OS BEXIGUENTOS EM LARANJEIRAS (1856)
Mal saída da Peste do cholera
(final de 1855), com mais de 4 mil óbitos, em três meses. Laranjeiras, em 1856, recebeu a
incomoda visita da varíola. O Dr. Pedro Autran, testemunha presencial, assim se
referiu a epidemia:
Ainda de todo não se tinha
apagado os males sulcados pelos passos do inimigo asiático, o flagelador do
cholera, eis que em fevereiro de 1856 aparece a varíola. Cresceu o número de
vítimas dessa epidemia. Nesse ano, a varíola matou mais de 300 pessoas em
Laranjeiras.
Laranjeiras é uma cidade cheia de
preconceitos e superstição. Existe forte resistência a propagação do pus
vacínico. Era quase impossível obter-se a vacinação. Crescia o número de
vítimas roubadas por esta epidemia, e o comissário vacinador municipal não
possuía o pus vacínico para a vacinação. Precisou ir buscar na Bahia.
Suponho ser essa complicação
devidas a influências cósmicas de uma época epidêmica, cuja influencia é devida
a um vírus que se desenvolve e se multiplica conforme os elementos que se
encontram na atmosfera, ou por já se achar a varíola incubada.
O inteligente, probo e caridoso
médico Francisco de Azevedo Bragança (pai de Antônio Militão de Bragança); cedendo
aos impulsos da caridade e da filantropia, que cunha todos os atos de sua
profissão, mandou buscar na Bahia pus vacínico para propaga-lo. Receoso de
vacinar a um povo cheio de preconceito, sem ter experimentado a natureza da
vacina, escolheu as suas duas filhas para testarem primeiro. Só depois que
constatou que as vacinas eram de boa qualidade, começou a expandir com a
população.
Para dar publicidade aos desejos
do Dr. Bragança, o vigário começou a anunciar na missa conventual, que o Dr.
Bragança estava vacinando, grátis para os pobres, em sua residência, aos
sábados e domingo. Poucos foram os que quiseram de início utilizar do benefício
que a caridade de um médico prodigaliza para a cidade.
Rapidamente, o medo das pessoas,
assistindo ao doloroso caminho dos bexiguentos, levou a uma corrida à
vacinação. De forma inédita, 350 pessoas foram vacinadas no ano da epidemia.
Antônio Samarone.
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