O
NEGÓCIO DA SAÚDE... (Primeiro episódio)
A
saúde tornou-se o bem mais desejado da humanidade (já foi a salvação da alma).
Não conheço quem prefira a doença. Qualquer produto ou serviço que prometa
manter ou recuperar a saúde passou a ser consumido com avidez. Medicamentos,
exames, alimentos, Spa, exercícios, assistência médica, massagens, produtos
naturais, autoajuda, etc. O capitalismo logo descobriu que existia muita gente
disposta a comprar a saúde a qualquer preço. Isso não podia ficar em mãos de
amadores. A primeira linha de produtos a virar mercadoria no setor saúde foram
os remédios. Logo após a Segunda Guerra, o que antes era produzido
artesanalmente por farmacêuticos, em pequenos laboratórios; prescritos
levando-se em conta a individualidade de cada paciente; passou a ser produzido
industrialmente, em larga escala, assumindo a condição de mercadoria. Para
isso, os medicamentos foram padronizados, receberam uma marca comercial, e
passaram a ser consumido por todos nas mesmas composições e dosagens. Parece
que deu certo, tem idosos consumindo diariamente dezenas de medicamentos.
Essa
consolidação do setor saúde como atividade econômica, criou novos mercados,
novas ocupações, novos consumidores. Ninguém tem mais sossego com o bombardeio
da mídia, ouvindo especialistas a ensinar o que devemos comer ou deixar de
comer. As orientações, sempre em tom professoral, são acompanhadas do aval
científico: esse alimento elimina o colesterol, aquele evita a queda de cabelo,
esse outro retarda o envelhecimento, reativa a libido; e por aí vai. Não importa
se a pesquisa existiu mesmo, se foi uma pesquisa criteriosa ou de encomenda, nada,
basta citar: uma pesquisa feita na Austrália descobriu isto ou aquilo... quem
vai conferir? Basta a fé. É o mesmo que um crente querer conferir se tradução
da bíblia do aramaico está correta. Também não importa se o certo e o errado, o
que pode e o que não pode mudem a cada 24 horas. Quem vai se preocupar com coerência.
O ovo, a banha de porco, carnes vermelhas, as gorduras, passam de veneno a
salvação num simples bater de olhos. O mercado tá se lixando, desde que os
lucros não cessem. O meu receio é que a ciência descubra que a vida saudável só
é possível comendo-se capim. Pela idade, acho que o pastar agravaria a minha
dor nas costas.
A
esperança de uma vida saudável tem levado muita gente ao sacrifício de certas
dietas, verdadeiras penitências. O que antes servia para a absolvição dos
pecados ou concessão de alguma glória, hoje serve para a eliminação de
gorduras. O ritual é o mesmo. A salvação da alma ou do corpo seguem os mesmos
caminhos. Até o velho sentimento de culpa é o mesmo. Muda-se a dúvida: fazer
isso é pecado/comer isso pode? E quando se come o que não se pode o
arrependimento bate na hora, profundo. Foi a última vez; amanhã (ou segunda) eu
começo a dieta para valer. As seitas proliferam: os “vigilantes do peso” e os “seguidores
do Shakes dos últimos dias” são as que mais cresceram. O mercado das dietas é
absoluto. Se não der certo é porque o infeliz não obedeceu às regras, não teve
força de vontade, portanto, não é merecedor da graça da saúde. A culpa é sempre
do pecador.
Antônio
Samarone.
(Segue...)
Nenhum comentário:
Postar um comentário