Rosa Sampaio
Nasceu em
Aracaju, na maternidade Francino Mello, em 30 de setembro de 1950. Filha do
Cirurgião Fernando Sampaio e de Dona Maria Carmelita. Rosa cresceu numa Aracaju
bucólica, tomando banho na Praia Formosa, onde hoje é um emissário de esgoto da
DESO. Fernando Sampaio foi um dos primeiros moradores das imediações das Quatro
Bocas.
Aracaju era a
sultona das águas. Aquele canal fétido do fundo do Batistão, já foi um Riacho
de águas límpidas que corria até a igreja São José. A ocupação de Aracaju, comandada
pela especulação imobiliária, transformou um paraíso ecológico, num aterro
insalubre.
Rosa Sampaio
cresceu numa cidade sem a violência urbana. Fez o primário e o ginásio no
Colégio do Salvador, sob a disciplina de Dona Mariá. Entre as rebeldias da
adolescência, frequentou a boate Saveiros, do Iate; e a vida noturna da
Atalaia, inventada por Luiz Adelmo.
Em 1965, Rosa
Sampaio tomou uma importante decisão: foi estudar o científico no famoso
Colégio Atheneu, escola pública de excelência, para onde a sociedade sergipana
mandava os seus filhos. Rosa Sampaio deu um salto em experiência de vida,
amadureceu, o Atheneu era uma grande escola. Aqui uma curiosidade: no Atheneu,
Rosa Sampaio foi aluna de física do Senador Valadares, e segundo ela, ainda
lembra da segunda lei de Newton. Pensei, com uma certa maldade, resta saber se
o Senador ainda lembra.
Em 1968, quando
o mundo fervilhava em novidades, Rosa entrou na Faculdade de Medicina. Como
toda jovem esclarecida daqueles tempos, amava os Beatles e os Rolling Stones,
mas não descuidava dos estudos. Foi uma boa aluna. Antigamente, quando os
alunos saiam das antigas faculdades estavam prontos para o exercício da
medicina.
Rosa Sampaio
frequentou a faculdade no difícil período do AI-5, tendo sido aluna de EPB do
doutor Eduardo Vital Santos Melo, famoso intelectual católico da província
sergipana. Durante o curso, se aproximou de vários professores, facilitado pelo
pai professor e médico importante na cidade.
Ainda
estudante, Rosa Sampaio frequentou um estágio no Hospital das Clínicas da USP.
Numa aula prática, com um paciente suspeito de calazar, o professor pediu para
que os alunos palpassem o fígado do paciente, foi um Deus nos acuda, ninguém
sabia. Rosa, valendo-se das manobras de palpação, apreendidas com o professor
Aloísio Andrade, em Aracaju, fez tudo corretamente. O professor, um argentino
famoso, ficou encantado com o curso de medicina de Sergipe. Ainda era tempo da
medicina artesanal.
Rosa Sampaio
formou-se em medicina em 1974. No ano seguinte, foi aprovada no concurso de
professora para a disciplina “fisiologia do esforço”, ofertada no curso de
Educação Física. Com a criação da disciplina de pneumologia na faculdade de
medicina, ofertada pelo professor Dietrich Todt, Rosa foi convidada para ser
auxiliar, e posteriormente assumiu o comando da disciplina.
Rosa Sampaio,
eterna presidente do Colegiado de Medicina, envolveu-se com as mudanças do
currículo do curso, afim de integrá-lo às exigências da reforma sanitária. Rosa
virou o nome da UFS, que se envolveu nas mudanças. Era o contato dos
estudantes, dos militantes da reforma e dos movimentos populares com a
Universidade. Cumpriu um papel decisivo em levar os alunos de medicina para a
comunidade, tirá-los dos corredores hospitalares. Inicialmente os alunos foram
para o Centro de Saúde Francisco Fonseca, ao lado da Igreja, no bairro 18 do
Forte.
Rosa Sampaio tomou
gosto pela Saúde Pública, vestiu a camisa da Reforma Sanitária. Em 1997, assumiu
a Secretaria Municipal de Saúde de Aracaju, num período de municipalização.
Rosa implantou o Programa de Saúde da Família em Aracaju. São inicialmente doze
equipes, todas funcionando bem. O SUS vivia uma fase de esperança. Rosa teve
autonomia e não misturou a politicagem. Organizou duas conferências municipais,
reforçou o Conselho Municipal de Saúde, incorporou o dentista e a assistente social
nas equipes do PSF, e recrutou os agentes comunitários por critérios técnicos.
Infelizmente, o trabalho de municipalização da Saúde em Aracaju, depois
desandou. Parece que até hoje!
A Saúde viveu
um período de comando técnico, de boa gestão. Na semana de vacinação dos animais
domésticos, vários pontos foram instalados em Aracaju. Um famoso professor de
medicina que morava numa chácara, no caminho da Atalaia, ligou para a secretária
solicitando uma equipe para vacinar os seus gatos, em sua chácara. Rosa Sampaio
não se intimidou: professor, gosto muito do senhor, mas não posso mandar a
equipe. O senhor traga os seus gatos, para vacinar nos locais públicos. O
professor ponderou, Rosa, é quase impossível, não existe saco que caibam os
meus gatos. Rosa, indagou: e quantos gatos o senhor tem? O velho mestre foi
sucinto: 48 gatos. De fato, nesse caso, a secretaria mandou não só a equipe de
vacinação; como levou o Prefeito e uma equipe de televisão.
Rosa Sampaio
foi a última secretária de saúde de Aracaju que obedeceu rigorosamente a todos
os princípios do SUS. Depois a politicagem contaminou o sistema, desarrumou,
desviou dos princípios, que até hoje a saúde do município patina.
Por conta do
trabalho no SUS de Aracaju, Rosa Sampaio foi convidada a ocupar um cargo
importante no Ministério da Saúde, durante a gestão de José Serra, e por lá
ficou até a aposentadoria. Hoje, Rosa é residente em Brasília, mas não perde
oportunidade de frequentar Aracaju.
Rosa Sampaio
foi casada com o famoso jurista Gilberto Villa Nova de Carvalho, com quem teve
três filhos: Gilberto, Graziela e Raquel; e por enquanto, sete netos. Rosa é uma
remanescente da medicina humanista. Aos 68 anos, cabeça boa, missão cumprida na
terra, culta, Rosa Sampaio é uma cidadã do mundo.
Antônio Samarone.
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