domingo, 8 de julho de 2018

SÓ É VELHO QUEM QUER?



Só é velho quem quer?

O brasileiro está envelhecendo rapidamente. Já somos 30 milhões de velhos, daqui a doze anos, seremos 65 milhões. Os países ricos envelheceram em cem anos, nós estamos envelhecendo em vinte, e ainda pobres. Na França, foram necessários 145 anos para dobrar a proporção de idosos de 10% para 20%, de 1845 a 1990. No Brasil, a população passará dois atuais 14% com mais de 60 anos, para 31% daqui a trinta anos.

Esse envelhecimento muda as doenças prevalentes, explode os custos e exige outro modelo de assistência médica. O Brasil não está se preparando para essa nova realidade. No atendimento médico, precisamos hoje de 15 mil geriatras, um geriatra para cada 2 mil idoso (OMS). Temos mil e trezentos geriatras no Brasil. Sergipe tem menos de vinte. O médico formado esse ano, no final da carreira, em 2070, o Brasil estará com 78 milhões de idosos.

No Brasil usamos uma fraude da autoajuda, para escondermos o envelhecimento da população. “Velhice é uma questão de cabeça”. “Só envelhece quem quer”. Entre outros chavões. Em síntese, não existem velhos, somos idosos com a mente de jovens, estamos na melhor idade. A imprensa reforça mostrando uma senhora de 90 anos saltando de asa delta ou atravessando o Canal da Mancha a nado. Entretanto, não é essa a realidade dos idosos. A única alternativa eficaz para evitarmos a velhice é morrer cedo. Convenhamos, não é uma boa saída.

Se não existe a velhice, com os seus agravos e padecimentos, não precisamos nos preparar para o crescente envelhecimento da população. A qualidade de vida e o envelhecimento saudável são negados, e a velhice e a morte ocultadas. Predomina a ideologia da felicidade e da juventude eternas. Daqui a cinco anos teremos mais velhos do que jovens.

As 300 escolas de medicina do Brasil acreditam na autoajuda, ignoram o envelhecimento. A anatomia, a fisiologia, a clínica, a terapêutica são ensinadas sobre adultos jovens. Poucas ensinam geriatria. No idoso tudo muda: as doses dos medicamentos, os sintomas, a evolução, as respostas e os objetivos dos tratamentos. A geriatria é ontologicamente holística e, via de regra, a medicina comercial, baseada em procedimentos, é iatrogênica para o idoso.

Antonio Samarone.    

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