Doidos de todos os gêneros. (por
Antônio Samarone)
A saúde pública desconfia que o
século XXI será dominado pela loucura. Os transtornos mentais, como chamam eufemisticamente
os americanos, ocuparão o topo do sofrimento humano. Sem entrar na falsa polêmica
se os transtornos mentais são doenças da alma, do espírito, da psiquê; ou
distúrbios físico químico dos neurotransmissores, a verdade é que eles chegaram.
Tomando o The Global Burden of
Disease Study (GBD) como fonte, no Brasil, os transtornos mentais representam a
terceira maior carga de doenças, crescentes desde 1990. Esse estudo calcula a
carga global das doenças em cada país, usando como principais indicadores o
DALY (Disability Adjusted Life Years - Anos de Vida Perdidos Ajustados por
Incapacidade); e o YLD (Years Lived With Disabilit – Anos Vividos com
Incapacidade).
Em 2015, os transtornos mentais
foram responsáveis por 9,5% do total do DALY, ocupando a terceira posição na
carga de doenças, atrás apenas das doenças cardiovasculares e dos cânceres. Entre
os transtornos mentais foram responsáveis pela maior carga de doenças: transtornos
depressivos 37,0%; transtorno de ansiedade 30,0%; esquizofrenia 6,0% e
transtorno bipolar 6,0.
Em 2015, os transtornos mentais
(TM) foram as principais causas de incapacidade, sendo responsáveis por 24,9%
do total de YLD por todas as demais causas. Deixando mais claro, do total de
pessoas incapacitadas por doenças no Brasil, 25% deve-se aos transtornos
mentais.
Mesmo sendo mais graves no
Brasil, esse crescimento dos transtornos mentais é mundial. Cinco entre as dez
principais causas de incapacidade no mundo (YLD), pertencem as seguintes
categorias: transtorno depressivos 13,0%; transtorno pelo uso do álcool 7,1%;
esquizofrenia 4,0%; transtorno bipolar 3,3% e transtorno obsessivo compulsivo
2,8%.
Como os transtornos mentais, o
terceiro maior problema de saúde pública no Brasil, observando-se a carga de
doenças (DALY), não aparecem em nenhuma pauta de discussão? 78,8% dos
brasileiros com sintomas depressivos clinicamente relevantes não recebem nenhum
tratamento. O Brasil gasta menos de 2,00 US$ per capita no tratamento e na
prevenção dos transtornos mentais; já os países ricos gastam, em média, mais de
50 US$.
Uma das razões do esquecimento dos
transtornos mentais é a baixa mortalidade, apenas 1,2% do total do YLL (Years
of Life Lost) no Brasil, sendo que 81% desses óbitos são decorrentes do uso de álcool.
Esse baixo número decorre do aparecimento das comorbidades como causa
´principal nos atestados de óbito. As pesquisas apontam que a mortalidade em
pessoas com transtornos mentais é 2,2 superior a população geral, e 80% dos suicídios
são atribuídos aos transtornos mentais.
Você que chegou até aqui, nessa
leitura árida e cheia de números, restou dúvidas sobre a gravidade dos
transtornos mentais? Pois as autoridades sanitárias em Sergipe andam em direção
contrária. (Sendo mais justo, no Brasil como um todo)
O Estado assumiu a urgência no Hospital
São José, mas acabou com o núcleo de saúde mental, sobrando duas ou três
pessoas para cuidarem dos problemas.
O município de Aracaju, que já
teve uma rede de atenção psicossocial elogiada, e equipou as unidades básicas com
profissionais de saúde mental, psiquiatras e psicólogos, passa na atual gestão
por uma descalabro. Estamos no auge da desassistência, do descaso e da
desorganização na rede psicossocial.
Sei que estou pregando no
deserto. O movimento sanitário anda em baixa, e as autoridades competentes têm
mais o que fazer, para andarem se preocupando com o sofrimento mental dos
outros.
Antônio Samarone.
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