A paixão pelos exames. (por Antonio Samarone)
Rosa Maria, 67 anos, viúva, seis filhos, nascida e criada na Sambaíba. Rosa tinha um verdadeiro fascínio pelos exames de laboratório. Ela tratava-os com intimidade, apenas como exames.
Rosa não deixava o Dr. Valadão sossegado. Queria exames quando sentia qualquer mal-estar, para saber os motivos. Queria quando estava bem, para saber se existia algo de errado que ela não estivesse percebendo e, algumas vezes, queria só porque tinha passado muito tempo do último exame.
A mesma paixão Rosa Maria devotava aos exames instrumentais. Ela fazia semestralmente uma endoscopia digestiva alta, para avaliar o estomago, um ecocardiograma, uma TAC (Tomografia Axial Computadorizada), para saber se existe sinais de algum tumor escondido no pulmão ou no cérebro e uma ressonância magnética, para antecipar algum sinal precoce de Alzheimer.
Se houvesse dúvidas, Rosa Maria pedia para repetir os exames.
Mesmo assim, Rosa Maria só vivia reclamando: “Nunca mais fiz um exame, preciso me cuidar”. Rosa era uma sofredora, um padecimento antigo, que os remédios da medicina apenas atenuavam. O diagnóstico, cada médico dizia uma coisa.
Rosa pagava uma pequena fortuna ao Plano Plus de Saúde Bradesco, para ter de tudo quando precisasse. Entre a saúde e a salvação, ela priorizava a saúde.
Nesse domingo de carnaval, Rosa Maria morreu de repente. Passou um vento. O médico que assinou o atestado de óbito, depois de revisar todos os exames, que ela guardava embaixo do colchão, assinalou: “morte por causa ignorada.” Uma decepção para a família, logo ela, que tanto se cuidava, a medicina não sabia a causa morte.
Em meio as incertezas da família, Seu Belisário, rezador afamado na Itabaiana Grande, sentenciou: “Rosa Maria morreu de raiva guardada.” Ela nunca teve nenhuma doença grave, era sã psíquica. Ela padecia dessa raiva guardada, um ódio antigo, uma mágoa incurável, que lhe causava um grande sofrimento, e terminou matando-a.
Tem coisas que a tecnologia médica ainda não alcança só com exames, disse o rezador Belizário.
Descanse em Paz, Dona Rosa Maria de Oliveira, do velho tronco dos ferreiros das Flechas.
Antonio Samarone.
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