Assim falou Zaratustra... (por
Antônio Samarone)
Para legendar uma foto de 1906,
início da psicanálise nos Estados Unidos, expressei uma velha opinião formada: os
americanos trocaram a psiquiatria de escolas (Kraepelin, Freud, Bleuler,
Jaspers, etc) por uma de escalas (sequência de perguntas com alternativas, com
o cálculo final dos escores, para definir o perfil dos pacientes). Isso para
atender os interesses da indústria farmacêutica. E passaram a detonar Freud.
Átalo Crispim de Souza, velho e
erudito clínico homeopata, me respondeu:
“A medicina como um todo, não
somente a psiquiatria, entrou num beco sem saída quando passou a ter uma visão
única: a norte americana, propagada no resto do mundo. Neste paradigma, somente
são dignos de serem usados os conhecimentos que possam ser comprovados por
todos (Um dos pilares do método científico).”
“Jogou-se no lixo a intuição, a
experiência pessoal, os conhecimentos obtidos por métodos não científicos e,
last but not least, a participação de entidades superiores a nós - o basileu de
Cós, por exemplo, que em certos momentos nos socorre, e aos pacientes.”
“A doença é algo pessoal, por ser
decorrência da vida de um indivíduo, que é única e irrepetível. Colocá-la na
camisa de força do método científico leva à pobreza conceitual, ao afastamento
das raízes arquetípicas do viver e do adoecer - no ser humano nada está feito,
estamos sempre andando no escuro, temos sempre uma expectativa a atingir, etc...”
Eu acrescento:
A medicina abandonou o imperativo
de aliviar o sofrimento humano, secundarizou o paciente, e voltou-se para as
razões econômicas. Tornou-se uma “medicina baseada no lucro”. Para manter as
aparências, revestiu-se com um suposto manto científico.
Quando a assistência à saúde se
transformou em atividade econômica, o cuidado virou mercadoria e assumiu as
suas características (padronização, impessoalidade, supremacia do valor de
troca sobre o valor de uso, e o lucro como o seu principal objetivo), todas as
subjetividades foram desconsideradas. Os procedimentos previstos nos protocolos
precisam de justificativas de uma suposta ciência (o método estatístico), que
recebem o pomposo nome de “medicina baseada em evidências”!
“A dúvida e a incerteza sobre o
destino e a finitude dos seres humanos, constituem o cerne da prática médica” –
Ali Ramadam.
Antônio Samarone.
Nenhum comentário:
Postar um comentário