quarta-feira, 15 de maio de 2019

GENTE SERGIPANA - FAUSTINO ALVES MENEZES (87 ANOS)




Gente Sergipana – Faustino Alves Menezes (87 anos). (Por Antonio Samarone).

Seu Faustino nasceu no Sítio Riacho Doce, em Itabaiana, à 18 de abril de 1932. Filho de Francisco Alves Menezes e Josefa Neves Ferreira. O pai, vaqueiro de seu Germano, sogro de Mozart, faleceu aos 33 anos de uma chifrada de boi.

Órfão aos sete anos, com cinco irmão, Zé de Nenê, Gaspar, Nego, Maria e Navalha. Com a morte do pai, a família vendeu o sítio e se mudou para a cidade, para sobreviver. Seu Faustino virou aprendiz de sapateiro aos oito anos. Foi trabalhar com o mestre Paulo Barros. Era preciso, para a família não passar fome. Aos 12 anos, seu Faustino já era um sapateiro Profissional.

Por conta do trabalho, só estudou as primeiras séries do primário, no Grupo Guilhermino Bezerra. Foi aluno da professora Lenita Porto, irmã do Senador Passos Porto.

Aos 13 anos, entrou para o Partido Comunista. Na década de 1940, chegou à Itabaiana Zé Martins, alagoano de Anadia, sapateiro, e velho comuna dos tempos da Coluna Prestes. Zé Martins foi se esconder em Itabaiana. Em missão revolucionária, organizou o PCB entre os sapateiros e alfaiates, uma vez que em Itabaiana não existia uma classe operária. Eram artesões.

Junto com Zé Martins, um camponês chamado Zeca Cego, que vendia feijão na feira, era o outro que tinha tido contato com a Coluna Preste. Alcancei Zeca Cego, já idoso, passando pela rua de Macambira em cima de uma carroça de burro, cantando a Internacional em russo. Eu não sabia do que se tratava.

A célula comunista de Itabaiana, incorporou Tonho de Dóci, Renato Mazze Lucas, Mané Barraca, Océas relojoeiro (esse já chegou a Itabaiana comunista, veio de São Cristóvão), Nilo Alfaiate, Paulo Barros, e tantos outros simpatizantes, como João Silveira. Era um comunismo cristão, todos devotos de Santo Antônio.

Seu Faustino contou, com lágrimas nos olhos, que o seu primeiro ato subversivo, foi colocar uma faixa no caminhão pau-de-arara, que trouxe os ceboleiros para o comício de Luiz Carlos Preste em Aracaju, em 1946.

Os comunistas de Itabaiana eram poucos, mas lutaram pelo “Petróleo é Nosso”, fundaram um Cine Clube, o Clube do Trabalhador (instituição recreativa) e o GLEI (Grêmio Literário e Esportivo de Itabaiana), que visava alfabetizar o povo. Nunca elegeram um Vereador. Contudo, nas eleições municipais de 1962, apoiaram abertamente Zeca Araújo, prospero comerciante, mais que foi derrotado por José Sizino de Almeida, candidato de Euclides Paes Mendonça.

Quem militou nas hostes comunista até morrer, foi Antônio Oliveira (Tonho de Dóci), comerciante, dono do Rei das Bicicletas e representante dos fogos caramuru. Seu Antônio era muito respeitado na Cidade, intelectual, de família de músicos, exercia grande influência. Além de ter dado grandeza à Associação Olímpica de Itabaiana. Veja a pretensão, não era apenas um time de futebol, mas uma Associação Olímpica. As cores da revolução francesa na camisa, não foi por acaso.

Na década de 1950, existiam quatro times de futebol em Itabaiana: o Fluminense do Dr. Severiano; o Vasco da Gama de seu Edézio, filho de Franscisquinho da saboaria; o Cotinguiba de Colibri e o Flamengo de Paulo Barros. Foi quando Antônio de Dóci começou a organizar a Associação Olímpica de Itabaiana, que já existia de forma intermitente.

Em Itabaiana, só três instituições são unanimidade: o time do Itabaiana, os caminhoneiros e Santo Antônio.

O sapateiro Seu Faustino foi um homem do seu tempo: Campeão pelo Itabaiana em 1959, comunista, e um cidadão apaixonado por sua terra. Foi o primeiro atleta profissional do Itabaiana. Aos 18 anos, ainda tentou a vida em São Paulo e no Rio de Janeiro. Uma ilusão do povo pobre do Nordeste. Foi mais um retirante.

Não deu certo. Retornou à Itabaiana. Em 1960, casou-se com Dona Maria Jacira Menezes, filha de Seu Melquiades, tradicional marchante de Itabaiana, irmã de Zé do Boi. Tiveram três filhos: Chico, Romualdo e Vladimir.

Além de jogador, Seu Faustino foi treinador do Itabaiana. Foi sob o seu comando, que o Tricolor sofreu a maior goleada de sua história. Estádio Sabino Ribeiro, Confiança 10 X 1 Itabaiana. Também, o Confiança de 1962 era uma seleção, me justificou Seu Faustino.

Na década de 1970, os sapateiros foram derrotados pelos sapatos industrializados, eram mais bonitos e bem mais baratos. Seu Faustino, comprou um Taxi e veio morar em Aracaju. Em 1976, foi preso e torturado no 28 BC, na triste operação cajueiro.

Seu Faustino cumpre o ciclo da vida. Aos 87 anos, se mantém atualizado na política. Memória acima do esperado para a idade. Preocupado com o destino do País e acreditando no que sempre acreditou.

Meus respeitos, Seu Faustino.

Antônio Samarone.

2 comentários:

  1. Parabéns Samrone,justa homenagem
    A um ilustre itabaianense.

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  2. Belíssima história, fiquei procurando o nome de seu Agenor sapateiro.

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