O messianismo bolsonariano
A descrença nas instituições
republicanas, o desengano com a democracia, o desprestígio dos partidos
políticos, visíveis desde as jornadas de junho de 2013, favorecem as saídas
messiânicas. A crença que um líder (um mito), venha nos redimir. O Brasil, que
não tinha mais jeito, agora encontrou um salvador da pátria.
O Messias bolsonariano não prega
nenhuma novidade: diz, através de Paulo Guedes, que vai retomar o
desenvolvimento econômico reduzindo o tamanho do estado e privatizando. Um
neoliberalismo requentado. Anuncia o aprofundamento do corte nos direitos trabalhistas
e sociais, sobretudo na previdência. A sociedade será salva pela mão invisível
do mercado. A mesma receita do Temer, talvez numa dose mais alta.
O Jair Messias prega que a
violência será resolvida com mais violência, numa formula simplória: armar os
que estão desarmados. Simbolicamente, ele sempre aparece simulando estar atirando
com um fuzil. Numa sociedade assombrada com a violência, isso parece uma
alternativa eficaz. É o modelo do faroeste americano, ou na retomada das volantes,
do tempo do cangaço.
O salvador da pátria promete impor
uma nova ordem nas instituições, nas famílias, nos costumes e nos
comportamentos. Claro, essa promessa de um Brasil novo é fantasiosa e
inexequível.
Nas escolas, será imposta uma
disciplina militar, passando a ilusão que a melhoria da qualidade do ensino vem
por acréscimo. Esses milagres autoritários são acompanhados de amplas
restrições do pensamento, da supressão da liberdade e da censura à imprensa. Os
sinais que essa aventura é um voo cego são evidentes.
Mas nada disso persuade os seguidores
do mito. A crença em salvadores da pátria é antiga no Brasil. Uma herança
sebastianista. Os crentes em Reinos Encantados, obra de um Messias, sempre
foram gente simples e populações marginalizadas. Essas crenças eram atribuídas
a ignorância dos beatos e seguidores.
Esse messianismo de mercado, dessacralizado,
está sendo abraçado por gente que frequentou a escola, de certa forma, gente
bem informada (essa é a novidade). Por enquanto, a onda bolsonariana é uma manifestação
majoritária de classe média, da burguesia cabocla e de parte da juventude. Gente
de boa-fé, onde as palavras de ordem nas manifestações – “Eu, vim de graça”; e “mito”
– dizem muito do ideário do movimento. Aguardam o aval do mercado financeiro e
da rede globo.
É gente instruída acreditando em milagres,
seguindo um salvador da pátria. Gente que desacredita no Brasil, e que começa a
emergir do milenar silencio político. Uma parte crer que Bolsonaro seja mesmo
uma saída e vai consertar o Brasil; outra, tem dúvidas, mas não quer o PT de
volta. É visível a migração do “voto útil” pela direita; a migração de votos de
Alckmin, Marina, Álvaro Dias, Meirelles e Amoedo para Bolsonaro. Os mais
apaixonados acreditam que ele pode ganhar no primeiro turno.
Antonio Samarone.
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