Gente Sergipana – Faustino Alves
Menezes (87 anos). (Por Antonio Samarone).
Seu Faustino nasceu no Sítio
Riacho Doce, em Itabaiana, à 18 de abril de 1932. Filho de Francisco Alves Menezes
e Josefa Neves Ferreira. O pai, vaqueiro de seu Germano, sogro de Mozart, faleceu
aos 33 anos de uma chifrada de boi.
Órfão aos sete anos, com cinco
irmão, Zé de Nenê, Gaspar, Nego, Maria e Navalha. Com a morte do pai, a família
vendeu o sítio e se mudou para a cidade, para sobreviver. Seu Faustino virou aprendiz
de sapateiro aos oito anos. Foi trabalhar com o mestre Paulo Barros. Era
preciso, para a família não passar fome. Aos 12 anos, seu Faustino já era um
sapateiro Profissional.
Por conta do trabalho, só estudou
as primeiras séries do primário, no Grupo Guilhermino Bezerra. Foi aluno da
professora Lenita Porto, irmã do Senador Passos Porto.
Aos 13 anos, entrou para o
Partido Comunista. Na década de 1940, chegou à Itabaiana Zé Martins, alagoano
de Anadia, sapateiro, e velho comuna dos tempos da Coluna Prestes. Zé Martins
foi se esconder em Itabaiana. Em missão revolucionária, organizou o PCB entre
os sapateiros e alfaiates, uma vez que em Itabaiana não existia uma classe
operária. Eram artesões.
Junto com Zé Martins, um camponês
chamado Zeca Cego, que vendia feijão na feira, era o outro que tinha tido contato
com a Coluna Preste. Alcancei Zeca Cego, já idoso, passando pela rua de
Macambira em cima de uma carroça de burro, cantando a Internacional em russo.
Eu não sabia do que se tratava.
A célula comunista de Itabaiana,
incorporou Tonho de Dóci, Renato Mazze Lucas, Mané Barraca, Océas relojoeiro
(esse já chegou a Itabaiana comunista, veio de São Cristóvão), Nilo Alfaiate,
Paulo Barros, e tantos outros simpatizantes, como João Silveira. Era um comunismo
cristão, todos devotos de Santo Antônio.
Seu Faustino contou, com lágrimas
nos olhos, que o seu primeiro ato subversivo, foi colocar uma faixa no caminhão
pau-de-arara, que trouxe os ceboleiros para o comício de Luiz Carlos Preste em
Aracaju, em 1946.
Os comunistas de Itabaiana eram
poucos, mas lutaram pelo “Petróleo é Nosso”, fundaram um Cine Clube, o Clube do
Trabalhador (instituição recreativa) e o GLEI (Grêmio Literário e Esportivo de
Itabaiana), que visava alfabetizar o povo. Nunca elegeram um Vereador. Contudo,
nas eleições municipais de 1962, apoiaram abertamente Zeca Araújo, prospero
comerciante, mais que foi derrotado por José Sizino de Almeida, candidato de
Euclides Paes Mendonça.
Quem militou nas hostes comunista
até morrer, foi Antônio Oliveira (Tonho de Dóci), comerciante, dono do Rei das
Bicicletas e representante dos fogos caramuru. Seu Antônio era muito respeitado
na Cidade, intelectual, de família de músicos, exercia grande influência. Além
de ter dado grandeza à Associação Olímpica de Itabaiana. Veja a pretensão, não
era apenas um time de futebol, mas uma Associação Olímpica. As cores da revolução
francesa na camisa, não foi por acaso.
Na década de 1950, existiam quatro
times de futebol em Itabaiana: o Fluminense do Dr. Severiano; o Vasco da Gama
de seu Edézio, filho de Franscisquinho da saboaria; o Cotinguiba de Colibri e o
Flamengo de Paulo Barros. Foi quando Antônio de Dóci começou a organizar a
Associação Olímpica de Itabaiana, que já existia de forma intermitente.
Em Itabaiana, só três instituições
são unanimidade: o time do Itabaiana, os caminhoneiros e Santo Antônio.
O sapateiro Seu Faustino foi um
homem do seu tempo: Campeão pelo Itabaiana em 1959, comunista, e um cidadão
apaixonado por sua terra. Foi o primeiro atleta profissional do Itabaiana. Aos
18 anos, ainda tentou a vida em São Paulo e no Rio de Janeiro. Uma ilusão
do povo pobre do Nordeste. Foi mais um retirante.
Não deu certo. Retornou à
Itabaiana. Em 1960, casou-se com Dona Maria Jacira Menezes, filha de Seu Melquiades,
tradicional marchante de Itabaiana, irmã de Zé do Boi. Tiveram três filhos: Chico,
Romualdo e Vladimir.
Além de jogador, Seu Faustino foi
treinador do Itabaiana. Foi sob o seu comando, que o Tricolor sofreu a maior goleada
de sua história. Estádio Sabino Ribeiro, Confiança 10 X 1 Itabaiana. Também, o
Confiança de 1962 era uma seleção, me justificou Seu Faustino.
Na década de 1970, os sapateiros
foram derrotados pelos sapatos industrializados, eram mais bonitos e bem mais
baratos. Seu Faustino, comprou um Taxi e veio morar em Aracaju. Em 1976, foi
preso e torturado no 28 BC, na triste operação cajueiro.
Seu Faustino cumpre o ciclo da
vida. Aos 87 anos, se mantém atualizado na política. Memória acima do esperado
para a idade. Preocupado com o destino do País e acreditando no que sempre acreditou.
Meus respeitos, Seu Faustino.
Antônio Samarone.
Parabéns Samrone,justa homenagem
ResponderExcluirA um ilustre itabaianense.
Belíssima história, fiquei procurando o nome de seu Agenor sapateiro.
ResponderExcluir