sábado, 1 de setembro de 2018

OS BEXIGUENTOS EM LARANJEIRAS (1856)



OS BEXIGUENTOS EM LARANJEIRAS (1856)

Mal saída da Peste do cholera (final de 1855), com mais de 4 mil óbitos, em três meses. Laranjeiras, em 1856, recebeu a incomoda visita da varíola. O Dr. Pedro Autran, testemunha presencial, assim se referiu a epidemia:

Ainda de todo não se tinha apagado os males sulcados pelos passos do inimigo asiático, o flagelador do cholera, eis que em fevereiro de 1856 aparece a varíola. Cresceu o número de vítimas dessa epidemia. Nesse ano, a varíola matou mais de 300 pessoas em Laranjeiras.

Laranjeiras é uma cidade cheia de preconceitos e superstição. Existe forte resistência a propagação do pus vacínico. Era quase impossível obter-se a vacinação. Crescia o número de vítimas roubadas por esta epidemia, e o comissário vacinador municipal não possuía o pus vacínico para a vacinação. Precisou ir buscar na Bahia.

Suponho ser essa complicação devidas a influências cósmicas de uma época epidêmica, cuja influencia é devida a um vírus que se desenvolve e se multiplica conforme os elementos que se encontram na atmosfera, ou por já se achar a varíola incubada.

O inteligente, probo e caridoso médico Francisco de Azevedo Bragança (pai de Antônio Militão de Bragança); cedendo aos impulsos da caridade e da filantropia, que cunha todos os atos de sua profissão, mandou buscar na Bahia pus vacínico para propaga-lo. Receoso de vacinar a um povo cheio de preconceito, sem ter experimentado a natureza da vacina, escolheu as suas duas filhas para testarem primeiro. Só depois que constatou que as vacinas eram de boa qualidade, começou a expandir com a população.

Para dar publicidade aos desejos do Dr. Bragança, o vigário começou a anunciar na missa conventual, que o Dr. Bragança estava vacinando, grátis para os pobres, em sua residência, aos sábados e domingo. Poucos foram os que quiseram de início utilizar do benefício que a caridade de um médico prodigaliza para a cidade.

Rapidamente, o medo das pessoas, assistindo ao doloroso caminho dos bexiguentos, levou a uma corrida à vacinação. De forma inédita, 350 pessoas foram vacinadas no ano da epidemia.

Antônio Samarone.

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