Gente Sergipana – Professora Helena
Meneses (89 anos).
Dona Helena, filha de Dona
Branquinha e Seu Zé Goioiô. Minha professora do primário, no Educandário Santa
Terezinha, no Beco Novo.
Dona Helena era uma educadora
austera, com a palmatória sempre à vista. Nos ditados, a gente tinha que
perceber, pelo tom de voz e respiração da professora, se era ponto, dois
pontos, exclamação, interjeição ou vírgula. E até ponto e vírgula.
Foi na escola de Dona Helena que
aprendi a tabuada. Oito vezes nove, e nove vezes sete, foram os últimos que
decorrei. E isso, cantado. Aos sábados, aula extra, era a temida sabatina. Errou,
a palmatória cantava. Apesar de um excesso de rudeza, Dona Helena foi uma boa
professora. Disciplinadora, só passava quem apreendia.
Na escola de dona Helena não
tinha latrina. As necessidades eram feitas no quintal, num mata-pasto. Para
evitar que saísse ao mesmo tempo um menino e uma menina, existia uma pedra na
mesa dela. Quem saía levava a pedra. O curioso é que a gente chamava a pedra de
licença. Professora cadê a licença? Se não está aqui é porque alguém está fazendo
as necessidades, espere, respondia ela.
Quase que diariamente chegava uma
mãe pedindo para Dona Helena liberar os alunos para acompanharem um enterro de
anjo. Poucos meninos escapavam da mortalidade infantil. Só lá em casa foram três,
dois do mal de sete dias.
Dona Helena morreu só, num abrigo
em Itabaiana. Tentei visitá-la, mas não deu certo. Ao avistar-me, ela baixou a
cabeça. Achei que ela ficou constrangida, e recuei. Fiquei de longe, pensando
na dureza da vida.
Dona Helena de Branquinha, como
era conhecida, foi uma católica praticante, fervorosa. Filha de Maria. Puxava
os cantos das missas e organizava as procissões. Não merecia a solidão que teve
na velhice. Morreu moça, nunca casou.
Cada um cumpre a sua sina. Foi a senhora
que me ensinou a tabuada. Em reconhecimento estou indo ao seu sepultamento, no
Cemitério de Santo Antônio e Almas, em Itabaiana.
Descanse em Paz!
Antônio Samarone.
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