sexta-feira, 18 de agosto de 2017

O NEGÓCIO DA SAÚDE (primeiro episódio)


O NEGÓCIO DA SAÚDE...  (Primeiro episódio)

A saúde tornou-se o bem mais desejado da humanidade (já foi a salvação da alma). Não conheço quem prefira a doença. Qualquer produto ou serviço que prometa manter ou recuperar a saúde passou a ser consumido com avidez. Medicamentos, exames, alimentos, Spa, exercícios, assistência médica, massagens, produtos naturais, autoajuda, etc. O capitalismo logo descobriu que existia muita gente disposta a comprar a saúde a qualquer preço. Isso não podia ficar em mãos de amadores. A primeira linha de produtos a virar mercadoria no setor saúde foram os remédios. Logo após a Segunda Guerra, o que antes era produzido artesanalmente por farmacêuticos, em pequenos laboratórios; prescritos levando-se em conta a individualidade de cada paciente; passou a ser produzido industrialmente, em larga escala, assumindo a condição de mercadoria. Para isso, os medicamentos foram padronizados, receberam uma marca comercial, e passaram a ser consumido por todos nas mesmas composições e dosagens. Parece que deu certo, tem idosos consumindo diariamente dezenas de medicamentos.

Essa consolidação do setor saúde como atividade econômica, criou novos mercados, novas ocupações, novos consumidores. Ninguém tem mais sossego com o bombardeio da mídia, ouvindo especialistas a ensinar o que devemos comer ou deixar de comer. As orientações, sempre em tom professoral, são acompanhadas do aval científico: esse alimento elimina o colesterol, aquele evita a queda de cabelo, esse outro retarda o envelhecimento, reativa a libido; e por aí vai. Não importa se a pesquisa existiu mesmo, se foi uma pesquisa criteriosa ou de encomenda, nada, basta citar: uma pesquisa feita na Austrália descobriu isto ou aquilo... quem vai conferir? Basta a fé. É o mesmo que um crente querer conferir se tradução da bíblia do aramaico está correta. Também não importa se o certo e o errado, o que pode e o que não pode mudem a cada 24 horas. Quem vai se preocupar com coerência. O ovo, a banha de porco, carnes vermelhas, as gorduras, passam de veneno a salvação num simples bater de olhos. O mercado tá se lixando, desde que os lucros não cessem. O meu receio é que a ciência descubra que a vida saudável só é possível comendo-se capim. Pela idade, acho que o pastar agravaria a minha dor nas costas.

A esperança de uma vida saudável tem levado muita gente ao sacrifício de certas dietas, verdadeiras penitências. O que antes servia para a absolvição dos pecados ou concessão de alguma glória, hoje serve para a eliminação de gorduras. O ritual é o mesmo. A salvação da alma ou do corpo seguem os mesmos caminhos. Até o velho sentimento de culpa é o mesmo. Muda-se a dúvida: fazer isso é pecado/comer isso pode? E quando se come o que não se pode o arrependimento bate na hora, profundo. Foi a última vez; amanhã (ou segunda) eu começo a dieta para valer. As seitas proliferam: os “vigilantes do peso” e os “seguidores do Shakes dos últimos dias” são as que mais cresceram. O mercado das dietas é absoluto. Se não der certo é porque o infeliz não obedeceu às regras, não teve força de vontade, portanto, não é merecedor da graça da saúde. A culpa é sempre do pecador.
Antônio Samarone.

(Segue...)

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