O Ouro da Serra. (por Antônio Samarone)
Itabaiana é uma grande feitoria.
A sua riqueza provém de um comércio forte e criativo, do transporte de cargas e
da sua gente trabalhadora. Itabaiana é um nicho do capitalismo mercantil e da
acumulação primitiva.
Tudo começou na década de 1950 com
dois grandes acontecimentos: a chegada da BR-235 e a construção do Ginásio
Murilo Braga. Vou falar sobre o Ginásio.
O ensino moderno chegou tarde à
Itabaiana: “O Grupo Escolar Guilhermino Bezerra (1937), foi o primeiro sinal de
civilidade”, segundo o historiador Zé Almeida.
Em 1949, surgiu um grande pilar
de desenvolvimento: a criação do Colégio Murilo Braga. Um ginásio público chegou
à Itabaiana. A Lei nº 212, de 29 de novembro de 1949, criou o ensino secundário
em Itabaiana.
Em 27 de dezembro de 1953,
formou-se a primeira quarta série do curso ginasial, constituída de apenas 20
alunos. Em 1954, começou o ensino do pedagógico e em 1969, o curso científico.
A escola pública mudou a feição da
cidade, facilitou a inclusão social e criou uma esperança de ascensão às
camadas subalternas. Pobres, ricos e remediados vestiram a mesma farda,
frequentaram as mesmas salas de aulas e tiveram os mesmos professores.
O Murilo Braga foi um berçário de
cidadania.
Ainda são fortes em minhas lembranças
a alegria de ter passado no exame de admissão e o primeiro dia de aula, quando
subi os degraus do Ginásio com a minha farda de brim caqui e sapatos plásticos.
Claro, não era o Caqui Floriano, nem os sapatos eram o vulcabrás 247, mas eu fiquei
vaidoso do mesmo jeito.
Os sapatos plástico eram uma
novidade tecnológica. Bem mais baratos. O incomodo eram a quentura e o chulé em
estado líquido. As meias pingavam.
Frequentar o Ginásio Murilo Braga
me deu um status de pertencimento: eu não era nem pior nem melhor do que
ninguém. Saí do Beco Novo e da Rua do Fato para o mundo. Tomei gosto pela
leitura. Virei usuário da biblioteca do Padre. Peguei livros emprestados. Entendi
que só a escola me salvava.
Foi no Ginásio que tive o meu primeiro
tênis conga azul com biqueira, para as aulas de educação física do professor
Labodí.
Todos vestíamos a mesma farda, e
isso tinha uma grande simbologia. Aos sábados pela manhã, ao final das aulas,
os meninos fardados podiam entrar na Associação Atlética, mesmo que os pais não
fossem sócios. Mesmo assim, eu não ia...
Estamos comemorando 70 anos dessa
realização. A geração que se fez gente pela escola pública, agradece aos que contribuíram.
Agradeço a todos os professores.
Guardo na memória Terezinha, Lourdes, Gabriel, Guga, Clodoaldo, Zé Costa,
Arnaldo Fominha, Manteiguinha, Marli, Ofenísia, Anito, Rivas, João de Deus e
Edgar.
Agradeço aos funcionários: Nilo
Base, Otaviano, Lula, Enéas, Bonito, Lourdes, Creusa e Isaltina, em especial a
eterna secretária Dona Lilia.
Agradeço a exemplar diretora,
Dona Maria Pereira. Sempre justa, disciplinadora, competente. Dona Maria Pereira
tinha a cara da disciplina. Ela não precisava falar, bastava a presença, ou a possibilidade
da presença. Devo muito a Maria Pereira, agradeço até mesmo os castigos, quando
era expulso das aulas. Suspensão, só tomei uma de três dias. Justíssima!
Agradeço a minha mãe que me botou
na escola e exigiu a minha frequência. Ela olhava o boletim. Quando meu pai
falava em me levar à roça, ela saia em defesa: ele não vai! Amanhã tem aula. E
papai calava-se!
Viva a escola pública! Viva o
Colégio Estadual Murilo Braga!
Antônio Samarone.
Esse Colégio é como se fosse um ente familiar. Uma dádiva! Um bem preciosíssimo da nossa terra.
ResponderExcluirChorei ao ler seu texto pois vivenciei tudo isso, não só por mim mas tb com todos os meus irmãos. O Murilo Braga não era apenas uma instituição educacional. Serviu tb de encontro de almas pois muitos casais tiveram seu primeiro contato, seus olhares de cruzaram. Muitos delas estão juntos até hoje. Todas as cidades da redondeza tb de beneficiaram ao conduzirem seus filhos para estudarem lá . Parabéns ao Murilo Braga mas o presente é te todos nós itabaianense principalmente os que tiveram o prazer de frequenta ló.
ResponderExcluirEsqueci de assinar Neuma Cristina Pinheiro Noronha
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