro aguardar!
Que Itabaiana queremos construir
e para quem? É essa a minha curiosidade.
Antônio Samarone.
Parabéns! Extrema lucidez que, com certeza, irá desagradar alguns novos ricos em suas cidadelas e, outros poucos entusiastas do oportunismo.
ResponderExcluirExcelente análise!
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