NOVAS DOENÇAS (por Antonio Samarone)
A Organização Mundial da Saúde está elaborando um novo Código Internacional das Doenças, o CID-11. O novo documento entrará em vigor em primeiro de janeiro de 2022. Por enquanto, ele está aberto a sugestões. Entre as novidades, me chamou a atenção a proposta de um grupo de psiquiatras neozelandeses, criando uma nova doença: o Transtorno da Personalidade Acadêmica (TPA).
Como quase tudo, as doenças também surgem e desaparecem. Ainda não se sabe se Transtorno da Personalidade Acadêmica (TPA) é distúrbio da sensopercepção, da consciência, do juízo ou do pensamento, ou uma grande síndrome que engloba um pouco de cada.
O TPA é muito frequente em professores universitários, que acabaram de concluir a pós-graduação, os autodenominados “professores/doutores”. O principal sintoma é uma fantasia imaginativa, uma profunda distância entre o que eles pensam que sabem, e o que realmente conhecem. O desconhecido é enfrentado com a divinização de um suposto saber científico.
No geral, as teses defendidas por esses professores portadores do TPA são irrelevantes, meras formalidades. São trabalhos com pouca ou nenhuma importância científica, que dormirão sem consulta em alguma gaveta. Entretanto, são bem-sucedidos na carreira acadêmica, onde, via de regra, prevalecem as aparências.
Os portadores de TPA possuem uma percepção deformada da realidade, são resistentes a argumentações e evidências em contrário. Uma certeza definitiva em suas ilusões. São geralmente arrogantes e irascíveis. A hipótese é que tais alterações possam estar relacionadas a três neurotransmissores: a dopamina, a serotonina e a acetilcolina.
A nova doença (TPA) afeta profundamente o pensamento. São frequentes a desintegração dos conceitos, o embotamento do raciocínio e uma leve alteração do juízo. Em alguns casos, mais raros, apresentam um delírio de sabedoria. O paciente acredita dominar cientificamente certos conteúdos, motivado pelo desejo de poder e fama, completamente dissociado do pensamento crítico. Uma alienação conveniente e às vezes lucrativa.
Eu me abstenho de opinar sobre essa nova doença. A definição do normal e do patológico em saúde mental é controversa. A proposta dos psiquiatras neozelandeses pode não ser aceita por absoluta falta de interesse da indústria farmacêutica. Esse transtorno é incurável, não existe remédio.
A primeira condição para qualquer tratamento é que o paciente reconheça o problema, e que isso lhe cause algum sofrimento. No caso do Transtorno da Personalidade Acadêmica (TPA), o portador tem a anomalia como uma virtude, um mérito, uma capacitação que lhe custou horas de estudos, e que alimenta generosamente a sua autoestima.
Vamos aguardar a publicação do CID-11 definitivo, para sabermos qual será a decisão da Organização Mundial da Saúde.
Antonio Samarone.
A Organização Mundial da Saúde está elaborando um novo Código Internacional das Doenças, o CID-11. O novo documento entrará em vigor em primeiro de janeiro de 2022. Por enquanto, ele está aberto a sugestões. Entre as novidades, me chamou a atenção a proposta de um grupo de psiquiatras neozelandeses, criando uma nova doença: o Transtorno da Personalidade Acadêmica (TPA).
Como quase tudo, as doenças também surgem e desaparecem. Ainda não se sabe se Transtorno da Personalidade Acadêmica (TPA) é distúrbio da sensopercepção, da consciência, do juízo ou do pensamento, ou uma grande síndrome que engloba um pouco de cada.
O TPA é muito frequente em professores universitários, que acabaram de concluir a pós-graduação, os autodenominados “professores/doutores”. O principal sintoma é uma fantasia imaginativa, uma profunda distância entre o que eles pensam que sabem, e o que realmente conhecem. O desconhecido é enfrentado com a divinização de um suposto saber científico.
No geral, as teses defendidas por esses professores portadores do TPA são irrelevantes, meras formalidades. São trabalhos com pouca ou nenhuma importância científica, que dormirão sem consulta em alguma gaveta. Entretanto, são bem-sucedidos na carreira acadêmica, onde, via de regra, prevalecem as aparências.
Os portadores de TPA possuem uma percepção deformada da realidade, são resistentes a argumentações e evidências em contrário. Uma certeza definitiva em suas ilusões. São geralmente arrogantes e irascíveis. A hipótese é que tais alterações possam estar relacionadas a três neurotransmissores: a dopamina, a serotonina e a acetilcolina.
A nova doença (TPA) afeta profundamente o pensamento. São frequentes a desintegração dos conceitos, o embotamento do raciocínio e uma leve alteração do juízo. Em alguns casos, mais raros, apresentam um delírio de sabedoria. O paciente acredita dominar cientificamente certos conteúdos, motivado pelo desejo de poder e fama, completamente dissociado do pensamento crítico. Uma alienação conveniente e às vezes lucrativa.
Eu me abstenho de opinar sobre essa nova doença. A definição do normal e do patológico em saúde mental é controversa. A proposta dos psiquiatras neozelandeses pode não ser aceita por absoluta falta de interesse da indústria farmacêutica. Esse transtorno é incurável, não existe remédio.
A primeira condição para qualquer tratamento é que o paciente reconheça o problema, e que isso lhe cause algum sofrimento. No caso do Transtorno da Personalidade Acadêmica (TPA), o portador tem a anomalia como uma virtude, um mérito, uma capacitação que lhe custou horas de estudos, e que alimenta generosamente a sua autoestima.
Vamos aguardar a publicação do CID-11 definitivo, para sabermos qual será a decisão da Organização Mundial da Saúde.
Antonio Samarone.
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