sexta-feira, 5 de abril de 2019

DOIDOS DE TODOS OS GÊNEROS.



Doidos de todos os gêneros. (por Antônio Samarone)

A saúde pública desconfia que o século XXI será dominado pela loucura. Os transtornos mentais, como chamam eufemisticamente os americanos, ocuparão o topo do sofrimento humano. Sem entrar na falsa polêmica se os transtornos mentais são doenças da alma, do espírito, da psiquê; ou distúrbios físico químico dos neurotransmissores, a verdade é que eles chegaram.

Tomando o The Global Burden of Disease Study (GBD) como fonte, no Brasil, os transtornos mentais representam a terceira maior carga de doenças, crescentes desde 1990. Esse estudo calcula a carga global das doenças em cada país, usando como principais indicadores o DALY (Disability Adjusted Life Years - Anos de Vida Perdidos Ajustados por Incapacidade); e o YLD (Years Lived With Disabilit – Anos Vividos com Incapacidade).

Em 2015, os transtornos mentais foram responsáveis por 9,5% do total do DALY, ocupando a terceira posição na carga de doenças, atrás apenas das doenças cardiovasculares e dos cânceres. Entre os transtornos mentais foram responsáveis pela maior carga de doenças: transtornos depressivos 37,0%; transtorno de ansiedade 30,0%; esquizofrenia 6,0% e transtorno bipolar 6,0.

Em 2015, os transtornos mentais (TM) foram as principais causas de incapacidade, sendo responsáveis por 24,9% do total de YLD por todas as demais causas. Deixando mais claro, do total de pessoas incapacitadas por doenças no Brasil, 25% deve-se aos transtornos mentais.

Mesmo sendo mais graves no Brasil, esse crescimento dos transtornos mentais é mundial. Cinco entre as dez principais causas de incapacidade no mundo (YLD), pertencem as seguintes categorias: transtorno depressivos 13,0%; transtorno pelo uso do álcool 7,1%; esquizofrenia 4,0%; transtorno bipolar 3,3% e transtorno obsessivo compulsivo 2,8%.

Como os transtornos mentais, o terceiro maior problema de saúde pública no Brasil, observando-se a carga de doenças (DALY), não aparecem em nenhuma pauta de discussão? 78,8% dos brasileiros com sintomas depressivos clinicamente relevantes não recebem nenhum tratamento. O Brasil gasta menos de 2,00 US$ per capita no tratamento e na prevenção dos transtornos mentais; já os países ricos gastam, em média, mais de 50 US$.

Uma das razões do esquecimento dos transtornos mentais é a baixa mortalidade, apenas 1,2% do total do YLL (Years of Life Lost) no Brasil, sendo que 81% desses óbitos são decorrentes do uso de álcool. Esse baixo número decorre do aparecimento das comorbidades como causa ´principal nos atestados de óbito. As pesquisas apontam que a mortalidade em pessoas com transtornos mentais é 2,2 superior a população geral, e 80% dos suicídios são atribuídos aos transtornos mentais.

Você que chegou até aqui, nessa leitura árida e cheia de números, restou dúvidas sobre a gravidade dos transtornos mentais? Pois as autoridades sanitárias em Sergipe andam em direção contrária. (Sendo mais justo, no Brasil como um todo)

O Estado assumiu a urgência no Hospital São José, mas acabou com o núcleo de saúde mental, sobrando duas ou três pessoas para cuidarem dos problemas.

O município de Aracaju, que já teve uma rede de atenção psicossocial elogiada, e equipou as unidades básicas com profissionais de saúde mental, psiquiatras e psicólogos, passa na atual gestão por uma descalabro. Estamos no auge da desassistência, do descaso e da desorganização na rede psicossocial.

Sei que estou pregando no deserto. O movimento sanitário anda em baixa, e as autoridades competentes têm mais o que fazer, para andarem se preocupando com o sofrimento mental dos outros.

Antônio Samarone.

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