Dr. Hélio
Araújo (73 anos) – O primeiro neurocirurgião de Sergipe. Natural de Riachão do Dantas, filho de seu Adel, de família de seleiros de Simão Dias, e de dona
Helena. Nasceu em 24 de maio de 1944. Fez o primário na Escola Reunida
Comendador Dantas e no Grupo Escolar Lourival Fontes. O ensino em Riachão
estava restrito ao primário, os meninos pobres estavam condenados a parar por
aí. A família começou a procurar uma saída, um tio arrumou uma bolsa de estudos
e veio morar na casa de uma prima em Aracaju, com uma condição, se não
estudasse voltava. Em 1957 iniciou o Ginásio no Colégio Jackson de Figueiredo
(guardou o medo da professora Judite) e concluiu no Atheneu.
Hélio
Araújo chegou no Atheneu em 1959 e saiu em 1963, numa fase de ebulição
política. Participou do movimento estudantil, das passeatas, agitações, do CPC
da UNE, envolveu-se e acreditou que poderia mudar o Brasil, como tantos da sua
geração. Ao mesmo tempo, estudava e tirava boas notas. Tomou gosto pela leitura
desde jovem. Nessa entrevista fez questão de nos mostrar a sua biblioteca que,
pelos livros, revela a profundidade da sua cultura. O dr. Hélio cultiva a boa
música, possui uma educação musical adquirida com a professora Cândida Ribeiro
no Colégio Atheneu. Isso mesmo, ensinava-se “canto orfeônico”, uma ideia de
Villa Lobos que foi implantada nas escolas públicas.
A
decisão de ser médico foi tomada muito cedo. Em 1952, ocorreu um surto de febre
tifoide em Riachão, com quatro membros de sua família afetados, à beira da
morte. A família recorreu ao dr. Bernardino Mittidiere. Mesmo com recursos
escassos, o cloranfenicol ainda não tinha chegado a Sergipe, o dr. Mittidiere
com a sua experiencia clínica, dedicação, postura humana, conseguiu livrar da
morte quem já estava com o pé na cova. O exemplo do dr. Bernardino tocou Hélio
Araújo que decidiu que seria médico, com apenas oito anos.
Hélio
Araújo entrou na faculdade de medicina de Sergipe em 02 de março de 1964, no
dia 31 já estava nas ruas na ilusão de que os estudantes poderiam conter o
golpe. Em 1966 entrou na Ação Popular (AP), uma organização de esquerda
organizada pelos militantes da Juventude Universitária Católica (JUC). Hélio
foi o quarto presidente do Centro Acadêmico Augusto Leite. Durante a formação
médica acompanhou inicialmente o dr. Oswaldo Leite, em seu ambulatório de
oncologia. Depois seguiu os drs. Francisco Bragança e Fernando Felizola, numa
formação cirúrgica de qualidade. Após um estágio realizado em Recife, decidiu
que seria neurocirurgião. Como estudante assistiu e filmou a última cirurgia do
dr. Augusto Leite, uma histerectomia. Contudo, esse filme que documentou a despedida
do maior nome da medicina em Sergipe no século XX encontra-se desaparecido.
A
formatura de Hélio Araújo estava marcada para 18/12/1969, entretanto, devido a
morte do Presidente Costa e Silva, foi transferida para 28 de dezembro. Hélio
ficou com medo de não se formar, pois durante o curso, a ditadura determinou a
expulsão de alguns alunos considerados subversivos da Universidade, e do curso
de medicina estavam na lista Ilma Fontes, Janete Figueiredo, Marinice Martins e
Hélio Araújo; a expulsão não ocorreu devido à resistência decidida do Reitor
João Cardoso do Nascimento Junior. A formatura foi um atropelo, pois no dia 02
de janeiro ele deveria apresentar-se no Hospital dos Servidores do Rio de
Janeiro para iniciar a residência médica em neurocirurgia. Retornou à Sergipe
em 1972, e procurou montar um serviço no Hospital São José, não obtendo
sucesso. Terminou montando o primeiro serviço de neurocirurgia de Sergipe no
velho Hospital de Cirurgia.
Em
1973, foi aprovado no concurso para professor da Faculdade de Medicina mas teve
a sua nomeação protelada pelas forças do SNI dentro da UFS, tomando posse
somente em 1974. Teve uma participação ativa como professor, ocupando vários
cargos na gestão da faculdade, sempre como posições firmes, e aberto ao diálogo
com os estudantes. Hélio Araújo foi uma referência para o movimento estudantil
de medicina da UFS. Em 1977, Hélio Araújo foi aprovado no concurso para médico
do INAMPS. Em 1974, casou-se com a
médica e também professora de medicina dra. Izabel Maynart, tendo três filhos, Alcides,
biólogo, Aída, dentista, e Arthur, neurocirurgião; e uma neta, Rafaela.
ANTONIO SAMARONE.
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