Uma enrascada.
O quiproquó na política vem se agravando
no Brasil. Parece sem rumos. Encontrei na feira com Seu Jovino, vendendo a farinha
redonda de Itabaiana. Conheço o Seu Jovino faz tempo, cabo eleitoral nas
Caraíbas. De família tradicional no povoado. Sempre votou em quem o chefe político
mandava.
Eu, metido a intelectual, puxei logo
conversa e perguntei pela política. Aquela conversa mole. E aí, Seu Jovino, já
começou a campanha eleitoral nas Caraíbas? No fundo, eu queria saber em quem
ele ia votar. Tomei um susto com a resposta. Seu Jovino tá injuriado com a
política. Me disse que não vota mais em ninguém, e vai rasgar o título. Surpreso,
eu ponderei: e quem vai comandar o país? Não votar é pior, escolhe-se o
melhorzinho.
Seu Jovino não se acanhou: sei
lá, entrega a Moro, a Edir Macedo, aos militares, aos juízes, aos padres, a
rede Globo, ao mercado, só não pode ficar com os políticos, nenhum presta. E
eu, cá comigo, fiquei sem ter o que dizer a Seu Jovino? Não soube nem por onde
começar.
Doutorrrrrr, disse Seu Jovino com
uma ponta de ironia, se eu tivesse alguma leitura, vendia tudo, e ia para Portugal.
Soube que lá eles aceitam quem tiver um dinheirinho para se manter e, graças a
Deus, eu tenho. Os filhos estão criados, ia eu, com a minha senhora. E quem
sabe, eu botaria um Mercadinho Itabaiana por lá. Ia vender farinha boa, feijão
de corda, castanha do Carrilho, inhame do Malhador e amendoim de Moita Bonita.
Não vou porque não sei ler.
Me calei, comprei dois quilos de
farinha, e fui embora.
Antônio Samarone.
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