sexta-feira, 13 de julho de 2018

UMA ENRASCADA



Uma enrascada.

O quiproquó na política vem se agravando no Brasil. Parece sem rumos. Encontrei na feira com Seu Jovino, vendendo a farinha redonda de Itabaiana. Conheço o Seu Jovino faz tempo, cabo eleitoral nas Caraíbas. De família tradicional no povoado. Sempre votou em quem o chefe político mandava.

Eu, metido a intelectual, puxei logo conversa e perguntei pela política. Aquela conversa mole. E aí, Seu Jovino, já começou a campanha eleitoral nas Caraíbas? No fundo, eu queria saber em quem ele ia votar. Tomei um susto com a resposta. Seu Jovino tá injuriado com a política. Me disse que não vota mais em ninguém, e vai rasgar o título. Surpreso, eu ponderei: e quem vai comandar o país? Não votar é pior, escolhe-se o melhorzinho.

Seu Jovino não se acanhou: sei lá, entrega a Moro, a Edir Macedo, aos militares, aos juízes, aos padres, a rede Globo, ao mercado, só não pode ficar com os políticos, nenhum presta. E eu, cá comigo, fiquei sem ter o que dizer a Seu Jovino? Não soube nem por onde começar.

Doutorrrrrr, disse Seu Jovino com uma ponta de ironia, se eu tivesse alguma leitura, vendia tudo, e ia para Portugal. Soube que lá eles aceitam quem tiver um dinheirinho para se manter e, graças a Deus, eu tenho. Os filhos estão criados, ia eu, com a minha senhora. E quem sabe, eu botaria um Mercadinho Itabaiana por lá. Ia vender farinha boa, feijão de corda, castanha do Carrilho, inhame do Malhador e amendoim de Moita Bonita. Não vou porque não sei ler.

Me calei, comprei dois quilos de farinha, e fui embora.

Antônio Samarone.

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