MEDICINAS, CIÊNCIAS e NEGÓCIOS. (por Antonio Samarone)
A medicina de negócios, desumanizada, conduzida pelo lucro, esconde-se sob uma capa cientifica, quando, em parte, não tem ciência nenhuma. As pesquisas, as experimentações, os ensaios clínicos, as publicações, os congressos, via de regra, são financiados pela poderosa indústria farmacêutica. Tornou-se um negócio de interessados.
A assistência à saúde se transformou numa atividade econômica de grande peso na economia. No Brasil, ela representa cerca de 10% do PIB.
O mercado médico é formado pelo complexo industrial de produção de medicamentos, insumos e equipamentos; e pelo capital financeiro, que comanda os planos de saúde e a rede de serviços (hospitais, clínicas, farmácias e laboratórios).
As escolas de medicina reproduzem esse modelo, centrado na lógica do mercado. Aliás, as escolas formam o médico para o mercado. Nessa mudança, o serviço médico foi transformado em mercadoria.
O cuidado médico foi esquartejado em milhares de procedimentos, impessoais, padronizados, visando apenas realizar o seu valor de troca, próprio das mercadorias. O cuidado virou procedimento, para viabilizar a produtividade e o lucro. As mercadorias não comportam subjetividades, precisam ser padronizadas, contabilizadas e pagas.
A medicina artesanal do século XX, centrada no valor de uso, na relação médico paciente, na autonomia do médico, fundada na clínica, foi suplantada por uma medicina de negócios, fundada no lucro e na tecnologia, onde o médico perdeu o protagonismo.
A desumanização da medicina é inerente a essa transformação do trabalho médico em mercadoria. Não é uma questão de caráter do médico, nem de opção pessoal! Os médicos mais novos não são nem piores, nem melhores, que os médicos antigos. Apenas exercem a medicina numa realidade de mercado.
O mercado procura esvaziar o papel do médico, que perdeu a autonomia, passando a guiar-se por diretrizes e protocolos, dentro do modelo de produção de procedimentos, a forma que a mercadoria tomou nos serviços de saúde.
A medicina é uma profissão milenar, conceituada na sociedade. Os médicos são profissionais regrados pela autoestima. Não está sendo fácil para o mercado submeter os médicos a lógica do lucro. As resistências se manifestam.
O médico protege a sua prática e a sua consciência com a capa do discurso científico. As atitudes, as decisões, as condutas, os comportamentos são justificados como obediência a uma racionalidade científica. Os médicos acreditam que exercem uma medicina voltada para a ciência, e que fazem parte de uma comunidade científica.
Os cursos de medicina trabalham pouco a iniciação científica. Pouco é ensinado sobre a produção científica. A ciência é o método, mas o pensamento crítico perdeu espaço na formação médica. A ciência geralmente é assimilada como uma nova religião, que exige dos seguidores apenas a fé.
Toda certeza médica precisa vir acompanhada do jargão: “segundo pesquisas” (segundo o evangelho de São João), isso é assim ou assado. Que pesquisas, feitas por quem e como, qual a metodologia utilizada, quem financiou, quem divulgou? Nada! Precisamos apenas confiar. A ciência funciona mais como discurso de legitimação ideológica.
Mas é assim, porque é assim que o mercado precisa. Não estou simplificando, apenas facilitando o entendimento. A mercadoria para realizar o seu valor de troca, não precisa do pensamento crítico. Precisa de vendedores e consumidores, de prestadores de serviços socialmente legitimados.
Os médicos reagem a medicina de negócios: uns aceitam e defendem como um avanço; outros são indiferentes; tem os que ainda praticam a medicina artesanal humanizada; e os que não aceitam e resistem das mais variadas formas.
Nada foi consumado! Está em andamento um processo de transformação profunda da prática médica, sem ponto de chegada conhecido.
Está em curso a desumanização do homem e a humanização da tecnologia. O fetiche das mercadorias. A automação robótica, os aplicativos, as telemedicinas e a inteligência artificial estão por perto.
Do que foi dito, só uma certeza: as pessoas saíram da condição de pacientes para a de consumidores, clientes, usuários, segurados, não contribuintes (NC), indigentes, SUS dependentes, ou mais uma dezena de denominações.
E parece que essa mudança não agradou. As pessoas, em sua maioria, ainda preferem o médico antigo.
Antonio Samarone.
A medicina de negócios, desumanizada, conduzida pelo lucro, esconde-se sob uma capa cientifica, quando, em parte, não tem ciência nenhuma. As pesquisas, as experimentações, os ensaios clínicos, as publicações, os congressos, via de regra, são financiados pela poderosa indústria farmacêutica. Tornou-se um negócio de interessados.
A assistência à saúde se transformou numa atividade econômica de grande peso na economia. No Brasil, ela representa cerca de 10% do PIB.
O mercado médico é formado pelo complexo industrial de produção de medicamentos, insumos e equipamentos; e pelo capital financeiro, que comanda os planos de saúde e a rede de serviços (hospitais, clínicas, farmácias e laboratórios).
As escolas de medicina reproduzem esse modelo, centrado na lógica do mercado. Aliás, as escolas formam o médico para o mercado. Nessa mudança, o serviço médico foi transformado em mercadoria.
O cuidado médico foi esquartejado em milhares de procedimentos, impessoais, padronizados, visando apenas realizar o seu valor de troca, próprio das mercadorias. O cuidado virou procedimento, para viabilizar a produtividade e o lucro. As mercadorias não comportam subjetividades, precisam ser padronizadas, contabilizadas e pagas.
A medicina artesanal do século XX, centrada no valor de uso, na relação médico paciente, na autonomia do médico, fundada na clínica, foi suplantada por uma medicina de negócios, fundada no lucro e na tecnologia, onde o médico perdeu o protagonismo.
A desumanização da medicina é inerente a essa transformação do trabalho médico em mercadoria. Não é uma questão de caráter do médico, nem de opção pessoal! Os médicos mais novos não são nem piores, nem melhores, que os médicos antigos. Apenas exercem a medicina numa realidade de mercado.
O mercado procura esvaziar o papel do médico, que perdeu a autonomia, passando a guiar-se por diretrizes e protocolos, dentro do modelo de produção de procedimentos, a forma que a mercadoria tomou nos serviços de saúde.
A medicina é uma profissão milenar, conceituada na sociedade. Os médicos são profissionais regrados pela autoestima. Não está sendo fácil para o mercado submeter os médicos a lógica do lucro. As resistências se manifestam.
O médico protege a sua prática e a sua consciência com a capa do discurso científico. As atitudes, as decisões, as condutas, os comportamentos são justificados como obediência a uma racionalidade científica. Os médicos acreditam que exercem uma medicina voltada para a ciência, e que fazem parte de uma comunidade científica.
Os cursos de medicina trabalham pouco a iniciação científica. Pouco é ensinado sobre a produção científica. A ciência é o método, mas o pensamento crítico perdeu espaço na formação médica. A ciência geralmente é assimilada como uma nova religião, que exige dos seguidores apenas a fé.
Toda certeza médica precisa vir acompanhada do jargão: “segundo pesquisas” (segundo o evangelho de São João), isso é assim ou assado. Que pesquisas, feitas por quem e como, qual a metodologia utilizada, quem financiou, quem divulgou? Nada! Precisamos apenas confiar. A ciência funciona mais como discurso de legitimação ideológica.
Mas é assim, porque é assim que o mercado precisa. Não estou simplificando, apenas facilitando o entendimento. A mercadoria para realizar o seu valor de troca, não precisa do pensamento crítico. Precisa de vendedores e consumidores, de prestadores de serviços socialmente legitimados.
Os médicos reagem a medicina de negócios: uns aceitam e defendem como um avanço; outros são indiferentes; tem os que ainda praticam a medicina artesanal humanizada; e os que não aceitam e resistem das mais variadas formas.
Nada foi consumado! Está em andamento um processo de transformação profunda da prática médica, sem ponto de chegada conhecido.
Está em curso a desumanização do homem e a humanização da tecnologia. O fetiche das mercadorias. A automação robótica, os aplicativos, as telemedicinas e a inteligência artificial estão por perto.
Do que foi dito, só uma certeza: as pessoas saíram da condição de pacientes para a de consumidores, clientes, usuários, segurados, não contribuintes (NC), indigentes, SUS dependentes, ou mais uma dezena de denominações.
E parece que essa mudança não agradou. As pessoas, em sua maioria, ainda preferem o médico antigo.
Antonio Samarone.
Nenhum comentário:
Postar um comentário