segunda-feira, 8 de abril de 2019

ASSIM FALOU ZARATRUSTRA...


Assim falou Zaratustra... (por Antônio Samarone)

Para legendar uma foto de 1906, início da psicanálise nos Estados Unidos, expressei uma velha opinião formada: os americanos trocaram a psiquiatria de escolas (Kraepelin, Freud, Bleuler, Jaspers, etc) por uma de escalas (sequência de perguntas com alternativas, com o cálculo final dos escores, para definir o perfil dos pacientes). Isso para atender os interesses da indústria farmacêutica. E passaram a detonar Freud.

Átalo Crispim de Souza, velho e erudito clínico homeopata, me respondeu:

“A medicina como um todo, não somente a psiquiatria, entrou num beco sem saída quando passou a ter uma visão única: a norte americana, propagada no resto do mundo. Neste paradigma, somente são dignos de serem usados os conhecimentos que possam ser comprovados por todos (Um dos pilares do método científico).”

“Jogou-se no lixo a intuição, a experiência pessoal, os conhecimentos obtidos por métodos não científicos e, last but not least, a participação de entidades superiores a nós - o basileu de Cós, por exemplo, que em certos momentos nos socorre, e aos pacientes.” 

“A doença é algo pessoal, por ser decorrência da vida de um indivíduo, que é única e irrepetível. Colocá-la na camisa de força do método científico leva à pobreza conceitual, ao afastamento das raízes arquetípicas do viver e do adoecer - no ser humano nada está feito, estamos sempre andando no escuro, temos sempre uma expectativa a atingir, etc...”

Eu acrescento:

A medicina abandonou o imperativo de aliviar o sofrimento humano, secundarizou o paciente, e voltou-se para as razões econômicas. Tornou-se uma “medicina baseada no lucro”. Para manter as aparências, revestiu-se com um suposto manto científico.

Quando a assistência à saúde se transformou em atividade econômica, o cuidado virou mercadoria e assumiu as suas características (padronização, impessoalidade, supremacia do valor de troca sobre o valor de uso, e o lucro como o seu principal objetivo), todas as subjetividades foram desconsideradas. Os procedimentos previstos nos protocolos precisam de justificativas de uma suposta ciência (o método estatístico), que recebem o pomposo nome de “medicina baseada em evidências”!

“A dúvida e a incerteza sobre o destino e a finitude dos seres humanos, constituem o cerne da prática médica” – Ali Ramadam.

Antônio Samarone.

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