Meu Pediatra...
Em Itabaiana, o boticário Flodualdo Costa Lima era uma
equipe de Saúde. Era o médico, o enfermeiro, o psicólogo e o farmacêutico da
comunidade do Beco Novo. Era um prático talentoso. Sou da metade do século
passado, onde não se cogitava o acesso dos mais pobres a medicina. Pediatra,
nunca ouvi falar. “Como Deus não desampara ninguém”, minha mãe se virava, para que
a gente não morresse a míngua.
Qualquer mazela, bicho do pé, lombriga, fastio, perebas, dor
de ouvido, queimadura, picada de marimbondo, erisipela, frieira, sarna,
catarro, caganeira, impinge, piolho, amarelão, até prolapso da tripa gaiteira,
mamãe não se acanhava, corria para Seu Flodualdo. Até braço quebrado ele encanava.
Um homem fino, atencioso, e que sempre resolvia. Nunca fez cara feia, e nunca
cobrou um centavo. Até porque se cobrasse a gente não tinha. De vez em quando,
mamãe cevava uma franga, para dar de presente.
O boticário Flodualdo foi o meu pediatra. Ele atendia pelos
fundos de sua casa, na rua Monsenhor Constantino, num quartinho que cheirava a
remédios. Foi a minha Unidade Básica de Saúde (UBS). Mamãe ficava de tocaia,
mandava a gente ficar na esquina esperando a chegada do nosso socorro. Chegou,
mamãe corria com a filharada. Na verdade, ele atendia nas horas de folga do seu
trabalho. Não tenho como agradecer o acolhimento do seu Flodualdo. Nunca dizia,
hoje eu não posso.
Flodualdo Costa Lima (1913 – 1997), natural de Aracaju, filho
de Aurelina da Silva Costa e Miguel Arcanjo de Lima, foi auxiliar do Dr. Carlos
Firpo. Casado com a professora Hermelina, e pai de 13 filhos (que se sabe). Um
benemérito da saúde pública, de quem guardo excelentes recordações.
Antonio Samarone.
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