Os miasmas do Aracaju – impaludismo ou sezão.
(por Antonio Samarone)
(por Antonio Samarone)
Desde a fundação, os baixios pestilentos do Aracaju eram infestados de mosquitos. Aracaju era zona endêmica de malária, e outras pestes. As que mais matavam eram a bexiga, as câimbras de sangue e a tísica ou peste branca.
Um grande agravo em Aracaju foi a infestação pelo Anopheles gambiae, mosquito de origem africana. O melhor vetor da doença no mundo, que no final da década de 1930, invadiu a Capital de Sergipe. Grandes investimentos foram realizados em Aracaju para erradicar esse mosquito.
Os recursos da Fundação Rockeffeler para a erradicação do “gambiae”, um transmissor da malária de habitat domiciliar, custearam o aterro de várias lagoas, bem como a construção e drenagem dos famosos canais do Aracaju.
A Organização Mundial da Saúde lançou em 1957 as bases para a Campanha Mundial de Erradicação da Malária, que incluía uma fase preparatória, com a identificação de todas as áreas malarígenas e seus imóveis em condições de receber a aplicação do inseticida, seguida de uma fase de ataque, com a borrifação semestral de DDT nos imóveis.
Em seguida, o tratamento de todos os moradores com sintomas, coleta de amostras de sangue para confirmação laboratorial e aplicação de medidas de controle de criadouros dos mosquitos (drenagem, aplicação de larvicidas). Nesta fase era obrigatória a observação do princípio de cobertura total.
Em fevereiro de 1965, o Dr. José Leite Primo, coordenador do Departamento de Erradicação da Malária em Sergipe, declarou publicamente: a malária está controlada em Sergipe. Durante o ano de 1964 foram notificados apenas 39 casos, quase todos importados da Bahia, e somente 03 casos oriundos do território sergipano.
A principal ação foi o uso intensivo do DDT (diclorodifeniltricloretano) no combate ao mosquito transmissor da malária.
A doença encontrava-se na fase de vigilância. A malária é uma doença infecciosa, causada por um protozoário unicelular, do gênero Plasmodium e transmitida de uma pessoa para outra, por meio da picada de um mosquito do gênero Anopheles, por transfusão de sangue ou compartilhamento de agulhas e seringas infectadas com plasmódios.
Durante o ano de 1964 foram borrifados com DDT setenta mil unidades domiciliares em Sergipe, por duas vezes, sendo consumidos sessenta toneladas do inseticida, para a erradicação da malária.
O DDT foi a maior arma.
Depois da borrifação, foram examinada 40.108 pessoas febris e constatada a doença em apenas 42, e somente 03 casos foram adquiridos em Sergipe.
O DDT (dicloro-difenil-tricloroetano), uma substância produzida em 1874, por um laboratório de Estrasburgo, França, e que teve sua propriedade como inseticida descoberta pelo Químico Paul H. Müller, em 1939, o que lhe agraciou o prêmio Nobel de Medicina, de 1948.
O DDT foi o primeiro pesticida moderno, eficaz para a erradicação de vários tipos de artrópodes. Foi eficiente no combate à malária, febre amarela e ao tifo.
No Brasil, o DDT foi o responsável pela erradicação do Aedes aegypti, em 1955. Depois retornou e nos inferniza até hoje. Foi o DDT que acabou com a malária em Aracaju.
O DDT ao lado da penicilina, foram consideradas as duas descobertas mais impactantes no combate as doenças infecciosas, festejadas mundialmente.
Durante décadas, o produto foi largamente usado até a comprovação que, além de provocar câncer, ele demora de 4 a 30 anos para ser degradado. O DDT tem efeito prolongado, move-se facilmente pelo ar, rios e solo e acumula-se no organismo dos seres vivos, no caso do homem na glândula tireoide, fígado e rim.
Em poucas décadas o DDT caiu em desgraça, passando a ser considerado um veneno de elevada toxidade. Por esse elevado risco, o DDT foi banido de vários países como a Hungria (1968); a Noruega e a Suécia (1970); e a Alemanha e os Estados Unidos (1972).
O Brasil, baniu o DDT somente em 2009, proibindo sua a fabricação, importação, exportação, manutenção em estoque, comercialização e uso. No Brasil, o uso do DDT foi intensivo e indiscriminado, quase em controle.
Trabalhadores da Saúde Pública (DENERU, SUCAM) foram contaminados, sem uma devida avaliação das sequelas.
Em Itabaiana, inventaram uma pomada artesanal (vaselina + DDT), muito usada no tratamento das infestações do Tunga penetrans (bicho de porco, bicho de pé). Era um “santo remédio”.
Antonio Samarone.
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