Só é velho quem quer?
O brasileiro está envelhecendo
rapidamente. Já somos 30 milhões de velhos, daqui a doze anos, seremos 65
milhões. Os países ricos envelheceram em cem anos, nós estamos envelhecendo em
vinte, e ainda pobres. Na França, foram necessários 145 anos para dobrar a
proporção de idosos de 10% para 20%, de 1845 a 1990. No Brasil, a população
passará dois atuais 14% com mais de 60 anos, para 31% daqui a trinta anos.
Esse envelhecimento muda as
doenças prevalentes, explode os custos e exige outro modelo de assistência
médica. O Brasil não está se preparando para essa nova realidade. No
atendimento médico, precisamos hoje de 15 mil geriatras, um geriatra para cada
2 mil idoso (OMS). Temos mil e trezentos geriatras no Brasil. Sergipe tem menos
de vinte. O médico formado esse ano, no final da carreira, em 2070, o Brasil estará
com 78 milhões de idosos.
No Brasil usamos uma fraude da
autoajuda, para escondermos o envelhecimento da população. “Velhice é uma
questão de cabeça”. “Só envelhece quem quer”. Entre outros chavões. Em síntese,
não existem velhos, somos idosos com a mente de jovens, estamos na melhor
idade. A imprensa reforça mostrando uma senhora de 90 anos saltando de asa
delta ou atravessando o Canal da Mancha a nado. Entretanto, não é essa a realidade
dos idosos. A única alternativa eficaz para evitarmos a velhice é morrer cedo. Convenhamos,
não é uma boa saída.
Se não existe a velhice, com os
seus agravos e padecimentos, não precisamos nos preparar para o crescente
envelhecimento da população. A qualidade de vida e o envelhecimento saudável são
negados, e a velhice e a morte ocultadas. Predomina a ideologia da felicidade e
da juventude eternas. Daqui a cinco anos teremos mais velhos do que jovens.
As 300 escolas de medicina do
Brasil acreditam na autoajuda, ignoram o envelhecimento. A anatomia, a
fisiologia, a clínica, a terapêutica são ensinadas sobre adultos jovens. Poucas
ensinam geriatria. No idoso tudo muda: as doses dos medicamentos, os sintomas,
a evolução, as respostas e os objetivos dos tratamentos. A geriatria é
ontologicamente holística e, via de regra, a medicina comercial, baseada em
procedimentos, é iatrogênica para o idoso.
Antonio Samarone.
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