Gente Sergipana – Francisco
Guimarães Rollemberg
(por Antonio Samarone)
Francisco Rollemberg nasceu em
Laranjeiras, em 07 de abril de 1935, um domingo de ramos. Filho de Antonio
Valença Rollemberg e Maria das Dores Guimarães Rollemberg. Chico desfrutou da
infância interiorana em Laranjeiras, jogando bola, tomando banho de rio,
vadiando livremente, sem medos ou sustos.
O pai de Chico Rollemberg foi
proprietário do Cinema Iris, em Laranjeiras. Chico era quem fazia a projeção. O
carro chefe da programação era “A vida, paixão e morte de Jesus Cristo”. Todas
as vezes que entrava em cartaz, era casa cheia.
Logo cedo entrou na escola da
professora Zizinha Guimarães, educadora conceituada, e logo se destacou como o
melhor aluno. O filho de Seu Antonio era estudioso! Com o tempo, a professora
botou Chico para ensinar outros alunos. Com 11 anos não tinha mais o que
apreender em Laranjeiras. Fez um teste, e foi considerado apto para entrar no
ginásio.
O menino Chico, além de traquino,
era muito religioso, puxador do terço na igreja, mostrando uma forte vocação
para padre. Só que de onde ele morava,
avistava-se a entrada hospital, a entrada e saída dos doentes. Aquele
movimento, fez o menino mudar a cabeça para a medicina. Ali, Chico decidiu que
seria médico. O pai adorou, a mãe nem tanto, preferia o filho padre.
Chico Rollemberg veio fazer o
ginásio em Aracaju, no Colégio Tobias Barreto, do professor Alcebíades Melo
Vilas Boas. Chico foi aluno interno do Colégio, absorvendo toda a disciplina.
Ainda de calças curtas, com 11 anos, Chico Rollemberg chegou no Aracaju. Fez o
curso ginasial com maestria. Concluído, migrou para o Atheneu, onde fez os dois
primeiros anos do científico. No último ano, para se preparar melhor para o
vestibular, concluiu o científico no Colégio Central da Bahia.
Em 1954, Chico Rollemberg ingressou
na Faculdade medicina da Bahia. Vocacionado para a medicina, estudioso, Chico
entrou de corpo e alma no curso. Chico não saia do hospital, tudo que era
plantão, final de semana, feriado, lá estava Chico para aprender. Logo percebeu
que tinha habilidades cirúrgica, e decidiu seguir a urologia. Uma decisão
pragmática, pois em Sergipe só existia um urologista, o Dr. Costa Pinto.
Durante o curso de medicina,
Chico participou do movimento estudantil na Bahia, sob a orientação ideológica
do Velho Partidão. Ainda em Aracaju, na juventude, Chico tinha contato com os
grupos clandestinos do Partido Comunista, em Aracaju. Calma, Chico não é comunista,
daqui a pouco eu conto a participação dele na política.
Formado em 1959, Chico Rollemberg
retornou à Sergipe. Bem formado, habilidoso e como muita disposição para
trabalhar. Ele começou exercer a medicina em Laranjeiras. Foi um sucesso,
quando o filho do Seu Antonio, chegava era um rebuliço, o povo corria para o
hospital. Logo, com as ciumeiras locais, o diretor do hospital dispensou os
serviços de Chico, e ele veio para a Aracaju.
Começou a operar na Capital nos
dois hospitais existentes (Santa Izabel e Cirurgia), clinicar no Serigy, no
IPASE, no Pronto Socorro Municipal, que funcionava nos fundos da antiga
Prefeitura. Chico operava cinco a seis pacientes por dia. Constitui uma
clientela imensa, gente com quem ele criou amizade, e que até hoje visita.
Chico Rollemberg ficou famoso como bom médico, muitos favores, muito serviço
prestado. Chico Rollemberg foi o primeiro sergipano a ingressar no Colégio
Brasileiro de Cirurgiões. Antes só Augusto leite, como membro honorário.
Esse prestigio despertou os
chefes políticos: olha aí quem pode trazer votos para as nossas legendas. Não
se elege, mas ajudará a nossa chapa. Dito e feito. Nas eleições de novembro de
1970, Chico foi convidado a compor a Chapa da ARENA para deputado federal. Era
só para ajudar. Resultado, foi o deputado federal mais votado de Sergipe, com
19 mil votos. Para se ter uma ideia da disputa, os outros federais eleitos
foram Luiz Garcia, Raimundo Diniz, Passos Porto e Eraldo Lemos, todos da ARENA.
A partir dessa estreia, Chico Rollemberg
elegeu-se deputado federal por 4 legislaturas, permanecendo na Câmara dos
Deputados até 1987. Exerceu os mandatos no bloco de sustentação aos militares,
numa bancada conservadora. Participou do movimento de apoio a Sílvio Frota e
votou em Paulo Maluf, no Colégio Eleitora. Em 1973, fez o curso da Escola
Superior de Guerra, destinado a pessoas de prestígio.
Vejam como são as coisas: o
médico Chico Rollemberg, conservador, sempre deu assistência e visita até hoje,
a família de Walter Ribeiro, um comunista de carteirinha. Ouvi um depoimento de
um velho camarada: Chico Rollemberg sempre prestou a assistência aos camaradas,
ia nas casas se precisasse, e nunca dedurou ninguém. Somando-se a uma postura
ilibada na vida pública! Não é a ideologia que define o caráter.
Durante o exercício dos mandatos,
Chico Rollemberg nunca abandonou a medicina, continuou trabalhando. Todo o
final de semana, a partir da sexta, ele retornava à Aracaju para realizar as
suas cirurgias. Aliás, até hoje, aos 84 anos, ele continua trabalhando no
Hospital de Riachuelo. Ele sempre brinca, enquanto a mão não tremer, eu
continuo operando. E para provar que está bem, mostra as mãos espalmadas, sem
nenhuma tremedeira.
Mesmo sendo um médico operador,
voltado para a prática, Chico Rollemberg não fechou os livros depois de
formado. Continuou estudando, para se manter atualizado. Publicou Gangrena de
Fournier, tratamento cirúrgico com enxertos livres (1961); Lesão cirúrgica do
ureter (1969); Saneamento básico do Nordeste, Cocene, estudo nº.1 (1971); A
problemática de saúde do Nordeste, Cocene, estudo nº.1 (1971); O potássio em
Sergipe; Desenvolvimento e população e Osvaldo Cruz, centenário de nascimento.
Além de uma publicação sobre
Fausto Cardoso, que se tornou referência aos pesquisadores sobre o ilustre
sergipano. ROLLEMBERG, Francisco.
Introdução. In: CARDOSO,
Fausto. Discursos parlamentares. Brasília: Câmara dos Deputados, 1987. p. 19-112.
(Perfis parlamentares, 31). Chico Rollemberg é membro da Academia
Sergipana de Letras, ocupando a cadeira nº 15.
Em 1986, Francisco Rollemberg se
elege Senador pelo PMDB, numa eleição disputadíssima. Em 2002, Chico Rollemberg
se despede da política disputando o Governo do Estado, numa coligação confusa e
heterogênea, sendo derrotado por João Alves Filho.
Chico Rollemberg casou em julho
de 1959, com a colega de turma, Dra. Elcy Vianna Rollemberg. Chico é pai de
cinco filhos: Francisco, Gustavo, Paula, Carlos Eduardo e Rodrigo Otávio. Com a
morte da primeira esposa, Chico casa com Maria Helenita Santos Rolemberg, com quem convive até
hoje.
Cheguei a conclusão que Chico
Rollemberg, apesar de ser mais conhecido como político, tem a alma de médico,
do antigo médico humanistas, que adora o que faz, que faz amizade com os
doentes, que lembra do nome e das histórias.
Chico tem a mania de visitar os
amigos, semanalmente. Quis saber o motivo, ele brincou: “os meus amigos estão
velhos, quase todos doentes. Na verdade, cumpro uma obrigação cristã de visitar
os enfermos.” Chico ainda viaja para o interior, só para visitar os amigos.
Chico Rollemberg é um homem fino,
cuidadoso no trato, cheio de histórias interessantes. Chico tem a alma dos
médicos antigos, voltada para o alívio do sofrimento humano. Não amealhou
fortuna com a medicina (nem com a política).
Antonio Samarone.
Conheci o Dr. Francisco em uma viagem para Frankfurt em 2011. Não sabia quem era, apenas se apresentou como médico cirurgião. Conversamos várias horas sobre diversos assuntos e fiquei impressionado com a sua cultura e histórias. Descobri sua trajetória por esta matéria e posso dizer que me sinto orgulhoso de ter conhecido o Dr. Francisco. A vida é feita de encontros e ele me impressionou positivamente. Que seja feliz. Prof. Claudio Costa, cirurgião-dentista, professor da Faculdade de Odontologia da USP, São Paulo.
ResponderExcluirDr. Francisco Rolemberg , é um orgulho 3 Sergipe, um Homem raro, um médico de verdade 👏😀😀😀
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