Saúde Pública e Higiene em
Sergipe. (Por Antonio Samarone.
Higiene é a medicina preventiva.
Na mitologia grega, as filhas de Asclépios, Higéia e Panacéia, cuidavam respectivamente
da prevenção da cura. A higiene foi subdividida em vários ramos: a higiene
pública, do trabalho, industrial, escolar, pessoal, etc.
A higiene é, em
última instância, a utilização de mecanismos proteção à Saúde. Vamos
comentar um pouco sobre a higiene pessoal, a mais conhecida. Os cuidados com o
asseio e a limpeza do corpo.
A higiene pessoal
nos primórdios da humanidade estava relacionada com a religiosidade. Segundo
Rosen: “As pessoas se mantinham limpas para se apresentarem puras aos olhos dos
deuses, e não por razões higiênicas.
Minha geração
alcançou o descaso com os hábitos higiênicos da população em geral. Os banhos
eram raros e mal tomados, unhas e dentes sujos. O lodo era a regra. Mijava-se
em qualquer canto. Defecava-se longe de casa, nos quintais e terrenos
baldios, nos pés de bananeiras.
As ciências sociais em seus
estudos sobre a higiene, motivadas pelo papel da higiene nos projetos eugênicos
e pelo uso dos discursos higiênicos em programas de urbanização autoritários;
utilizam o conceito de higienizar como faxina social.
Higienizar é traduzido como
repressão, dominação, conspiração da classe dominante, no mínimo, medidas para
anestesiar o ímpeto revolucionário da classe operária, ou na ausência, dos
oprimidos em geral. As ações da saúde pública, nesse viés, enquadraram-se
perfeitamente nesse manequim ideológico. Acredito, que boa parte dessa
blasfêmia, deve-se a leituras apressadas do marxismo.
Por outro lado, em Sergipe, devido ao
desleixo com a higiene pessoal, e a uma alimentação precária, os nossos
escolares pobres eram acometidos de: bicho de pé, frieira, terçol,
conjuntivite, sarna, lêndea, piolho, pulga, dermatite seborreica (caspa), tinea
corporis (impingem), tinea cruris (micose na virilha) e tinea pedis (pé de
atleta), pyteriase versicolor (pano branco), ancilostomíase (amarelão), áscaris
(lombriga), ameba, anemia, boqueira, dor de dente, halitose (fedor de boca),
dor de ouvido, unheiro, pelagra, nanismo, raquitismo, escorbuto, piodermite
(pereba), furunculose, fleimão (maldita), chulé, subaqueira, cegueira noturna,
oxiúros (caseira), infecção respiratória (catarro) e gastrenterite (diarreia ou
caganeira).
Muito da
mortalidade infantil decorreu da completa falta de higiene no momento do corte
do couto umbilical. Mãos sujas, tesouras infectadas, uso de fezes de galinha
como ungüento anti-hemorrágico, entre outras barbaridades, apressava a morte
dos anjinhos. Era o temido “mal dos sete dias”, ou simplesmente tétano
umbilical, que por ignorância e falta de higiene aumentava os habitantes do
“Limbo”.
O hábito
generalizado de se cuidar dos próprios ferimentos com cuspe ou com o mijo,
depende crença na eficácia dessas medidas era generalizada. A higiene
infantil europeias era muito acompanhada de resguardo e agasalho. O medo do
vento (do ar, seja quente ou frio).
Essas doenças estão relacionadas com a
precariedade da higiene pessoal. Uma ampla campanha de educação sanitária,
entre 1940 a 1970, realizada pelas escolas brasileiras, mudaram os hábitos de
higiene pessoal, reduzindo essas doenças a raridades históricas. Não foram os
sanitaristas (éramos poucos). Uma parte desse trabalho educativo foi das
visitadoras sanitárias. Mas uma parte pequena.
A educação sanitária passou a ser a principal
estratégia na divulgação dos preceitos da higiene, a escola o local
privilegiado para essa difusão e o professorado o principal aliado. O carro
chefe dessa mudança foi a escola. Foram as professoras que desencadearam uma
fiscalização rigorosa em cada aluno.
Na chegada, o aluno passava por uma
vistoria, para saber se tomou banho e escovou os dentes. A professora inspecionava
unhas, orelhas, pescoço, orifícios, cabelos, encontrando lodo, a mãe era
chamada e notificada para providências. Com vergonha a exposição pública, as
incorporavam hábitos de higiene até então ignorados. A eficácia do novo padrão de higiene dos
escolares, levou a atual geração desconhecer as pulgas e até os piolhos.
A frequente infestação por piolhos era
compensada pela deliciosa operação de cafuné na ineficaz tentativa de diminuir
a população de parasitas. A cata, tanto podia ter como prioridade os insetos
adultos, como a procura dos ovos fixados na raiz dos cabelos, carinhosamente
chamados de lêndeas. Tardes inteiras foram ocupadas na impossível tarefa de erradicação
manual dos prolíficos reprodutores. Os piolhos, quando encontrados, eram
esmagados entre as unhas das catadoras num estalido característico.
Outro método bastante usado na caça aos
insistentes parasitas era a aplicação de banha de porco nos cabelos e posterior
alisamento com o pente fino. Colocava-se uma pequena toalha no colo para não
deixar que os piolhos e ovos caídos do pentear não se espalhassem pelo resto da
casa. Uma vez removidos, os pequenos insetos eram triturados mecanicamente com
as unhas, resultando numa massa imunda de pus e sangue, quase nunca removidas,
pois o modesto hábito de se lavar as mãos com água e sabão, era pouco
apreciado.
Com o desenvolvimento da indústria
química o combate aos piolhos ganhou eficácia. Aplicava-se o velho e perigoso
DDT (diclorodifeniltricloretano), (Neocid Pó – derivado do DDT), diretamente no
couro cabeludo, envolvia-se a cabeça com um pano, e deixava-se o veneno agindo
por vinte e quatro horas. O desconforto, os riscos de contaminação e o mau
cheiro eram recompensados pelo fim da estigmatizante parasitose. Era
aconselhado repetir-se essa bárbara operação com oito dias, pois os ovos não
eram atingidos pelo inseticida.
O DDT (diclorodifeniltricloretano),
potente veneno utilizado no terceiro mundo para o controle de pragas e
endemias, altamente solúvel na água e na gordura, que permanece por mais de
vinte anos com sua estrutura molecular inalterada, e que foi encontrado no
tecido de animais no Ártico, o que prova que todo planeta está contaminado.
Absorvido pela pele ou nos alimentos, o
acúmulo de DDT no organismo humano está relacionado com doenças do fígado, como
a cirrose e o câncer. O uso indiscriminado e descontrolado do DDT fez com que o
leite humano, em algumas regiões dos EUA chegasse a apresentar mais inseticida
do que o permitido por lei no leite de vaca.
DDT: Inseticida organoclorado que se
acumula no tecido adiposo e na cadeia alimentar. São da mesma família o DDE, o
DDD e o BHC. Tais pesticidas são considerados carcinogênicos (que levam ao câncer),
teratogênicos (que causam danos ao embrião durante a gravidez), além de
desregular o sistema endócrino.
O DDT foi muito utilizado em guerras
para a prevenção de soldados contra pulgas, os vetores do Tifo. Hoje o uso do
DDT é proibido em todos os países, pelas suas propriedades cumulativas,
carcinogênicas e teratogênicas.
Antonio Samarone
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