sexta-feira, 14 de setembro de 2018

SAÚDE PÚBLICA E HIGIENE EM SERGIPE...



Saúde Pública e Higiene em Sergipe. (Por Antonio Samarone.

Higiene é a medicina preventiva. Na mitologia grega, as filhas de Asclépios, Higéia e Panacéia, cuidavam respectivamente da prevenção da cura. A higiene foi subdividida em vários ramos: a higiene pública, do trabalho, industrial, escolar, pessoal, etc.

A higiene é, em última instância, a utilização de mecanismos proteção à Saúde. Vamos comentar um pouco sobre a higiene pessoal, a mais conhecida. Os cuidados com o asseio e a limpeza do corpo.

A higiene pessoal nos primórdios da humanidade estava relacionada com a religiosidade. Segundo Rosen: “As pessoas se mantinham limpas para se apresentarem puras aos olhos dos deuses, e não por razões higiênicas.

Minha geração alcançou o descaso com os hábitos higiênicos da população em geral. Os banhos eram raros e mal tomados, unhas e dentes sujos. O lodo era a regra. Mijava-se em qualquer canto. Defecava-se longe de casa, nos quintais e terrenos baldios, nos pés de bananeiras.

As ciências sociais em seus estudos sobre a higiene, motivadas pelo papel da higiene nos projetos eugênicos e pelo uso dos discursos higiênicos em programas de urbanização autoritários; utilizam o conceito de higienizar como faxina social.

Higienizar é traduzido como repressão, dominação, conspiração da classe dominante, no mínimo, medidas para anestesiar o ímpeto revolucionário da classe operária, ou na ausência, dos oprimidos em geral. As ações da saúde pública, nesse viés, enquadraram-se perfeitamente nesse manequim ideológico. Acredito, que boa parte dessa blasfêmia, deve-se a leituras apressadas do marxismo.

Por outro lado, em Sergipe, devido ao desleixo com a higiene pessoal, e a uma alimentação precária, os nossos escolares pobres eram acometidos de: bicho de pé, frieira, terçol, conjuntivite, sarna, lêndea, piolho, pulga, dermatite seborreica (caspa), tinea corporis (impingem), tinea cruris (micose na virilha) e tinea pedis (pé de atleta), pyteriase versicolor (pano branco), ancilostomíase (amarelão), áscaris (lombriga), ameba, anemia, boqueira, dor de dente, halitose (fedor de boca), dor de ouvido, unheiro, pelagra, nanismo, raquitismo, escorbuto, piodermite (pereba), furunculose, fleimão (maldita), chulé, subaqueira, cegueira noturna, oxiúros (caseira), infecção respiratória (catarro) e gastrenterite (diarreia ou caganeira).

Muito da mortalidade infantil decorreu da completa falta de higiene no momento do corte do couto umbilical. Mãos sujas, tesouras infectadas, uso de fezes de galinha como ungüento anti-hemorrágico, entre outras barbaridades, apressava a morte dos anjinhos. Era o temido “mal dos sete dias”, ou simplesmente tétano umbilical, que por ignorância e falta de higiene aumentava os habitantes do “Limbo”.

O hábito generalizado de se cuidar dos próprios ferimentos com cuspe ou com o mijo, depende crença na eficácia dessas medidas era generalizada. A higiene infantil europeias era muito acompanhada de resguardo e agasalho. O medo do vento (do ar, seja quente ou frio).

Essas doenças estão relacionadas com a precariedade da higiene pessoal. Uma ampla campanha de educação sanitária, entre 1940 a 1970, realizada pelas escolas brasileiras, mudaram os hábitos de higiene pessoal, reduzindo essas doenças a raridades históricas. Não foram os sanitaristas (éramos poucos). Uma parte desse trabalho educativo foi das visitadoras sanitárias. Mas uma parte pequena.

A educação sanitária passou a ser a principal estratégia na divulgação dos preceitos da higiene, a escola o local privilegiado para essa difusão e o professorado o principal aliado. O carro chefe dessa mudança foi a escola. Foram as professoras que desencadearam uma fiscalização rigorosa em cada aluno.

Na chegada, o aluno passava por uma vistoria, para saber se tomou banho e escovou os dentes. A professora inspecionava unhas, orelhas, pescoço, orifícios, cabelos, encontrando lodo, a mãe era chamada e notificada para providências. Com vergonha a exposição pública, as incorporavam hábitos de higiene até então ignorados. A eficácia do novo padrão de higiene dos escolares, levou a atual geração desconhecer as pulgas e até os piolhos. 

A frequente infestação por piolhos era compensada pela deliciosa operação de cafuné na ineficaz tentativa de diminuir a população de parasitas. A cata, tanto podia ter como prioridade os insetos adultos, como a procura dos ovos fixados na raiz dos cabelos, carinhosamente chamados de lêndeas. Tardes inteiras foram ocupadas na impossível tarefa de erradicação manual dos prolíficos reprodutores. Os piolhos, quando encontrados, eram esmagados entre as unhas das catadoras num estalido característico.

Outro método bastante usado na caça aos insistentes parasitas era a aplicação de banha de porco nos cabelos e posterior alisamento com o pente fino. Colocava-se uma pequena toalha no colo para não deixar que os piolhos e ovos caídos do pentear não se espalhassem pelo resto da casa. Uma vez removidos, os pequenos insetos eram triturados mecanicamente com as unhas, resultando numa massa imunda de pus e sangue, quase nunca removidas, pois o modesto hábito de se lavar as mãos com água e sabão, era pouco apreciado.

Com o desenvolvimento da indústria química o combate aos piolhos ganhou eficácia. Aplicava-se o velho e perigoso DDT (diclorodifeniltricloretano), (Neocid Pó – derivado do DDT), diretamente no couro cabeludo, envolvia-se a cabeça com um pano, e deixava-se o veneno agindo por vinte e quatro horas. O desconforto, os riscos de contaminação e o mau cheiro eram recompensados pelo fim da estigmatizante parasitose. Era aconselhado repetir-se essa bárbara operação com oito dias, pois os ovos não eram atingidos pelo inseticida.

O DDT (diclorodifeniltricloretano), potente veneno utilizado no terceiro mundo para o controle de pragas e endemias, altamente solúvel na água e na gordura, que permanece por mais de vinte anos com sua estrutura molecular inalterada, e que foi encontrado no tecido de animais no Ártico, o que prova que todo planeta está contaminado.

Absorvido pela pele ou nos alimentos, o acúmulo de DDT no organismo humano está relacionado com doenças do fígado, como a cirrose e o câncer. O uso indiscriminado e descontrolado do DDT fez com que o leite humano, em algumas regiões dos EUA chegasse a apresentar mais inseticida do que o permitido por lei no leite de vaca.

DDT: Inseticida organoclorado que se acumula no tecido adiposo e na cadeia alimentar. São da mesma família o DDE, o DDD e o BHC. Tais pesticidas são considerados carcinogênicos (que levam ao câncer), teratogênicos (que causam danos ao embrião durante a gravidez), além de desregular o sistema endócrino.

O DDT foi muito utilizado em guerras para a prevenção de soldados contra pulgas, os vetores do Tifo. Hoje o uso do DDT é proibido em todos os países, pelas suas propriedades cumulativas, carcinogênicas e teratogênicas.
Antonio Samarone

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