quinta-feira, 11 de janeiro de 2024
MITOS RACIAIS
Mitos raciais.
(por Antonio Samarone)
Cresci ouvindo três falsas verdades: Itabaiana não tem negros, um ou outro, era de fora; descendemos dos holandeses, com forte presença do sangue judaico.
O meu pai, pardo de olhos verdes, era tido como descendente de holandeses (Feltre Bezerra, desmentiu).
A lenda judaica, dava-se pela destreza dos itabaianenses nos negócios, virtude atribuída aos judeus.
Judeus, em Itabaiana, só conheci Pulga de Cós.
E sobre os negros?
Como não temos negros? Os meus amigos eram quase todos pretos, ou quase pretos. Os galegos eram poucos. O Beco Novo não tinha poucos brancos.
Entre as esquinas do Bar de João Criano e a bodega de Dona Rosita, três quarteirões, 90% eram negros. Branco no Beco Novo, só a família de Dona Branquinha, a de João de Anjinho e a de Seu Evilásio, da FSESP.
Consultei o historiador Almeida Bispo: Itabaiana tem ou não negros? Ele me apresentou os resultados do Censo de 1871: “Itabaiana possuia 3.295 pessoas escravizadas, Capela 3.171 e Laranjeiras 3.006. Para onde foi esse povo?”
O pesquisador Wanderlei Menezes me chamou a atenção: o único sergipano reconhecido, nacionalmente, na luta pela libertação dos escravos, foi o itabaianense Quintino de Lacerda.
João Mulungu, o maior herói negro de Sergipe, é de Itabaiana.
O historiador Lima Junior, o maestro Antonio Silva (foto), Bento das Flechas, o farmacêutico Moises, Jovino, e tantos outros que estou esquecendo.
Essa conversa comprida, só para contar uma novidade: em setembro de 2001, a Câmara Municipal de Itabaiana, aprovou a lei 965, reconhecendo Quintino de Lacerda, um herói negro do município, e estabeleceu o 08 de junho (o dia do seu nascimento), como o dia municipal da consciência negra.
Procurei saber, sem sucesso, de quem foi a iniciativa parlamentar.
Certo, esqueceram a lei e nunca houve a sua comemoração. Esse ano de 2024, vamos procurar cumpri-la, homenageando os negros de Itabaiana. Vou convidar o líder negro Severo D’Acelino.
Antonio Samarone – médico sanitarista.
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