A Missa do Galo. (por Antônio Samarone)
Deixei de ficar ansioso quando não
tenho soluções para o que me incomoda. Naturalizei a impotência. Parece que o
mundo só muda quando quer, tem as suas vontades e os seus caprichos. Quando
menos se espera, ele já está de outro jeito.
A noite de natal cristã foi
fixada em 25 de dezembro, pelo Papa Júlio I, no século IV. De lá para cá muita
coisa mudou. Hoje, os comerciantes tomaram conta. O natal virou uma estratégia para
aquecer as vendas.
O paganismo comemorava o Sol, em
25 dezembro.
Onde estão os presépios? Na
infância, eu visitava o devoto presépio de seu Jaconias, na Praça da Igreja, em
Itabaiana. Ficava num canto da sala de visitas. A gente via da calçada, pela
porta da rua que ficava aberta, protegida por uma grade de madeira, daquelas
baixinhas. Lembro-me dos bois, carneiros e camelos de barro, todos bem feitos.
Ontem fui bater perna, e só vi Papais
Noéis em portas de lojas, tudo triste. Na verdade, eu nunca gostei desse espantalho.
Não vejo nem graça, nem sentido. Me encanto com os Reis Magos (Melchior, Gaspar
e Baltazar), três malucos carregados de ouro, incenso e mirra, rodando o mundo
procurando um menino.
Ainda comemoro o dia 06 de Janeiro.
Ainda comemoro o dia 06 de Janeiro.
Nunca soube o que era “mirra”,
minha mãe achava que era prata...
Outra esquisitice são essas as
arvores-de-natal, pinheirinhos de plástico cheios de bolinhas de vidro coloridas
e reluzentes, cobertas com pisca-piscas. Não faço a menor ideia nem quem
inventou, nem o que simbolizam. Nenhuma expressão religiosa. Me disseram que é um
enfeite decorativo.
Como os presépios acabaram, a classe
média bota os presentes ao lado dessas arvores-de-natal, para a distribuição no
jantar da véspera, onde o peru e o panetone são consumidos sem entusiasmo. Sem
contar a neurose de quem está acima do peso.
Até um presépio que a Prefeitura montava
na Sementeira acabou.
Natal era um dia de festas. Todos
vestiam roupas novas. A gente ficava na festinha esperando tocar meia-noite. A
missa do galo era sagrada, até os crentes assistiam. Diziam que um galo cantou
alto, a meia noite, no dia que Jesus nasceu.
Depois da missa, quem podia, ia
nas barracas da festinha comer arroz com galinha.
Como não existem mais galos,
todos morrem frangos, e mesmo que sobrem alguns, não ouvimos mais o seu canto. Acabaram
com a missa do galo. No Natal tem outras missas, várias, menos a missa do galo.
Parece que só o Papa ainda reza a missa do galo no Vaticano, e os saudosistas
podem assistir pela televisão.
Se alguém souber de uma missa do
galo na Arquidiocese de Aracaju, meia-noite, me avise.
O comércio reduziu o Natal a LED
e pisca-piscas. Em protesto, não vou às compras. Por mim, as bugigangas vão
sobrar nas prateleiras.
Viva o Natal Cristão.
Antônio Samarone.
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